Os livros e a poesia falam, a alma responde

23/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

O Dia Nacional da Poesia era comemorado em 14 de março, no aniversário de Castro Alves. A partir de 2015, a Lei 13.131 mudou a data para a do nascimento de Carlos Drummond de Andrade, ou seja, 31 de outubro, último dia desse mês.

Vale a pena comemorá-lo. Com efeito, a poesia é a voz da alma e, como tal, imprescindível para que possamos retratar nossa imaginação. Tanto que pouco antes de morrer, em 1987, o próprio Drummond, com toda razão, se expressou: "A poesia, que é um alimento para o espírito e o coração, pode ser vivida todos os dias. Ela tem me acompanhado por toda a vida". Tenho um hábito: leio e posto diariamente trabalhos de poetas, consagrados ou não, tornando minha existência mais alegre, serena e permanentemente esperançosa.

Agradeço a Deus por existirem pessoas que em determinados momentos recebem inspiração para criar obras poéticas que nos encantam e levam a um mundo de magia, fantasia e até de reflexão. Prestando-se como meio de comunicação e expressão, dotado de inúmeros recursos, é um gênero literário que se diferencia por ter como matéria-prima a interioridade de seus autores.

Apesar de se originar do grego, significando criação ou fabricação, a palavra vem há muito tempo denominando a arte de escrever em versos e eu completo: para nosso deleite. Evan do Carmo escreveu que "poesia é a arte da contemplação, da beleza e do absurdo. Música que se exprime com palavras", enquanto Cecília Meirelles dizia que "a arte de amar é a mesma de ser poeta". E o ensaísta argentino Ernesto Sábato se expressou: "Arte e literatura se unificam naquilo que chamamos poesia". Mário Quintana extremava-se: "A diferença entre um poeta e um louco é que o poeta sabe que é louco... Porque a poesia é uma loucura lúcida". Qualquer que seja sua concepção, a poesia é necessária para exaltarmos nossa sensibilidade, inspirando-nos a compartilhá-la com quem convivemos. "A poesia imortaliza tudo o que há de melhor e de mais belo no mundo (Mary Shelley).

Por isso novamente invoco a Sociedade dos Poetas Mortos: "Não lemos e escrevemos poesia porque é bonitinho. Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana e a raça humana está repleta de paixão. E medicina, advocacia, administração e engenharia, são objetivos nobres e necessários para manter-se vivo. Mas a poesia, beleza, romance, amor... é para isso que vivemos" ("Sociedade dos Poetas Mortos").

A vida seria muito triste e a convivência humana extremamente fria, não houvesse os poetas que, com seus trabalhos, comovem, sensibilizam e despertam sentimentos, fomentando o sublime e o belo. Através deles, a emoção é retratada por elementos formais como o ritmo, os versos e as estrofes. Fernando Pessoa indicou que "poeta é aquele que vivencia as suas experiências e as dos outros na sua alma e as transforma em sentimentos que apenas o seu coração consegue expressar. Normalmente escreve para expressar estes sentimentos".

Também comemoramos a 29 de outubro, sábado próximo, o Dia Nacional do Livro, que surgiu em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional do Livro, em 1810, pela Coroa Portuguesa. Na época, D. João VI trouxe para o Brasil milhares de peças da Real Biblioteca Portuguesa, formando o princípio da Biblioteca Nacional do Brasil (fundada em 29 de outubro de 1810). A data, além de homenagear e destacar a importância da Literatura e dos escritores, também busca conscientizar as pessoas sobre os prazeres da leitura. Com efeito, desde a Antiguidade, a obra literária é a grande companheira do ser humano, tanto que André Maurois brilhantemente indicou: "A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde"

E finalizo com Carlos Drummond de Andrade outra vez. Perguntaram-lhe se ele gostava de poesia. Sua resposta: "Se eu gosto de poesia?

Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo".

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. É autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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