Coragem e persistência

07/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

(Uma crônica de Ano Novo, pode ser lida ouvindo Final Feliz do Jorge Vercillo)

Quando eu era pequeno esperava ansioso pelo fim de semana, pois sabia que poderia jogar videogame até tarde. Sem ter que me preocupar com o horário de desligar pra ir dormir ou tomar banho. Não que aos fins de semana eu podia dormir a hora que quisesse e sem tomar banho, mas é que meus pais deixavam as regras mais flexíveis e eu podia jogar minha fita do Super Mario Bros 3 além da única hora que me era permitida na semana.

Era um jogo bem difícil e complexo, gastei horas, comprei revista com macetes, machuquei a ponta dos dedos, passei domingos inteiros com meus primos, mas conseguimos zerar o jogo depois quase dois meses tentando. Em uma época em que não existia memory card para salvar. Se você quisesse zerar um jogo era na raça, aprendendo as manhas errando e morrendo. Por vezes escondido da minha mãe deixei o console ligado pra não perder o ponto que havia chegado, por outras o videogame travou e precisei resetar e começar tudo de novo.

Mas me lembro do dia que zerei o jogo, por vezes o cartucho virou o meu troféu, minha alegria...

Minha lembrança de resistência e superação.

Mas é engraçado como em momentos diferentes da vida alguns ritos de passagem podem ter significados e até gostos diferentes. Eu digo isso pois sempre encarei essa sensação boa de virada de ano como um grande reset, um recomeço necessário.

Não é que a vida comece de novo a cada espaço de 365 dias, mas é que é sempre bom poder parar, tomar um fôlego e recomeçar, na certeza de ter o pique necessário para ir até o fim. Tipo aquele computador que começa a travar esperando uma boa formatação, aquele reset que vai eliminar o que não é mais necessário e deixar apenas o essencial pra seguir trabalhando bem.

Estou na primeira semana do ano escrevendo essa crônica, junto com ela algumas resoluções de início de ano, algumas metas que precisam estar claras no papel e em minha cabeça e acho que é sobre isso este texto, sobre essa sensação de recomeço que aquela contagem regressiva trás consigo, sobre os desejos renovados e o ânimo retomado para seguir a vida.

Sobre os fracassos que mandamos pra longe junto com a rolha do espumante que estouramos, seja na praia, no restaurante, ou mesmo no quintal de casa.

Dizem que é a época do ano em que consultórios de nutricionistas lotam, academias enchem e o número de matrículas em cursos de inglês simplesmente disparam. Talvez essa seja a questão, talvez as respostas sempre tenham estado conosco, o que precisávamos era de um empurrãozinho, um fôlego a mais...

Aquele reset tipo na minha época de criança onde tudo que eu precisava era desligar o videogame por um instante, assoprar a fita e deixar o Mário seguir obstinado como sempre em salvar sua princesa.

Talvez agora depois de grande, o Mário seja eu, a princesa meus objetivos, o castelo e seus inúmeros labirintos a vida e o Browser os desafios que encontramos todo dia.

Pode ser que minha metáfora seja um pouco exagerada, mas é que na vida, assim como no meu primeiro videogame, não existe botão de salve. É tudo uma questão de coragem e persistência.

Feliz ano novo!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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