Quando somos crianças, acreditamos em um dos maiores símbolos do Natal, o Papai Noel. Depois que crescemos, nos deparamos com a realidade e descobrimos que seria praticamente impossível o bom velhinho visitar todas as casas em uma única noite para deixar os presentes embaixo das árvores. Contudo, essa inocência das crianças é o que faz a magia do Natal e por isso papais noéis revelam os pedidos e histórias mais marcantes que vivenciaram.
MAS E A CHUVA?
Aristides Pretti tem 67 anos e há 18 é Papai Noel. Dezessete deles somente no Maxi Shopping Jundiaí. Nunca havia pensado em se tornar Papai Noel. “Nunca pensei em ser Papai Noel, até que recebi o convite do Clube do Carro Antigo de Jundiaí para uma carreata na avenida 9 de Julho. Naquele mesmo ano fiz alguns eventos em escolas e no ano seguinte respondi um anúncio que pedia um Papai Noel para o comércio da cidade, para minha surpresa, no Maxi Shopping. Desde então, há 17 anos estou aqui”, conta.
Aristides revela que todos os pedidos marcam de alguma forma. “Já ri e chorei muito. Alguns momentos foram tão fortes para mim que tive que interromper o expediente por alguns minutos para me recuperar, mas esses eu não comento em público em respeito a eles”, afirma
Um momento que se recorda foi em seu primeiro ano como Papai Noel no shopping “Uma menininha veio até mim e me perguntou se o trenó era coberto, porque chovia muito naquele ano e ela estava preocupada que eu poderia ficar doente e não conseguiria entregar os presentes no Natal. Respondi a ela que o trenó não era coberto, mas eu iria me cuidar para não ficar doente. No ano seguinte, já tendo esquecido o fato, a mesma menininha retornou ao shopping e me deu de presente um guarda-chuva. Jamais vou me esquecer disso”, relata.
Em 2019, Aristides gravou um vídeo reproduzindo a história do guarda-chuva com a menina, que agora cresceu e virou uma mulher adulta. Tanto ela quanto a mãe fazem questão de ainda tirar uma foto com o Papai Noel todo ano.
As crianças que chegam são recebidas com um toquinho de mão. “Sempre pergunto nome, idade e o que gostaria de ganhar. Quando são coisas simples, respondo a elas que se der eu levo o presente, quando o pedido é mais caro e complicado, falo que vou ver se tem no estoque”, brinca. “Meu sentimento ao receber as crianças é pura alegria e total satisfação”, relata o Papai Noel.
FAMÍLIA NOEL
Olhando David Casillo andando na rua, você não imagina que ele é o “bom velhinho” em época de Natal. O ator e humorista de 42 anos atua profissionalmente como Papai Noel há 5 anos. A profissão é uma tradição familiar.
“Antes mesmo de me tornar profissional já me vestia como Noel em festas familiares, desde muito cedo. Hoje, sigo um legado familiar, pois meu pai é Papai Noel, minha mãe é Mamãe Noel (falaremos deles mais tarde) e até minha filha virou duende” revela.
Entre os pedidos mais marcantes, o de um garotinho de 8 anos. “Ele veio até mim e disse que queria duas coisas: uma boneca e que o pai concordasse que ele ganhasse a boneca. Foi marcante porque senti que o garotinho realmente queria a boneca, mas tinha uma grande barreira com isso em sua casa. É um pedido que jamais vou esquecer”, revela.
Até hoje, David sempre recebe muitas cartinhas nessa época. “Sou um Noel muito carinhoso, brincalhão e atencioso com todos, eu procuro passar para as crianças que mais do que presentes o importante é ter uma família presente, estar junto com papai, mamãe, os irmãozinhos e aproveitar a presença dos avós. Essa é a magia do Natal”, afirma.
Mesmo para quem já está acostumado, a emoção toma conta de quem recebe crianças de todas as idades. “Eu me emociono junto, nos últimos anos a emoção aflorou mais, então sou grato e valorizo muito cada abraço que recebo. Como tivemos Natais sem abraços, então é bom receber esse carinho novamente”, revela.
CASAL NOEL
Manoel e Maria da Graça Castillo (os pais de David, citado anteriormente), têm 72 e 67 anos e estão a mais tempo juntos do que separados. Juntos há mais de 50 anos e casados há 48, se uniram na missão de ser Papai e Mamãe Noel.
Manoel trabalhou por mais de 30 anos desenvolvendo jogos educativos para crianças, passando a maior parte do tempo testando os jogos com as próprias consumidoras. Após se aposentar não se acostumou a ideia de ficar parado. A barba e o cabelo ficaram brancos e ele resolveu assumir a identidade de Papai Noel, já que sentia falta do contato com as crianças.
“Deixei de ser um homem ranzinza e de cara emburrada e passei a ser um simpático e carismático ‘bom velhinho’. Minha esposa me acompanhou na decisão e juntos somos o casal Noel”, relata Manoel.
O casal atua como Noéis desde 2016 e nesses anos muitos pedidos foram marcantes, mas um em especial até hoje emociona. “Eu trabalhava em um shopping na Cantareira que possui uma característica. De um lado é comunidade e do outro lado são condomínios de padrão mais elevado. Então você tem dentro do mesmo shopping crianças das duas classes sociais. Um dia, veio um menininho bem simples e falou ‘eu quero ganhar 1 kg de carne moída. Eu tô com vontade de comer carne moída e minha mãe não tem como comprar’. Para uma criança pedir um alimento em vez de um brinquedo é complicado. Você está numa situação que não dá para ir lá no mercado e comprar a carne para a criança. Então eu disse para o menino escrever uma cartinha e me entregar, pois o shopping selecionava algumas cartas quando o Natal acabava para enviar o presente que a criança havia pedido. Nesse caso, entregamos a cartinha para a direção do shopping providenciar uma cesta básica para a família”, relembra.
“Uma outra ocasião que marcou bastante foi quando fomos em uma escola. Uma menina me deu uma cartinha pedindo para fazer com que o pai não batesse mais na mãe. Isso cortou meu coração, após o evento entreguei à diretora e pedi que ela tomasse as devidas providências”, conta.
Mas, além desses casos, o casal Noel também se diverte muito com as ‘pérolas’ das crianças. “Estava sentado ouvindo os pedidos, aí chegou um menininho. Perguntei o que ele queria, ele falou ‘pera aí Papai Noel’ e sumiu. Voltou dentro de alguns minutos com o celular na mão, mostrando o que queria. Ele tinha ido à loja de brinquedos fotografar e trouxe”, relata.
Hoje, por conta da pandemia, o casal não atua mais em shoppings, mas ainda marca presença em comerciais, eventos corporativos em empresas e escolas e também é contratado para entregar presentes em condomínios.