Festas de fim de ano: quem não gosta é obrigado?

24/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Você já ouviu falar da síndrome de Grinch, aquele personagem verde ranzinza que quer roubar os presentes para acabar com o Natal de todos?  O termo Grinch não aparece nos manuais diagnósticos, portanto não pode ser dado como tal e muitos psicólogos consideram essa síndrome como um Transtorno Afetivo Sazonal.

Enquanto a grande maioria das pessoas se sente alegre e animada pela chegada da época de festas e comemorações do encerramento do ano no calendário gregoriano, em 31 de dezembro, quem é atingido pelo fenômeno costuma ficar triste, apático, estressado e ansioso ou apresenta outros sentimentos fortemente negativos, tendo verdadeira aversão a esses momentos. 

Nem sempre se  trata, porém, de uma possível síndrome, ainda que afetiva, ou significa que haja algo de errado com quem não curte essa época de festas. 

O mal estar pode vir de vários episódios traumáticos pelos quais as pessoas passaram durante essa época, como perdas irreparáveis ou brigas em família. A grande maioria dos casos, no entanto, vem de um lugar pouquíssimo comentado e discutido, que são as micro agressões sofridas durante os 365 dias por pessoas do convívio, gerando um acúmulo de stress no sistema nervoso que culmina com organização sintomática dos comportamentos de rejeição, seja os dirigidos a pessoas e parentes ou às celebrações.

Entende-se por micro agressões aquelas também chamadas de passivo agressivas, como indiretas, memes, ofensas em "tom de brincadeirinha", palavras e atitudes que desqualificam o ser humano por suas escolhas de vida que não correspondem à expectativa da maioria, bem como as conhecidas fofocas de plantão. Afinal, existe aquela velha máxima que sugere: “Se me falas mal de Pedro, sei mais sobre você do que de Pedro”. Estão aí os grupos de zap que não me deixam mentir.

Por terem dificuldade em se manifestar, os chamados “antissociais” remoem-se em culpas sem fim e acabam violando os próprios limites ao comparecer, colaborar, participar das infinitas trocas de presentes mesmo com alto grau de contrariedade manifestada por sorrisos amarelados e conversas monossi lábicas. Tudo isso apenas para não terem que conviver com o julgamento e os olhares de reprovação alheios. Muitos buscam fuga na comida ou bebida alcoólica, opção essa que muitas vezes não termina nada bem. 

O que fazer então? A receita é o respeito às individualidades! Sua e as dos outros! A pessoa não quer participar? Deixei-a! Não quer estar presente? Deixe-a! A maior prova de respeito e empatia está em aceitar as pessoas como elas são. Afinal, todos estão exercendo o seu legítimo direito de não fazer o que não sentem vontade apenas para agradar quem quer que seja. 

O mesmo vale para crianças. Ao ser obrigada a abraçar, beijar, sorrir, cumprimentar indistintamente, a criança pode tornar-se um adulto com extrema dificuldade de estabelecer vínculos duradouros ou identificar abusadores. Em geral os adultos as obrigam a fazer isso para sentirem-se aliviados por suas próprias consciências, pelo temor de serem julgados pelos outros adultos como alguém que não soube educar os filhos para serem abertos, extrovertidos e simpáticos. 

E que não se confunda nenhuma das possibilidades anteriores com falta de educação ou de respeito. Afinal, qual é a relação menos nociva? A que é simpática mas artificial e mentirosa ou aquela que é autêntica? Vale a reflexão! 

Márcia Pires é sexóloga e gestora de RH (piresmarcia@msn.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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