Papo de domingo

12/11/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Eu me lembro de como eu ficava encarando o relógio de parede na quinta série esperando os ponteiros marcarem a hora do intervalo, ficava fazendo conta de quantos minutos faltavam, enquanto a professora de matemática ensinava soma de fração para várias crianças que mais pensavam no intervalo, na merenda e no último episódio do Dragon Ball.

É engraçado como a gente não se dá conta que sempre que torce para o tempo passar mais rápido está torcendo para que a vida acabe logo, que aquele momento de vida chegue ao fim, que aquele instante logo se vá.

Dá medo pensar assim, mas admito que até hoje tem momentos que só quero que terminem: a fila do banco, o engarrafamento na marginal depois das 17h e a reunião chata no trabalho que podia bem ter sido um e-mail.

Dia desses marquei com uns amigos em casa, bater papo, beber umas brejas e jogar jogos de tabuleiro. Era um dia de sol que do nada mudou e começou a cair uma daquelas típicas chuvas de verão, dentre os que iriam vir uma das amigas mandou mensagem falando que estava à caminho. Os outros que iriam esperar a chuva passar.

A chuva demorou, mas enquanto os outros decidiam se viriam ou não a Nívia chegou. Ficamos bebendo e conversando. E em pouco tempo tínhamos a combinação certa: Um bom papo, cerveja gelada e um sofá. O papo rendeu, até mais do que eu imaginei, dentre todos os que convidei ela era a que eu menos conhecia, zero intimidade. Mas com pouco tempo veio um entrosamento (me senti um velho em usar essa palavra, mas com passei dos 30 acho que meus leitores não irão me julgar.) e o papo foi longe, falamos de filmes, séries, música e relacionamentos. Quando percebi a chuva estava passando e os demais amigos avisaram que estavam indo.

Enquanto esperávamos os demais fizemos o que descobrimos que fazíamos super bem... Conversar!

Me lembrei da época de escola, fiquei olhando para o relógio, porém desta vez eu torcia para que não passasse, não que eu não quisesse receber meus amigos, claro que eu queria, eu os convidei. Mas é que com a chegada deles o papo seria o papo da galera, e não o papo meu e dela. E estava bom estar ali. Diferente da época de escola eu não torcia para o tempo passar, era o contrário! A Nívia era a antítese da minha quinta série. Um daqueles momentos que a gente se dá conta que mesmo não tendo nada de especial é especial.

O Emicida que fala isso, das pequenas alegrias da vida adulta. Acho que aquele dia com ela foi assim: um bom papo em um domingo à tarde.

O tempo passou, os ponteiros giraram e meus amigos chegaram, foi um domingo a ser repetido.

Mas a lembrança que ficou foi dela em meu sofá, gostei que ela já chegou se espalhando. Me encanto com pessoas espontâneas, que chegam chegando assim do nada, aprendi isso com meu pai, que pessoas autenticas não são de avisar, chegam e marcam. E assim ela marcou meu domingo, com o shorts verdes, os cabelos vermelhos e um olhar leve e descontraído daqueles que a gente só tem quando o papo é bom.

Hoje a gente falou de combinar um café, acho até que café combina mais com boa prosa do que cerveja.

Se o nosso papo de domingo rendeu crônica imagina só o nosso café... Ou escrevo a coluna do mês ou o próximo livro. Quem sabe?

Prometo que depois eu conto pra vocês...

Até semana que vem.

Jefferson Ribeiro é escritor e cronista

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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