Aniversário da cidade e seu patrimônio cultural

14/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

É ótimo recordar as boas ocasiões, principalmente quando estritamente relacionadas a determinadas épocas e numa cidade como Jundiaí, que faz aniversário na próxima quinta-feira, dia 14 de dezembro, e que amamos profundamente. Traz-nos lembranças maravilhosas de lugares, amigos, aspectos gerais e notadamente, momentos de manifesta ternura os quais guardamos por toda vida. E assim, exercitando a aptidão por reviver o passado e o incansável espírito jornalístico, ressaltamos algumas delas notadamente quando se aproximam as festas natalinas, cheias de saudade.

Efetivamente, vem à reminiscência os nossos entes queridos, muitos já em outra dimensão; os encontros familiares que gradativamente acompanhavam o nosso crescimento; o presépio e a árvore de Natal montados na sala da casa; os presentes, embora modestos, mas dados com muito amor e dentro das possibilidades econômicas da época. Pessoalmente também vem à memória os passeios pelas ruas e vitrines das lojas enfeitadas; do boneco de Papai Noel da extinta Loja Magalhães, que subia e descia constantemente; das missas do Galo irradiadas por meu pai, Com. Hermenegildo Martinelli, e dos sermões afins de Frei Clemente inicialmente na Catedral e depois na Igreja da Barreira; das grandes festas realizadas para os seus empregados nas dependências da CICA e de Waldemar Cortz, que encarnava o personagem Noel de forma simpática e serena, fazendo a alegria das crianças.

Maria Lúcia, minha irmã, já revelando sua competência e sensibilidade como artista-plástica, todo mês de dezembro montava um belo presépio na sala de minha casa. Era tão detalhista que comprava serragem na loja "João Fillipini S.A." dos irmãos Fillipini e tingia parte dela de verde para usar como grama. Muitos vizinhos iam nos visitar e em especial, para verem os enfeites natalinos, entre eles, a D. Nenê Paes e suas irmãs Duta e Juquita, professoras célebres de piano de nossa cidade.

No dia primeiro de janeiro, o Sr. Guido Pelliciari, que morava próximo do Cine Politheama, costumava distribuir "boas festas" aos meninos com notas novinhas de cruzeiros que traziam as figuras de Pedro Álvares Cabral (1,00), Duque de Caxias (2,00) e Barão de Rio Branco (5,00). Ele também ia à minha residência ver a decoração. Jaciro Martinasso, cuja casa ficava na esquina da Rua Barão com a Rua Secundino Veiga era outro que mantinha esse costume, bem como seu irmão, Antenor Martinazzo, domiciliado ao nosso lado.

Quando chegava 6 de janeiro, eram colocados os Reis Magos bem próximos do Menino Jesus. Era motivo de muita tristeza para mim, que como todo garoto adorava o belo período, pois eles prenunciavam o seu fim. É que no dia seguinte as árvores seriam desarmadas; guardar-se-iam as guirlandas, os festões prateados e as imagens do nascimento de Cristo. Parecia que a magia se encerraria, arquivando-se os encantos e os sonhos típicos até o próximo ano.

Hoje a situação está muito diferente. As celebrações não são como no passado e na mesma trilha da redução dessas comemorações, também ricas manifestações populares diminuíram de forma significativa, dependentes de poucos entusiastas ou idealistas que procuram mantê-las a qualquer custo. Mostra-se assim bastante oportuno refletirmos sobre a necessidade de compreensão, valorização, respeito e preservação de nossa cultura e de nosso folclore que têm suas raízes no passado. Isto é, a continuação no tempo e no espaço da alma jundiaiense, das nossas tradições e de perpetuação do que somos hoje. Por isso, mais do que nunca, precisamos valorizar o patrimônio cultural, como forma de revitalizar a cidadania, participando e prestigiando de eventos que enriqueçam usos e costumes, reavivando nossa memória e preservando nossa rica história, antes que o progresso acabe de uma vez por todas com a identidade que ainda nos une em nossa querida cidade.

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (martinelliadv@hotmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.