2022 e o dragão da inflação

21/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Um artigo da Harvard Business Review da semana passada ressaltou como a inflação mundial afetou a economia em 2022. O autor Walter Frick entrevistou dois professores de Harvard e um jornalista especialista. Em 2022, nos EUA, a inflação alcançou 7%, a maior desde os anos 2000. Hoje está perto dos 5% e, segundo os especialistas, tende a diminuir para 4% em 2023, mas para voltar a níveis aceitáveis, como 2 a 3%, ainda levará tempo e exigirá manobras importantes e doloridas. Quem costuma viajar para os EUA e se aventurou nesse último ano deve ter visto que um hotel passou de USD 100 para USD 200.

A cadeira de turismo busca recuperar o que deixou de faturar na pandemia. O mesmo vem acontecendo com as companhias aéreas, os funcionários conseguiram aumentos expressivos. Chegaram a 30% na empresa Delta nos EUA. O que deflagrou a greve no Brasil e também na United Airlines em que os pilotos, em uma manifestação histórica, viraram as costas (literalmente) ao seu CEO.

Segundo o ranking de inflação de Austin Rating, a Argentina ocupa o primeiro lugar com 66%, seguida da Turquia (55%), Austrália (12%), Rússia (10,6%). Mesmo as economias consideradas estáveis, em 2022, apresentaram taxa de inflação expressiva, como Alemanha (10%), União Europeia (9%). Os Europeus estão passando mais frio neste inverno, por conta da alta dos preços de aquecimento, a temperatura das casas passou de 23 para 19 graus. O Brasil atingiu 4,1%, a quarta menor entre os países do G20.

Costumo olhar para a inflação como olho para a previsão do tempo. Mais importante que a taxa registrada é como nosso dinheiro tem rendido e a sensação que nos gera. É evidente que nosso dinheiro perdeu poder de compra em porcentagem muito maior que 4%. Só a gasolina esse ano variou 19%, chegando a momentos de 49% de aumento. O dissídio médio para os funcionários de empresas ficou em 10%. Por mais que a previsão do tempo econômico tenha ficado em 4,1% certamente a sensação térmica estava muito maior.

Foram duas as causas mais importantes para essa situação: a pandemia e a guerra na Ucrânia. A Rússia é a principal fornecedora mundial de gás natural. Ucrânia e Rússia são responsáveis por 30% de todo o trigo mundial. Com a redução da produção devido à guerra, a oferta mundial desses produtos tende a se reduzir, quando temos pouca oferta e a mesma demanda, os preços sobem. Com o aumento dos preços de matérias-primas básicas, todo o restante da economia é impactado em cadeia.

No Brasil, um estudo da FGV demonstrou que a inflação entre 2020 e 2021 causada pela pandemia impactou mais diretamente as classes mais baixas. A inflação para os mais pobres foi de 16,8% e para os mais ricos, 13,6%. Essa diferença decorre do tipo de cesta de bens de consumo e como seus preços foram afetados.

As famílias de baixa renda não possuem reservas, muito menos flexibilidade na escolha dos seus bens e serviços, ao contrário da classe alta que pode definir uma cesta com preço mais acessível. Níveis elevados de inflação aumentam ainda mais a incerteza, provocando dificuldade de alocação eficaz de recursos governamentais, dificultam o planejamento familiar e aumentam a desigualdade social.

Elisa Carlos é yogini, especialista em inovação e head de operação (elisaecp@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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