O Natal impõe sérias reflexões

25/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

O Natal se constitui num momento de poesia e ternura para uns; de reflexão e fraternidade para outros. Há os que não  encontram nenhum sentido na data e há aqueles que, presos aos aspectos dominantes impostos pelo "marketing" consumista, só se preocupam com suas satisfações pessoais. Entretanto, a época natalina nos convoca a assumir o mundo como Jesus o avocou. Ele se fez homem para libertar a humanidade e revelar a todos o amor do Pai. "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos, e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4,18).

Como reflexão à ocasião, podemos dizer que o ser humano ainda não percebeu o quanto a vida é curta e, principalmente, a rapidez com que o tempo passa. Influenciado pelo sistema, que só valoriza os que têm dinheiro e poder, vive competindo com os outros e procurando angariar cada vez mais recursos para talvez se sentir maior ou melhor que as demais pessoas. Age apenas em função de suas próprias vantagens. Esquece-se das pequenas coisas, dos gestos simples e se afasta daqueles que não têm as mesmas condições. E o pior, esnoba-os ou os ignora.

Pratica constante e nitidamente atos de desigualdade, prepotência, empáfia e egoísmo, acreditando que é soberano, melhor que qualquer um e, por isso mesmo, tendo "o rei na barriga", tudo pode. Ledo engano. Próximo do fim da vida verificará que as suas verdades não passam de mentiras veladas; remonta o passado e surgem remorsos;  descobre que os amigos só se aproximaram por interesse;  procura, mas não acha qualquer relacionamento consistente e  descobre que a falsidade encobriu o manto de todos os que os cercaram.

Aprende muito tarde a maior de todas as lições: valorizou só a matéria e deixou a espiritualidade de lado. Assim, o seu legado é manifestamente frágil, vazio e inócuo, pois não prezou quaisquer dos valores reais: amizade sincera, simplicidade, solidariedade, amor ao próximo e respeito irrestrito aos indivíduos indistintamente. O seu passaporte para o outro lado acaba se vencendo e provavelmente não irá a lugar nenhum. Sua nova trajetória será de desencontros, infortúnio e absoluta solidão.

Vamos pensar muito nestes aspectos e circunstâncias. Talvez assim, trataremos os seres igualmente, sem quaisquer diferenças, lembrando que todos são idênticos perante Deus e que a nossa Constituição Federal dispõe que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação".

A celebração do Natal necessita ser assumida essencialmente naquilo que lhe é peculiar, ou seja, na força do amor que o Cristo, filho de Deus encarnado, trouxe à Terra. Convida-nos à conversão, que traduz sair de nós, das nossas comodidades e ambições, para colocar-nos na trilha dos desamparados, oprimidos e perseguidos. Desperta à partilha, à convivência pacífica e ao respeito ao próximo.

Assim, a sua comemoração litúrgica se revela num momento especial para renovarmos nossa fé e descobrirmos a dignidade de cada pessoa, mesmo porque, nascendo entre nós, Jesus nos mostrou seu desejo de entrar em comunhão conosco para mostrar que todos podem e devem igualmente satisfazer seus direitos e aspirações fundamentais.

Ao encerrarmos, invocamos Cora Coralina: "Enfeite a árvore de sua vida/ com guirlandas de gratidão!/ Coloque no coração laços de cetim/ rosa, amarelo, azul, carmim,/ Decore seu olhar com luzes brilhantes/ estendendo as cores em seu semblante/  Em sua lista de presentes/ em cada caixinha embrulhe/ um pedacinho de amor,/ carinho,/ ternura,/ reconciliação,/ perdão!/ Tem presente de montão/ no estoque do nosso coração/ e não custa um tostão!/ A hora é agora!/ Enfeite seu interior!/ Sejas diferente!/ Sejas reluzente!".

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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