Ações e reações

18/01/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Minha mãe sempre me ensinou que para cada ação há uma reação. Depois descobri que um tal de Sir Isaac Newton já tinha pensado o mesmo. E antes dele, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Para cada ação, uma reação. Fiz algo bom, receberei por isso. E vice-versa.

Por incrível que pareça, sou a prova viva de que isso é real. Toda vez que cometo um erro, batata: o resultado é devastador. E vice-versa.

A gente sabe, na verdade, quando faz algo bom ou ruim. Sabemos quando o certo prevalece. E sabemos que a vingança vem a cavalo. E viver é tentar se equilibrar nas consequências de seus atos, aguentando-as, sejam boas ou ruins.

Em sã consciência, como podemos entender que ações violentas podem ter consequências boas?

Eu particularmente já tinha ficado estarrecido com as imagens  da invasão do Capitólio, nos EUA, há cerca de dois anos. E mais ainda triste quando fiquei sabendo que cinco policiais haviam cometido suicídio. Não suportaram ter de avançar sobre conterrâneos.

Dessa vez, com as manifestações aqui no Brasil, quantas coisas feias e ruins aconteceram; sofri perseguições pelo que escrevo aqui, incompreensões de pessoas que me amavam. O pai de um dos meus melhores e mais antigos amigos, um cara que era como pai para mim. Eu pedi, implorei: não me mande mais coisas a favor de Bolsonaro, por Deus. Um belo dia, ele responde "Não vô" . Estupefato, exigi e lhe disse que o bloquearia mesmo. A resposta foi: "Bloqueia sim. E aproveita e nos esqueça"

Meu Deus. O pai do meu melhor amigo. Uma pessoa que me conhece há mais de 35 anos. Viajamos juntos, rimos, choramos. Nada disso valeu.

E em quantos núcleos familiares isso se repetiu. Pais que abandonaram filhos, famílias. Desistiram de ver a Copa. De rir. De ver seus familiares. Medo, medo, medo. O amigo, o colega de trabalho, o padeiro, o advogado... até pastor, padre. Perdoai, Senhor.

Golpistas que ficaram esperando reações. Intentonas a cada 72 horas. Prazo acabava, mais 72 horas.

Bom... muitos desistiram. Outros foram à Brasília, para ocupar o centro do poder à força. Ocuparam, destruíram. Sujaram E depois achavam que iam se safar.

Descolados completamente da realidade, são algemados, encarcerados e tratados como presos.Mas os celulares ficaram. E encheram a estadia

Eles não entenderam. Querem wi-fi. Ar condicionado. Regalias. E, pasmem: reclamam da falta de direitos humanos.  Pois é, os mesmos que exigem o fim da maioridade penal, que bandido bom é bandido morto.

Como chegamos a isso? Como nos perdemos? Lembro então de Dante Alighieri, n'A Divina Comédia, chegando ao inferno:

"No meio do caminho desta vida

me vi perdido numa selva escura,

solitário, sem sol e sem saída.

Ah, como armar no ar uma figura

desta selva selvagem, dura, forte,

que, só de eu a pensar, me desfigura?

É quase tão amargo como a morte;

mas para expor o bem que encontrei,

outros dados darei da minha sorte.

Não me recordo ao certo como entrei,

tomado de uma sonolência estranha,

quando a vera vereda abandonei."

Pois é. quando abandonamos a vera vereda? Será que estamos acordando dessa sonolência estranha?

Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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