Dicionário da Independência

07/09/2022 | Tempo de leitura: 2 min
FERNANDO PELLEGRINI BANDINI

Escrito pelo jornalista Eduardo Bueno, "Dicionário da Independência, 200 anos em 200 verbetes" é um livro divertido. E informativo. O autor resume parte da História brasileira, centrando os assuntos, como o título explicita, nos períodos anterior e posterior à independência, com seus personagens e situações. E há surpresas. Na letra "D", por exemplo, aparece o verbete "diarreia", contando a indisposição estomacal que acometeu o então príncipe regente Pedro em sua viagem a São Paulo, em setembro de 1822. No "B", fica-se sabendo que "brasileiro" era termo pejorativo, mas acabou adotado com orgulho como adjetivo pátrio dos nascidos no território.

E há muitos personagens, citados em mais de um verbete, com remissivas bem ajustadas. Conhece-se "Titila", o nome carinhoso adotado para a Marquesa de Santos, ou o Chalaça, apelido de Francisco Gomes da Silva, português que aportou por aqui em 1808 e que se tornou amigo inseparável do futuro imperador Pedro 1º. Amigo e parça de boemia pelo Rio de Janeiro. E também Leopoldina, a imperatriz, mulher letrada e culta, fundamental para o processo de emancipação do Brasil. Há mais de um verbete para ela, contando de sua conturbada relação com o intempestivo marido. Dom Pedro I, protagonista, aparece em diferentes entradas: tem Guatimozin, seu codinome usado na maçonaria, ou Piolho Viajante e Inimigo dos marotos, pseudônimos com que assinava virulentos artigos de jornal para desancar adversários políticos.

E José Bonifácio, gênio político, figura tão controvertida quanto indispensável para conhecermos nossa História. Ou Maria Quitéria, mulher destemida que burlou proibições e engajou-se disfarçada nas tropas brasileiras para enfrentar as forças portuguesas.

O livro transita pela economia, pelos costumes, pelas curiosidades, contextualizando de maneira didática o cenário do período. Tem a coroação, a abdicação, o nascimento de Pedro II, os palácios de Queluz e da Quinta da Boa Vista, por onde circularam os principais envolvidos nessa trama toda. Como o encapetado Dom Miguel, preferido da mamãe Carlota Joaquina, e inimigo desde a infância do seu irmão Pedro. A inimizade doméstica dos dois tornou-se guerra civil em Portugal, na década de 1830, em disputas pelo poder.

O dicionário segue o estilo fluente e acessível de Bueno, autor dos best-sellers "A viagem do descobrimento" e "Brasil, uma história". Com linguagem leve, mas sem descuidar da pesquisa histórica, o autor escreveu esse dicionário para público variado, de leitores muito jovens a outros nem tanto. O livro conta ainda com bibliografia comentada pelo jornalista para quem quiser se aprofundar em seus muitos assuntos.

As ilustrações de Paula Taitelbaum enriquecem a edição. A artista gráfica baseou-se em desenhos de Jean Baptiste Debret, o extraordinário pintor francês que, vindo em missão artística, apaixonou-se pela nova terra e virou seu maior cronista visual, o retratista do cotidiano e das paisagens do Brasil no século 19.

Lançado pela editora Piu, "Dicionário da Independência..." é um desses livros para folhear, reler e rever a toda hora.

Fernando Pellegrini Bandini
é professor de Literatura

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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