O Parque de Diversões Monte Castelo

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Quando o primeiro caminhão chegava no terreno baldio da rua Miguel Basile, entre as ruas Santa Catarina e Senador Bento Pereira Bueno, a gente sabia que ficaria três meses sem jogar futebol ali. Mas sabia também que neste período o local ganharia o Parque de Diversões Monte Castelo. A garotada deixava o local, se posicionava no meio da rua e acompanhava a montagem do parque.

A cada estrutura montada, um sonho passava por minha cabeça... E lá vinha o carrossel: base montada, estrutura sendo preparada, os cavalinhos amontoados no chão e eu me aproximava daquilo, olhando cada movimento dos homens que trabalhavam na montagem de tudo aquilo. E era um passe de mágica: claro que um passe lento, pois não terminava assim... como o condão da fada madrinha: "faça-se..."

Às vezes o sonho continuava no dia seguinte, logo cedo, antes do início das aulas às 11 horas: cavalinhos sendo colocados no lugar e o sonho do galope, do pocotó pocotó pocotó. Olhava atendo o movimento dos montadores que juntavam as peças, testavam a energia elétrica e partiam para a montagem de um outro brinquedo. E eu ficava ali olhando, sonhando, galopando... Às vezes o dono do parque me apanhava no colo e levava para o carrossel, eu escolhia o melhor cavalo, sentava, fechava os sonhos e sonhava com um desejo louco de não acordar...

Hora da aula, falta de atenção nas palavras da professora, volta para casa e uma corrida até o outro quarteirão para ver como estava a montagem do parque. Carrossel pronto, carrinhos perfilados no outro tablado, roda gigante sendo montada, barraca de tiro ao alvo finalizada e mais dois dias o parque estaria pronto.

Mais uma noite de sonhos, mais um dia de trabalho e de aula sem interesse e quando a tarde de sábado começa a dar lugar à noite, sentado no portão de casa à espera de não sei o que, quando ouço uma música vindo do outro quarteirão e o locutor anunciando: "Este é o serviço de alto falante do Parque de Diversões Monte Castelo. Estamos iniciando, mais uma vez, nossas atividades. Alô alô garotada! É hora de diversão..."

Esta última frase eu já ouvia debruçado nas grades que envolviam o carrossel. Roda Gigante me metia medo. Não tinha uma vez que não passava mal. Por mais que meus irmãos insistissem, por mais que me prometessem me proteger, temia cair de lá de cima... principalmente quando a roda parava no ponto mais alto. Era ali que a garotada se divertia, olhando para todos lááááá do alto. E era ali que eu fechava os olhos, segurava onde podia e rezava para o manobrista colocar a roda em movimento. Mais meia volta e lá estava eu, fora do medo e de volta ao sonho do carrossel.

Um saquinho de pipoca na mão, um milhão de histórias contadas e que não terminavam antes de chegar em casa, o relato de tudo aos nossos pais e, na hora de dormir, mais um sonho, uma imaginação fértil percorrendo a mente ainda ouvindo o locutor informando "Este é o serviço de alto falante do Parque de Diversões Monte Castelo. Venham se divertir no carrossel". Parece que ele falava aqui só prá mim...

Nelson Manzatto é jornalista

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