MORADIA

Além de famílias, vielas abrigam insegurança e preconceito

Por Luana Nascimbene | Jornal de Jundiaí
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Divulgação
Para trazer sensação de segurança, algumas vielas possuem portões com cadeados
Para trazer sensação de segurança, algumas vielas possuem portões com cadeados

Entre as passagens estreitas que ligam uma rua a outra, conhecidas como vielas ou becos, é possível encontrar moradias construídas em meio ao caminho. Famílias precisam lidar com insegurança e preconceito para entrar ou sair de suas casas.

Geralmente, casas em vielas são discretas e, por fora, é possível observar apenas a porta de entrada e janelas em frente às longas paredes que percorrem todo caminho até a próxima rua.

Na maioria dos casos, pessoas se mudam para dentro de vielas por necessidades, sejam financeiras ou por falta de outros tipos de residências no bairro desejado. De acordo com o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Crecisp), José Augusto Viana Neto, estes imóveis não são planejados e não possuem valor comercial. "Assim como existem as vielas planejadas, que são como pequenas vilas construídas de forma organizada, também existem as vielas que não foram planejadas e não possuem valor comercial. Estes becos, na maioria dos casos, acabam sendo construídos por falta de espaço em alguns bairros", explica Neto.

As vielas sempre foram comuns entre os anos 1940 e 1950 e se tornaram habitações populares nos últimos anos. "Estas construções começaram a retornar nos últimos anos, mas, ao contrário das vielas planejadas, as pessoas geralmente se mudam para estes lugares por falta de condições financeiras", diz.

INSEGURANÇA

A principal reclamação que moradores de casas em vielas fazem é em relação à falta de segurança, principalmente no período noturno e também pela falta de espaço para garagem. Para trazer sensação de segurança, algumas vielas possuem portões com cadeados na entrada e saída colocados pelos próprios habitantes.

Auxiliar de cozinha, Fátima Aparecida de Souza, de 55 anos, mora há sete anos em uma casa de viela no Jardim Bonfiglioli, em Jundiaí, e convive com medo de entrar e sair de casa à noite. "Fico todos os dias com a sensação de insegurança. Moro bem na saída de uma viela e toda noite alguns usuários de drogas e pessoas estranhas passam bem em frente à minha casa, alguns até dormem. Minha casa já foi arrombada enquanto eu não estava, às vezes batem na porta pedindo dinheiro, é um sofrimento diário. Tem semanas que eu não consigo dormir de preocupação", lamenta a moradora.

Fátima mora de aluguel e, por conta dos acontecimentos frequentes, pensa em se mudar do bairro. "Eu morava na Vila Nambi, mas precisei me mudar e o Bonfiglioli sempre foi um bairro tranquilo, então escolhi viver aqui. No começo, sempre foi um lugar totalmente sossegado, mas de um tempo para cá comecei a ter problemas em relação à segurança na viela. A sensação é de abandono", conta.

PRECONCEITO

Assim como a sensação de insegurança constante em percorrer pelas vielas, moradores também são, muitas vezes, discriminados por morarem nestes lugares, como é o caso da promotora de vendas Andrea Marques, de 42 anos, que se mudou para uma casa de viela no Jardim Bonfiglioli há um ano e oito meses. "Sempre tem preconceito por quem mora em vielas. Às vezes nem tanto pelos vizinhos e moradores do bairro, mas pelas pessoas de fora que vêm até o lugar que moramos e olham de forma discriminatória", diz Andréa.

Mesmo com os pontos negativos de se morar em vielas, Andrea também destaca as vantagens da moradia. "O principal ponto positivo é não ter barulho nenhum ao lado. Também não tive muitos problemas com a segurança, pois opto por pagar o guardinha para me acompanhar até minha casa à noite", explica Andrea.

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