Cada criança tem suas próprias características, jeitos, gostos e individualidades e aquelas com algum tipo de deficiência, seja física, visual, auditiva, intelectual, psicossocial e múltipla não são diferentes. O desconhecimento de cada uma das deficiências pode gerar possíveis estigmas e preconceitos que cercam a vida dos familiares. Com quase 240 milhões de crianças com deficiência em todo o mundo, a conscientização sobre a inclusão se torna cada vez mais fundamental, principalmente no ambiente escolar, domiciliar e de lazer.
Comerciante e mãe do Joaquim, de 4 anos, diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA), Sue Ane Bianca Santos, de 34 anos, identificou os sinais em seu filho quando ele tinha 1 ano. “Ele foi diagnosticado de forma precoce e isso facilita muito a vida dos pais porque começamos a entender o transtorno bem cedo, assim como os cuidados necessários e as formas de inclusão. No começo, tudo era um bicho de sete cabeças, mas tive uma rede de apoio de outras mães com filhos autistas e isso foi fundamental para eu me adaptar”, relata a mãe.
Após receber apoio de outras mães, pais e responsáveis, Sue Ane decidiu ajudar outras pessoas a lidarem com o TEA. “Tive um grupo de apoio muito acolhedor e decidi ajudar outras mães atípicas sobre a maternidade e o autismo. Uso minhas redes sociais para compartilhar minha rotina e direcionar outras pessoas que precisam de dicas e acolhimento. Estou sempre aberta a ajudar quem precisa, mas nunca deixando de recomendar a assistência médica e terapêutica, pois é fundamental para todas as crianças”, comenta a comerciante.
Outro problema ainda persistente para garantir um atendimento mais eficiente é conseguir fazer com que os familiares e pacientes aceitem os desafios impostos e até mesmo a própria situação na qual estão inseridos, ou seja, eles mesmos estejam dispostos a colaborar e promover a inclusão. De acordo com a coordenadora de saúde da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Jundiaí, Camila Mendes, a melhor forma de se adaptar é aprendendo a lidar com o diagnóstico das deficiências.
“A inclusão ainda é um desafio para a sociedade, as famílias precisam aprender a lidar com a nova rotina, adaptação e comportamento das crianças com deficiência, além de as escolas estarem preparadas em todos os sentidos. Por isso, o diagnóstico precoce é um dos momentos mais importantes para as crianças e famílias, porque estimula o desenvolvimento desde cedo e ajuda a direcionar os pais. Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, melhor para o paciente e a família”, explica a especialista.
INCLUSÃO
Conscientizar sobre diversidade e a inclusão é o começo de uma sociedade mais empática, solidária e inclusiva para todos. Quando se trata do ambiente escolar, muitas mães ainda sofrem pelo fato de os filhos não receberem o tratamento adequado nas salas de aulas, como foi o caso da Sue Ane. Para ela, as escolas ainda estão no caminho para a inclusão, mas há muito a ser comemorado. “Ainda é possível notar um despreparo de algumas escolas em relação às crianças com deficiências, mas muitos profissionais estão se esforçando para aprender mais sobre os transtornos, então tenho muita esperança que vai melhorar a cada dia. Tive um problema com a secretaria de inclusão, pois precisei lutar muito para conseguir uma acompanhante para ficar com ele na sala de aula, o que é um direito de todas as crianças portadoras de deficiências. Após quatro meses, a escola contratou uma estagiária para monitorá-lo durante as aulas. Conheço mães que estão neste processo há quase dois anos”, lamenta a mãe.
O problema não foi diferente com a professora Osvaldina Maria dos Santos Gomes, de 44 anos, mãe da Eliza Vitória, de oito anos, diagnosticada com autismo nível dois no espectro aos três anos. Ela também precisou lutar para que sua filha conseguisse acompanhamento nas escolas. “Eu cheguei a trocar ela de escola porque outros pais me recomendaram e, depois de muito esforço, consegui uma acompanhante para ela. Para mim, as escolas têm muitos profissionais preparados para lidarem com crianças com deficiência, precisamos falar mais sobre inclusão para que se torne algo normal”, diz.
Sempre muito quieta, Eliza nasceu prematura e, segundo a mãe, fazia pouco contato visual. Após 1 ano e 8 meses, Osvaldina identificou os sintomas e decidiu levá-la a médicos e terapeutas. “Quando percebi estes comportamentos, fiz consultas com psicólogas, médicos e ela foi encaminhada para a Apae. O diagnóstico foi rápido e detectaram o TEA. Para mim, foi tudo novo. A adaptação não foi fácil, mas nós, mães, vamos aprendendo com o tempo e nos encaixando para caber no mundo deles”, afirma emocionada.
Em Jundiaí, crianças com deficiências físicas, cognitivas, intelectuais ou múltiplas podem participar do Programa de Esportes e Atividades Motoras Adaptadas (Peama). O objetivo do programa é democratizar o acesso às atividades esportivas e incluir pessoas com deficiência utilizando o esporte como ferramenta. Atualmente são atendidos 334 alunos, mas já passaram pelo programa aproximadamente 1.500 pessoas com deficiência.
O Peama oferece gratuitamente 16 modalidades: atividades náuticas, atletismo, bocha, caminhada, capoeira, ciclismo, corrida de rua, dança, escola da bola, futsal, ginástica rítmica, goalball, karatê, musculação, natação e tênis de campo.
Professora de ginástica rítmica unificada do Peama, Vanessa Nascimento, de 42 anos, diz que o esporte e as atividades físicas de forma geral auxiliam no desenvolvimento motor do praticante, bem como atua em questões psicológicas, educacionais e sociais. “O esporte consegue, por suas características, estimular o desenvolvimento global da criança e do adolescente. O projeto da ginástica tem como objetivo geral promover integração e inclusão por meio do desenvolvimento da modalidade. Buscamos o desenvolvimento motor das alunas, a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida, o desenvolvimento cognitivo, afetivo, psicológico e social delas, estimulando sempre o respeito à diversidade”, explica a professora.