Fatos recorrentes no início de todos os anos são os dispêndios dos consumidores com o pagamento do IPVA; matrícula dos filhos e materiais escolares e o IPTU, compromissos que absorvem as eventuais reservas precaucionais realizadas, aliás, o que ocorre de forma escassa e, também, com os recursos das rendas mensais dos cidadãos.
À exceção dos supermercados e equivalentes, normalmente os demais setores do comércio sentem quedas acentuadas em suas vendas, com uma desova lenta de seus estoques que, como consequência, não são repostos de imediato, afetando também a atividade industrial que opera mais lentamente no primeiro trimestre de cada ano.
Essa realidade se traduz em um menor ritmo da atividade econômica no País, com baixo crescimento do PIB – Produto Interno Bruto, isso quando não decai em relação ao mesmo período do ano anterior e, consequentemente, com uma queda na arrecadação de tributos, causando déficits público.
Quando acontece, como agora, uma troca de governo, ocorre, automaticamente, iniciativas ministeriais que exigem uma elevação das despesas e o déficit aumenta, provocando uma reação de temor pelo "mercado", cuja leitura é a de que a taxa básica de juros, a Selic, será mantida ou aumentada pelo Banco Central; o dólar tende a permanecer valorizado, ou seja, a moeda nacional desvalorizada; os investimentos privados evoluem bem mais cautelosamente e a geração de empregos fica paralisada ou, pior, quando o desemprego aumenta.
Não se trata de um cenário pessimista, mas sim, real e que, efetivamente deverá ocorrer.
Com trinta e sete ministérios, a governança será muito difícil e a demanda por recursos extremamente elevada. O ministro da Fazenda e o presidente Lula terão que ter "mãos" de ferro para administrar os recursos escassos; arbitrar e eleger as prioridades do Governo, combinado o econômico com o social.
Até aqui, analisamos a economia considerando apenas as variáveis internas e os reflexos do comportamento dos Agentes Econômicos e seus efeitos, entre outros, no orçamento público e suas implicações. Não se pode, todavia, deixar de considerar o cenário internacional e seus reflexos na economia global e, em especial, no Brasil.
Os Estados Unidos cresceram no ano passado, aproximadamente, 2,8 %, com tendências de menor crescimento neste ano em decorrência de uma inflação maior que a nossa, cerca de 6,0 % e juros elevados; a China, com sérios problemas no setor de construção civil e elevado nível de contágio do Covid-19; cresceu em 2022 em nível de 4,0 %, com tendência de menor crescimento em 2023; a Europa experimentou um crescimento próximo de 1,5 %; inflação média de 8,0 % a 10,0 %; a Inglaterra com uma inflação superior a 10,0 % e um crescimento de apenas 1,0 %, quando muito.
O que é possível antever é que, à exceção do agronegócio, o comércio internacional e os investimentos externos em ativo fixo, tendem a um menor nível neste ano, o que, obviamente, não será bom para o Brasil.
Messias Mercadante de Castro é professor de economia e consultor de empresa (messiasmercadante@terra.com.br)