Uma crônica de Natal

22/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Sobre meu presente de Papai Noel.

Minha primeira lembrança de Natal foi aos seis anos, quando meu pai me deu de presente um carrinho de controle remoto, era simples, mas foi o suficiente pra me fazer acordar às 5 da manhã e ficar brincando na varanda.

Desde então eu entendi que o Natal tinha esse quê especial, e eu não falo do brinquedo ou do presente, mas do poder de se conseguir extrair um sorriso com o máximo que se pode fazer naquele momento. O meu carrinho de controle remoto não era nem de longe tão bom quanto o dos meus primos, mas era o melhor que meus pais podiam me dar na época e isso foi o bastante. Essa sensação de que alguém lembrou de ti é mais valiosa que qualquer presente.

Eu carrego isso comigo desde então, o sentimento de que alguém dispôs do tempo para lembrar de ti. Pra fazer uma ação que lhe arranque um sorriso do rosto.

Confesso que depois de grande eu perdi um pouco desse hábito de presentear, mas as poucas pessoas que presenteio é de coração. Acho que o fato de morar longe e nem sempre conseguir passar as festas de fim de ano com meus pais me fez perder um pouco desse sentimento.

Longe da família eu me acostumei a passar o Natal sozinho ou com amigos, o que, apesar de divertido, perde um pouco desse sentimento familiar que a festividade natalina traz consigo. Esse ano, porém, vou passar as festividades na casa da minha namorada, o que me fez ressignificar muitas coisas. Inclusive esse sentimento de amparo e inclusão.

Acho que depois de certa idade todo mundo idealiza um relacionamento maduro e tranquilo, admito que por vezes até achei que isso era utópico, coisa que só existia nestas linhas e nesta página.

Mas minha pequena ruiva de um metro e meio que chegou dominando meu coração me mostrou que expectativas podem ser alinhadas, individualidades respeitadas e rotinas compartilhadas quando dois querem ser um só, quando os corações batem em mesmo ritmo e sincronia. Estejam eles de mãos dadas ou não.

Acho que essa sensação de acolhimento novamente toma meu peito, me deu até vontade de montar uma árvore de Natal, colocar pisca-pisca na varanda e olhar minha pequena nos olhos e dizer que ela é a melhor coisa do meu 2022, que ela é meu presente de Natal, ou melhor do ano inteiro.

Dizer que Papai Noel caprichou e só com ela quero estar.

Com ela eu assisto até o especial de fim de ano do Roberto Carlos na tevê, como o resto que sobrou da ceia ou mesmo aquele arroz com passas só porque alguém disse que era coisa de Natal.

Afinal de contas, a vida é isso, descobertas sinceras feita ao acaso do inusitado. A melhor sorveteria que eu conheço eu descobri no dia que errei o caminho pra casa do meu tio.

Inclusive, quero muito levar ela lá (na sorveteria claro, não na casa do meu tio. Não aguento mais as piadas de "pavê ou pra comer"). Nem sempre é sobre o lugar, é mais pela companhia e esse sentimento de compartilhar a vida.

Enfim, quando a companhia é boa o coração fica quentinho e a alma tranquila. Esse que é o tal espírito natalino que tanto falam? Se for, quero isso todo ano, o ano inteiro.

Quem não?

Jefferson Ribeiro é escritor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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