Jundiaí: berço do bolsonarismo

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Era um domingo, 15 de março de 2015. Saí de casa com uma amiga. Estávamos, uma amiga e eu, indo a um churrasco, quando passamos pela avenida Nove de Julho.

Fazia um belo dia. O trânsito um pouco delicado, porém. Uma manifestação contra o governo de Dilma e PT acontecia, numa das faixas, logo abaixo do viaduto da avenida Jundiaí.

Ao chegarmos mais perto, uma cena que nunca esquecerei na minha vida: dois bonecos, pendurados como se enforcados. Dilma e Lula. Me assusto até hoje pensando na violência, no ódio, na raiva que estavam estampados naquelas figuras balançando, como cadáveres.

Em 2018, segundo turno: Jundiaí elegeu Bolsonaro presidente da república com 78% dos votos. Cheios de raiva, de desforra. Eu, sempre considerado "de esquerda", recebi inúmeros xingamentos por não ter votado nele e feito campanha contra. Eu sabia que, uma vez no poder, seria difícil acabar com uma caterva de mentirosos, oportunistas e violentos representados por esse homem, que vocifera a palavra "deus" com a mesma facilidade com que chamou uma colega deputada de "vagabunda".

Em 2022 vimos, no primeiro turno, a formação de um grupo de deputados e senadores ditos bolsonaristas em todo o Brasil. Alguns deles, violentos defensores do fim da democracia, da intervenção militar, eleitos na mesma toada, seguindo as mesmas ideias do atual presidente. Nasce, assim, uma nova corrente política no Brasil: trata-se do bolsonarismo, caracterizado pelo uso exagerado de redes sociais, descrédito constante de órgãos de imprensa, repetições de ideias que não possuem comprovação, nacionalismo exagerado, sequestro de valores considerados "de bem", como Deus, religião cristã e família.

Ou seja, o bolsonarismo, como corrente, cresce graças à desinformação e a uma narrativa criada para transformar o opositor em inimigo a ser extirpado, eliminado. Mas isso não aparece graças à mascara "cristã de bem", que pode ser católica ou protestante de acordo com o sabor das ondas. Exemplo é que Jair, o Messias, foi batizado no rio Jordão, em Israel, por um pastor acusado de diversos crimes, antes de concorrer à presidência, mas não se furta em ir a Igrejas católicas e comungar como se fosse um paroquiano fiel.

O bolsonarismo é a corrente da revolta política e antidemocrática na essência, já que não aceita a crítica: Jair ou despreza tudo e todos quando colocado contra a parede ou maltrata de forma especial as mulheres jornalistas que o indagam (trata-se do machismo que essa corrente orgulhosamente defende).

E Jundiaí, na cidade que pendurou dois bonecos em plena avenida Nove de Julho, simbolizando que queriam a morte daqueles dois seres humanos ali representados, que elegeu Bolsonaro com 78 % dos votos em 2018, que deu 52% a ele em primeiro turno e que depositou quase 50 mil votos a seu representante local, consolida-se como um dos berços dessa "corrente".

Isso faz com que as previsões para 2024 em nossa cidade sejam as mais difíceis possíveis para o campo democrático. Alguns políticos locais oportunistas já se colocaram ao lado do bolsonarismo. Será fundamental uma forma de "concertação" municipal.

A chance de sermos engolidos por um suposto leviatã, que só sabe, na verdade, despejar mentiras e desqualificar seus opositores, é cada vez mais real.

Samuel Vidilli, cientista social e analista político, colabora com o JJ a cada 15 dias

Comentários

2 Comentários

  • VIVALDO JOSE BRETERNITZ 14/10/2022
    texto lamentável, mal escrito - ridículo, em suma.
  • Daniel Barbosa 12/10/2022
    Sensato. Esse artigo reflete exatamente a situação real do Brasil hoje. Infelizmente