Resolução de Ano Novo

31/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

(Pode ser lido ouvindo Ponto de Paz da Lauana Prado e do Maneva)

No início da vida adulta sempre falta casca, falta bagagem. Sobra o pensamento de que tudo são flores e que o primeiro beijo vai ser o amor da vida.

Sorte de quem concretiza essa utopia, experiência de quem não.

Por aqui sigo no segundo grupo, que inclusive é o maior. O grupo daqueles que vão aprendendo que não existe relacionamento sem alguma treta, algum problema. E nessa lógica de deduções mais furadas que aquela meia que eu usava a semana inteira nas aulas de educação física, passamos a achar que essa troca leve não existe. Mais uma vez admito que estava nesse grupo desesperançoso, vivendo a vida meio que no piloto automático, com o pé atrás e o coração na mão.

Porque que a gente se acostuma com menos do que aquilo que põe um sorriso no rosto, um frio na barriga e um quentinho no coração?

E foi aí que eu a encontrei, ela que não é perfeita, mas é perfeita pra mim. E essa perfeição não é nada demais, mas é sobre isso...

Sobre achar alguém que acha que a noite jogando truco e bebendo catuaba é tão boa quanto o dia que comemoramos dois anos juntos no Cocô Bambu. Sobre aquela parceria no sofá, ouvindo as chatices do trabalho, ou a bagunça que o gato aprontou. Tudo isso dentro de um abraço gostoso daqueles que fazem qualquer um se atrasar pro trabalho, pois todo mundo sabe que não existe nada mais gostoso que um abraço sincero. Nem aquele nhoque que sua avó italiana não revela o segredo da massa por nada.

Eu demorei tanto pra viver isso que agora fico até chateado com ela. Por que demorou tanto tempo? Por que se escondeu por todos esses anos? Eu sei que é bobo, inclusive porque foi toda essa trajetória que fez dela compatível comigo, que fez dela meu par perfeito, ou melhor, meu par certo, já que par perfeito é muito nome de filme da sessão da tarde. É que ela é boa demais pra ser comparada com filme de meio de tarde entre um programa de culinária e um de fofocas. Ela é aquela pré-estreia que gera filas e filas de espera, recorde de bilheteria e resenhas positivas dos maiores críticos de cinema. Ela é digna de Oscar, Grammy e até Nobel. Ela é essa mulher que para o trânsito, mas que come frango com a mão. Bebe vinho caro, mas adora uma cerveja em copo americano. Ela é tudo isso ao mesmo tempo.

Que bobagem essa nossa de achar que não dá pra ter tudo. Ela é meu tudo e eu digo isso enquanto fecho os olhos e a única coisa que me vem à mente é aquele sorriso que encanta qualquer mortal.

Que bobagem essa nossa de achar que não temos direito a desacelerar do lado de alguém tão incrível, que o trajeto é mais legal que a bandeirada na linha de chegada, que esse papo de ponto de paz só dá certo na música.

Pois eu já me decidi, minha resolução de ano novo é eu e ela assim juntinhos. Se ela quiser a gente come lentilha e pula ondinha, como até bacalhau. Afinal dizem que tudo isso é tradição.

Mas a tradição que quero mesmo pra minha vida é ela comigo, seja na praia, no sítio ou mesmo no quintal de casa.

Quando a gente descobre com quem quer passar, não importa o lugar.

Todo ano é novo, pois isso é amor, se redescobrir todo dia no olhar do outro.

Jefferson Ribeiro é escritor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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