Normose

Quem não se normaliza, muitas vezes, não se encaixa no meio social.

17/09/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Liciana Rossi

'Normose: A patologia da normalidade' é o nome de um livro, de autoria de Jean-Yves Leloup, Pierre Weil e Roberto Crema, publicado em 2003, que define o termo normose como 'um conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social que, na realidade, são patogênicos e nos levam à infelicidade, à doença e à perda de sentido na vida'.

Ser normal, se encaixar nos modelos impostos nas mídias, alto, magro, alegre, dentes branquinhos, sociável, de bem com a vida, bem-sucedido. Como se as adversidades da vida não chegassem para estes indivíduos 'normais'. A vida plena e feliz parece acontecer só com os outros. Essa obsessão pela normalidade pode acabar virando uma doença: a normopatia, ou normose, caracterizada pela tendência patológica de condicionar o próprio comportamento socialmente estabelecido, em prejuízo da auto expressão pessoal e individual, valorizando muito a opinião e a aceitação social dos outros.

Estamos a algum tempo passando por essa epidemia de normose que afeta demais adultos e adolescentes. Muitos comportamentos tidos como 'normais' acabam causam sofrimento. Quem não se normaliza, muitas vezes, não se encaixa no meio social. A não aceitação no meio sociocultural acaba adoecendo a pessoa. Muitas vezes não sabemos como lidar com a angustia e não aceitação, com o bulling, com aquilo que os outros esperam de nós, e doenças como bulimia, depressão, ansiedade, síndrome do pânico, acabam se manifestando.

Os padrões que ditam os comportamentos, os influenciadores, pessoas populares, esperam algo de nós? Quem espera o quê de nós? Somos nós que cobramos muito de nós mesmos. Ninguém pode exigir nada, devemos nos fortalecer emocionalmente para ponderar sobre essa pressão externa que acaba nos atingindo e que entendemos como cobrança.

Cuidado, pois a normose acaba estimulando a inveja, decepção e a infelicidade. Admirar uma pessoa é uma coisa, já querer ser igual a ela em tudo, pela falsa impressão que aparece nas mídias sociais é outra. Estamos nos enganando se achamos que a realidade é aquela que está nas fotos do Instagram. Onde está a personalidade própria, a autoestima, a segurança pessoal, a inteligência emocional?

Comecem a olhar ao redor e percebam se alguém próximo está passando por estas pressões e se precisa de ajuda. Muitas vezes estão clamando por socorro, gritado por dentro, tentando chamar atenção. A cura da normose é a auto valorização, o trabalho individual, a busca por ajuda.

A grande pergunta que deve ser feita é: o que é normal? Difícil definir. Então, não fuja da sua essência individual. Cada ser é único e perfeito. Que bom que somos diferentes uns dos outros. Procure a beleza de cada pessoa, valorize-a. O mundo está muito competitivo e pouco gentil. Estamos todos adoecendo, vamos nos curar juntos, olhando com empatia e amor ao próximo. Utilizando mais palavras bonitas e agredindo menos o outro com olhares e palavras pesadas. Podemos ensinar isso às crianças, desde cedo, fortalecer nossos filhos emocionalmente e abrir seus olhos para esses comportamentos patológicos. Se a obsessão pela normalidade é uma doença, ser o que somos em nossa essência, empoderados, saudáveis emocionalmente, pode ser o remédio, que deve ser tomado diariamente. Muita saúde a todos.

LICIANA ROSSI é pós-graduada em Treinamento Desportivo (Unicamp), Exercícios Corretivos (Academia Nacional de Medicina Esportiva dos USA), CHEK Practitioner2, HolisticLifestyle Coach2, CHEK Institute/USA, L.P.F. Specialist e graduanda SomaTraining/ELDOA-USA.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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