Crianças e professores, prioridades na agenda

09/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

O poeta Thiago de Mello, em um de seus brilhantes trabalhos, lembra que os anos da infância se constituem numa época inesquecível, onde o coração ignora a maldade e o egoísmo, tornando a criança o símbolo do amor e da paz: “Na roda do mundo,/ mãos dadas aos homens,/ lá vai o menino/ rodando e cantando/ cantigas que façam/ o mundo mais manso,/ cantigas que façam/ a vida mais doce,/ cantigas que façam / os homens crianças”.

Atualmente, no entanto, o que os menores pedem é apenas o direito de serem como tais. Em todos os lugares têm o mesmo anseio e uma necessidade básica: - viver com tranqüilidade esse tempo de encantamento. Com efeito, por uma série de circunstâncias estão privados de liberdade quando nesta fase, ir e vir se faz extremamente necessário.

A fragilidade da Segurança Pública impede de saírem como ocorria antigamente. Já não crescem brincando com os vizinhos nas ruas e não vêem os seus pais conversando sentados em cadeiras nas calçadas. Há uma grande ausência de afeto provocada pela cultura consumista. A necessidade desenfreada de obter recursos financeiros acaba dificultando a convivência, principalmente a familiar. Sentem, por isso, um clima de indiferença.

Suas distrações, muitas vezes, resumem-se exclusivamente a frias imagens de TV, dos celulares e dos computadores. Há os que são desprovidos das mínimas condições de dignidade, ou seja, alimentação, habitação, lazer e educação. Falta- -lhes em muitos casos, respeito à própria integridade física ou a sua situação como seres humanos.

“Oh! Que saudades que tenho/ da aurora da minha vida/ da minha infância querida/ que os anos não trazem mais” – diz o poema da Casimiro de Abreu, retratando a importância deste período na vida de cada cidadão. Toda criança precisa hoje é de muita atenção do Estado, da família e da sociedade – determinação contida na própria Constituição Federal do Brasil - e tempo para se divertir sadiamente. É preciso que os adultos retomem os sentimentos puros da infância, conscientizem-se destes aspectos, procurando construir um mundo melhor para abrigar os futuros homens de amanhã. Por ocasião do Dia das Crianças na próxima quarta-feira, vale afirmar que o maior desafio ao nosso tempo é formar menores felizes, que se tornarão também maiores felizes.

Estritamente ligada a essa situação, está a Educação de bom nível e a 15 de outubro, comemoramos o Dia do Professor. Nessa data, no ano de 1927, o imperador D. Pedro I assinou a Lei Nacional, aprovada pelo Legislativo, instituindo no Brasil a instrução primária (ou das primeiras letras, como então se denominava), pública e gratuita, em todas as províncias do Império. Um diploma legal que chegou tarde, pois, paradoxalmente, ao se criar o ensino fundamental já estava funcionando o superior desde 11 de agosto do mesmo ano, com os cursos jurídicos de São Paulo e Olinda - este último depois transferido para Recife.

Assim, no próximo sábado serão prestadas sinceras homenagens ao compromisso profissional dos professores que, apesar das condições muitas vezes precárias, dos recursos limitados e da remuneração inadequada, ajudam o mundo a ir em frente. E efetivamente, estamos diante de um insólito quadro. Eles só poderão desempenhar suas funções com resultados positivos, se lhe propiciarem condições adequadas de trabalho e remuneração, o que não ocorre em nosso país há muito tempo. Enquanto isso, o que eles precisam, no mínimo, é de respeito, o que também lhes têm sido negado com veemência. A título de homenagem invocamos a poetisa Cora Coralina, extraindo parte de um de seus trabalhos: “Professor, sois o sol da terra e a luz do mundo / Sem ti tudo seria baço e a terra escura...”.

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. Autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.