Quando o sol cedeu seu lugar à noite e partiu para seu descanso, ele apanhou seus apetrechos e iniciou sua volta ao lar. A caminhada era longa, cansativa, e ele não tinha esperança de chegar em casa antes da meia-noite. Colocou nas costas uma sacola de roupas que ganhara de uma família, juntou nas mãos duas sacolinhas de alimentos e iniciou a caminhada.
Uma chuva o impediu de caminhar mais rapidamente, mas ele só queria chegar em casa. A procura por um emprego foi, mais uma vez, desgastante. Enquanto esperava, debaixo de um abrigo de ônibus pela melhora do tempo, percebeu que o movimento nas ruas era grande: carros passando, buzinando, pessoas se saudando. Foi então que lembrou que aquela noite era importante: era noite de Natal!
Era dia de confraternização, de abraços de paz, de amor, de felicidade! Acelerou o passo para chegar logo em casa e foi cruzando com pessoas pelo caminho: algumas carregando pacotes com presentes, outras sorriam e se abraçavam, desejando feliz Natal. Nas casas, os pisca-piscas avisavam que ali era noite de festa. Lembrou dos cânticos natalinos de sua infância e juventude e sentiu duas lágrimas fugirem de seus olhos, quando percebeu que há muito tempo não comemorava um Natal. E sorriu! Sorriu porque teve uma brilhante ideia: pedir um prato aqui e outro acolá de comida quente, de comida preparada pelas famílias para festejarem o nascimento de Jesus. Fez o sinal da cruz e bateu na primeira casa.
Quando alguém espiou pela janela, pediu: “tem um prato de comida para três crianças famintas?” A resposta foi um fechar brusco da janela. E voltou a caminhar. Bateu em mais uma, duas, três casas e percebeu que as pessoas não tinham nada a lhe oferecer. Sentiu dentro de seu coração a mesma tristeza do casal José e Maria quando procuravam um abrigo para o filho que iria nascer naquela noite. Sorriu de tristeza ao se comparar com este casal e percebeu que não tinha o direito de bater nas casas, pedindo comida, pois as pessoas estavam ocupadas, preparando as trocas de presentes.
A chuva já havia passado e, quando fez a curva na última esquina, avistou seu barraco iluminado, coisa que não via há tanto tempo. Preocupou-se com a saúde de algum dos filhos e correu, imaginando uma notícia dolorida naquela noite em que o mundo festejava e ele já não sabia o quê, pois se fosse o nascimento de Cristo, deveria haver amor entre as pessoas, mas não foi isso que sentiu quando bateu de porta em porta. Só parou de correr quando colocou a mão no trinco da porta e se lembrou das sacolinhas sobre os ombros. Colocou-as no chão, forçou a porta e entrou! Mais lágrimas fugiram de seus olhos naquele momento, mas sentiu um aperto forte no coração: ao redor de uma pequena mesa, viu os filhos e a mulher e comida, muita comida! Esfregou os olhos para ver melhor e notou a presença das famílias dos barracos vizinhos.
Todos haviam juntado um pouco do quase nada que tinham e se reuniram em sua casa para comemorar o nascimento do menino Deus. Abraçou os filhos soluçando, sabendo que não tinha como segurar as lágrimas, agradeceu ao aniversariante daquela noite e procurou esquecer os ricos sem tempo que cruzou pela estrada e que não tinham nada para lhe oferecer. Foi em sua casa que encontrou união, afeto, amor. Foi em sua casa que percebeu que, ali sim, havia um Cristo nascendo no coração de cada um. E comemorou o nascimento deste Cristo, com a certeza de que, nesta noite, a vida, para todas estas pessoas, seria melhor! (2° lugar no II Concurso Histórias de Natal do Movimento Vida Cristã)