O que podemos aprender com a monarquia

Samuel Vidilli
| Tempo de leitura: 3 min

A morte da rainha Elizabeth me fez escrever umas palavras em minhas redes sociais. Hoje, aqui, tomo a liberdade de elaborar melhor o que penso a respeito.

Quem me conhece sabe do apreço que tenho por monarquias.

Ao longo de minha vida quanto interesse tal modelo de governo, com suas tradições, códigos próprios e pompa me encantaram.

Na faculdade, em meio a tantos marxistas, trotskistas, anarquistas, eu era uma raridade. E gostava disso, de ser o "do contra". O gordinho do interior, católico e monarquista.

Demorou, porém, para eu entender que não sou monarquista, mas apenas um simples admirador de monarquias e da história.

E a britânica, confesso, me chama muito a atenção pela tradição ritualística envolvida.

Lá, o monarca também é o chefe da igreja anglicana. Só não tem mais responsabilidades rituais do que o Papa.

E assim é há muitos e muitos anos. E não deveria ser diferente com Elizabeth II, falecida alguns dias atrás. Ela tinha um dever e o cumpriu. Do começo ao fim.

É o que se espera de seu filho, o atual rei Charles III. Que nada mude ritualmente. Como nada mudou antes. E isso que é incrível no nosso mundo atual, tão rápido de gerações XYZ, de redes e selfies, de inconstâncias. Nesse caos, a figura de Elizabeth II destoava.

Isso porque ela e seu filho agora, assim como grande parte dos monarcas atuais, representam uma certa continuidade. Tradição (no bom sentido da palavra).

Para um autor inglês do século XIX, a monarquia tem um poder que se chama "edificante": que se impõe sobre a política como um zelador, que cuida para a plena vontade de seus semelhantes. O papel do monarca é de cuidar para que a politica não seja usada para o bem do político em seu cargo temporário, mas para melhorar a visa de todos.

Eu sei, essa é uma visão bem indulgente para com a monarquia.

Mas, se eu ou você, pessoa que me lê, acredita ou não nessa definição, pouco importa. A rainha acreditava nisso.

E morreu cumprindo seu juramento de coroação.

Essa perseverança e fidelidade a algo são louváveis. Ainda mais em um mundo onde os ódios políticos estão imperando.

O modelo usado na monarquia soa e é anacrônico. Não dá para imaginar, em pleno século XXI, que uma família, apenas por laços históricos, detenha a primazia. Não é possível conceber que um sobrenome valha mais que outro no que tange a patriotismo.

Mas é preciso também dar o "braço a torcer": as melhores democracias são monarquias parlamentaristas: Dinamarca, Suécia, Noruega, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Espanha, Japão...

Podemos aprender algo.

Acho que uma das grandes lições que precisamos aplicar é que pensar política pode e deve ser para longo prazo também.

Muitas pessoas querem soluções imediatas para problemas estruturais antigos demais.

De repente, é preciso mais que uma pessoa que pense apenas em 4 anos e depois em reeleição, sem nenhuma outra ambição.

Isso está afastando cada vez mais as pessoas do que a politica pode ser. Cada um cuida só de pensar do seu e não consegue agir em nada de forma coletiva ou que seja a médio prazo.

Esse afastamento está cada vez mais perigoso. Quem ocupa esse espaço é quem não pensa no outro. A política assim murcha e morre.

Samuel Vidilli, professor e cientista social, escreve aqui a cada quinze dias.

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