Vamos fazer história

Samuel Vidilli
| Tempo de leitura: 3 min

Dia 2 de outubro de 2022 já é uma data histórica antes mesmo que os resultados das eleições sejam computados.

Muita coisa estará em jogo. O voto dado domingo pode simplesmente corroborar a extrema violência que está sendo usada. O voto que vamos depositar na urna pode confirmar, a uma grande parcela da população, que podemos falar qualquer coisa sem precisar ter responsabilidade com a verdade.

Dependendo de quem sair vitorioso do pleito, uma nova forma de política se instaurará: a do medo, a da pressão constante, a que quer desmontar as leis, a que mente falando uma coisa e fazendo outra diametralmente.

É preciso compreender que não será apenas uma eleição, mas várias: senador, governador, deputados. Mas na situação extrema e com a quantidade de coisa que está em jogo, é compreensível que não nos lembremos dessas outras eleições.

Os votos para deputados, de forma especial, são os que mais podem afetar diretamente o andar da democracia. E como é triste ver uma região enorme e rica como a nossa não conseguir eleger um representante que seja (e não adianta falar daquele que apenas mora aqui, porque, afinal de contas... ele apenas mora. Se andar na cidade ninguém sabe quem é).

Ocorreu um triste fenômeno há 4 anos, em que figuras estridentes na mídia foram as mais votadas em Jundiaí. Devendo a votos locais as cadeiras que ainda ocupam. Mas que nada fizeram por nós. Será que merecemos mais disso?

No Governo do Estado, um grande desafio: o mesmo modelo de mais de 20 anos está correndo o risco de perder. O que é preciso analisar além disso: quem tem chance de ganhar? Uma proposta melhor que pense no nosso estado ou um projeto que veio de forma imposta, com um candidato que nem sabe onde votar no seu novo domicílio eleitoral?

No Senado, atenção aos suplentes. É muito triste, mas são eles os que efetivamente assumem. Ainda mais aqui em São Paulo.

Mas, inevitavelmente, temos que lidar com o voto de presidente da República. E aqui não podemos nos iludir. É uma luta entre democracia e golpismo. Entre os que agem de acordo com as regras e aqueles que as ignoram. E, infelizmente, não há brecha: ou é um ou é outro. Ou é uma coisa ou outra.

Que essa tristeza que estamos vivendo acabe. Porque esse clima pesado não é apenas porque há medo de discutir política com adversários. Não. Esse medo que nos consome também tem outra origem: a pandemia. Eu, pessoalmente, acredito que não soubemos lidar direito com o luto desses anos de covid em nosso meio, enquanto estávamos perdendo pessoas queridas.

Vidas sendo ceifadas. Vidas. Vidas. E em meio a isso um grupo de empresários e seus asseclas pensando apenas na economia, no dinheiro. Não podemos fazer isso. Resumir nossa passagem por essa Terra a tamanha insensibilidade.

Portanto, não vejo muita escolha: pelos quase 700 mil mortos por essa peste do terceiro milênio, não posso votar em quem fez pouco caso dela. Seria ignorar essas vidas.

Que Deus nos ajude no domingo. E que possamos lidar com esse luto, defenestrando o mal pelo poder do voto. E sim, é disso que se trata.

SAMUEL VIDILLI é cientista social formado pela FFLCH-USP

Comentários

Comentários