Finados nos convida a refletir sobre a morte

30/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

No século X, o monge francês Odilon Cluny iniciou uma série de rezas e festas sacras para os cristãos mortos, em 2 de novembro de cada ano, quarta-feira próxima, costume que se espalhou por outras religiões. As pessoas acreditavam que, rezando para os falecidos, nesse dia, os vivos diminuiriam os castigos das almas que pecaram durante a vida terrena. Após quatro séculos, a Igreja Católica oficializou a comemoração, instituindo o Dia de Finados ou Dia dos Mortos, que chegou ao Brasil pelos portugueses. Na ocasião, os templos e os cemitérios são visitados, os túmulos decorados com flores e milhares de velas acesas, aspectos que já se tornaram tradicionais.

A data nos convida a refletir sobre a morte. Constatamos que raramente nos detemos a meditar e nem mesmo a lembramos, embora se constitua em evento comum a toda humanidade, inevitável e certo. Efetivamente, é um dos poucos fenômenos acerca dos quais temos absoluta certeza: basta ter nascido para que se venha a morrer.

Transformada em mera fatalidade biológica, as pessoas não se importam mais com a vida dos outros e ela passou a ser um evento quase neutro, revestido da aparência de mero espetáculo. Tanto que se assiste pela TV, pela internet e pelas redes sociais a centenas de mortes por dia, numa visível demonstração de abandalhamento de princípios, que rendem exclusivamente, altos índices de audiência e de visibilidades em postagens. O Direito consagra a vida como o mais valioso bem a ser protegido e impõe respeito aos mortos, tanto que considera crime a violação de sepultaras.

Finados deveria motivar uma natural reverência aos entes queridos já ingressados no reino onde se findam todos os mistérios, como ressalta a própria natureza humana. No entanto, costumamos a nos afastar de qualquer aspecto relacionado à nossa transitoriedade neste mundo, mesmo cientes da grande verdade: a morte faz parte da vida. Tal desprezo se prende ao fato de que enorme parte da sociedade, seja por interesses de ordem política, social ou econômica, seja por manifesto egoísmo ou insensibilidade, imunizou-se em relação aos seus efeitos.

Efetivamente, ela se constitui num antídoto contra a alienação humana, uma denúncia violenta contra as ilusões e a busca de bens passageiros, propiciando a concepção de nossa finitude. Uma realidade concreta que faz parte indivisível da existência. Apesar dessa circunstância, as pessoas ainda não a tratam como sendo rito de passagem, como deveriam entendê-la, tanto no aspecto religioso, como no moral, nem lhe outorgam as condições de dignidade exigidas por sua concepção jurídica. Tais constatações nos levam à melancólica conclusão de que a solidariedade está se exaurindo no ser humano, tanto na vida – dom maior de Deus -, como no final dela. Triste realidade...

DIA DA CULTURA

Em homenagem a Rui Barbosa, nascido a 5 de novembro em 1849, comemora-se nessa data, sexta-feira próxima, o Dia Nacional da Cultura, uma celebração de grande importância, principalmente porque em nosso país os aspectos culturais são colocados em plano extremamente secundário. "...Características levantadas pelo professor Sérgio Werlang: a cultura preserva o passado e as tradições das pessoas; a cultura reflete os usos, costumes e a ética das sociedades; e a cultura gera felicidade em quem a aprecia. Com esses referenciais, conclui-se que a cultura é um  direito de todos, não podendo ser apenas privilégio dos abonados. Cultura, qualquer que seja ela, clássica ou popular, classificação que, por ser limitadora, não tem unanimidade. Só se pode afirmar que a cultura merece o investimento, estatal ou não, pois ela é um instrumento para garantir retorno, irmã siamesa do que deve ser feito pela educação, hoje entregue ao Deus dará, em nível federal"(Revista TCMRJ- 04/2005- p. 78)

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. É autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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