A gente quer comida, diversão e arte

01/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Eduardo Pereira

Essas eleições estão despertando algumas situações não vistas em campanhas anteriores. Além da escalada das fake news, a pandemia e o apagamento dos paradigmas da cultura; as concentrações populares em grandes eventos que por conta do isolamento sumiram por esse tempo todo. Ao renascer, as manifestações de música e arte bombam, mas continuam distantes nas campanhas e nas plataformas políticas dos candidatos.

Considerações sobre o desempenho dos governos na cidade de São Paulo em relação à cultura nos últimos 10 anos, temos em um rápido olhar que não houve recuo na produção de bens culturais, apesar do recesso, haja vista o resultado dos 10 anos de restauração do Museu do Ipiranga que, entre todos os méritos, tem o de ser uma iniciativa paulista e da USP. Passou com dificuldades durante esse período em que foi extinto o Ministério da Cultura, mas se manteve firme na concretização de devolver esse bem cultural a população.

Nos últimos 10 anos, São Paulo teve oito gestores de cultura com o cacife de Juca Ferreira, Nabil Bonduki, Alê Youssef e a atual, Aline Torres. Ao contrário, o governo federal nos últimos cinco anos trocou gestores de peso por outros sem competência que, além de fora do assunto, não tinham nem estatura nem conhecimento. A atual Secretaria Especial da Cultura (extinto MINC) coloca atores para administrar a cultura, por exemplo, Mario Frias como secretário especial. Outra, Larissa Peixoto (estrategista de marketing), que cuida do patrimônio histórico nacional onde o caso do IPHAN é um escândalo exemplar.

A partir de Marta Suplicy, 2001, se iniciou o Museu Afro Brasil que permitiu a Emanoel Araujo (1940 - 2022) tornar a negritude um motivo de orgulho na arte, na autoestima do povo brasileiro: põe no lugar o papel da mão do afro-brasileiro na construção do país. Arte, gastronomia, música, cultura, arquitetura e a representação da religião que de fato foi e é um enorme caldeirão cultural e de brasilidade que não tinha o devido reconhecimento. Emanoel foi brilhante, referência sólida do poder e potencial dos movimentos afro. Hoje, Aline Torres, afrodescendente, faz a gestão atual da cultura na cidade de São Paulo.

Em Jundiaí, apesar das inúmeras exposições oferecidas e selecionadas através dos editais burocráticos, com pontuações para os que se identificam com o gênero, não se abriu espaço para manifestações de artes visuais nas denúncias das atrocidades contra negros e mulheres. Lembrando o que Emanuel Araújo fez é preciso ser estendido para uma política cultural com claros objetivos, pautas e projetos. Não basta abrir editais para expor! É preciso uma organização para que não se perca na dispersão de temas e qualidades expositivas o efeito na formação de público. Não adianta expor para um público que não existe. É preciso formar público para esses espaços. Isso é uma ação planejada. É preciso de conceitos inovadores, atuais, conteúdos provocadores, divulgação com qualidade e abrangência. Esperam-se mudanças!

Mariana Janeiro, jundiaiense, encabeça a Chapa das Pretas para o Congresso Nacional junto com Fabiana Ferreira, sendo uma das poucas a 'abordar de modo contundente a necessidade de formulação de políticas públicas que garantam mais igualdade e conquistas de espaços públicos para as comunidades pretas e LGBTQIA .'. E continua:

"Esse direito, geralmente tratado e discutido no campo do trabalho, carece ser espraiado também no território das artes e das mostras artísticas - visto a efervescente produção de artistas de toda região metropolitana de Jundiaí que dificilmente encontram vitrine para exposições, o que não deixa de configurar um tipo de exclusão e de preconceito."

Eduardo Carlos Pereira

é arquiteto e urbanista

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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