O iminente 2º turno

Felipe dos Santos Schadt
| Tempo de leitura: 4 min

Antes da campanha eleitoral, era notória a vantagem que o ex-presidente Lula (PT) tinha diante seu principal adversário, Bolsonaro (PL). Em maio, pesquisa realizada pelo Data Folha dava o candidato do Partido dos Trabalhadores como eleito ainda no 1º turno. Essa perspectiva animou muito os petistas e a esperança por resolver as coisas já no dia 02 de outubro se intensificou.

Vencer no 1º turno significaria duas coisas para o pleito deste ano. Primeiro: mostraria a força de um candidato em relação ao outro, colocando o bolsonarismo em xeque e tirando - se não de vez -, pelo menos por um tempo, o capital político que o atual presidente necessitaria para voltar aos holofotes. Isso iria enfraquecer, inclusive, a aura de "mito", afinal, Bolsonaro inauguraria, de uma única vez, as façanhas de ser o primeiro presidente a não se reeleger e ao participar como segundo colocado de uma inédita decisão presidencial no primeiro turno.

Segundo: o desmantelamento total do discurso bolsonarista sobre as urnas eletrônicas. Os seguidores de Bolsonaro - inclusive ele próprio - estão, desde as primeiras pesquisas de intenção de voto, tentando colar o discurso de que as urnas seriam fraudulentas. Com uma vitória do petista no primeiro turno com uma grande margem de diferença, esse discurso perde força pela incontestável vantagem nos votos de seu rival. Além disso, evitaria que o atual presidente ganhasse mais tempo para fomentar a ideia de que as eleições brasileiras não são transparentes.

Porém, a cada dia mais perto da votação, a ida para um 2º turno entre Lula e Bolsonaro vai ganhando forma, como um bolo no forno que começa a crescer. Isso porque as últimas pesquisas mostram que o ex-presidente vem se afastando gradativamente dos 50% dos votos e a tendência é que candidatos menos expressivos nas pesquisas, como é o caso de Ciro Gomes (PDT), "roubem" parte do eleitorado do candidato do PT. Enquanto Lula perdeu 2% de intenções de voto pós primeiro debate televiso (que aconteceu na TV Bandeirantes, no domingo dia 28 de agosto), o ex-governador do Ceará, que para muitos teve bom desempenho no debate, subiu exatos 2 pontos.

Mas isso de longe significa que Bolsonaro possa reverter sua posição em relação ao seu rival petista. É certo que depois do debate, o atual presidente não oscilou na intenção de votos, porém, sua rejeição aumentou de 51% para 52%. Em três semanas de campanha, Bolsonaro não saiu do lugar nas pesquisas, mostrando que seu fiel eleitorado está estático e que não deve crescer ou diminuir muito. Quem vota no presidente votará nele independentemente de qualquer coisa, agora quem não vota, dificilmente encontrará motivos para reeleger o candidato do PL. Nem mesmo o anti-petismo em um possível segundo turno faria Bolsonaro vencer, pois Lula herdaria grande parte dos votos de Ciro Gomes, o suficiente para garantir o retorno do petista ao Palácio do Planalto.

Para resolver a parada no 1º turno, Lula precisa convencer metade dos indecisos (cerca de 7%) ou retomar os votos que "perdeu" para Ciro Gomes com juros e correção. Mas ambas perspectivas são muito remotas. Os próximos debates irão ser muito benéficos para o candidato do PDT e para Simone Tebet (MDB), que foi muito bem no primeiro debate saltando de 2% para 5% nas pesquisas de intenção de voto. Se esses dois continuarem com o bom desempenho, vão fatiar entre eles os votos indecisos.

Outro agravante é que a equipe do ex-presidente já sinalizou que Lula deverá participar de apenas mais um debate, o último antes da votação, realizado pela Rede Globo. O "sumiço" da TV para debater propostas pode pegar mal para o petista e fazer Ciro pinçar mais dois ou até mesmo três pontos do candidato do PT, sacramentando o - cada vez mais - eminente 2º turno.

Mas nada que possa desesperar o eleitor de Lula. Segundo as pesquisas, ele vencerá Bolsonaro mesmo assim. Aliás, Bolsonaro não venceria nem que seu adversário fosse Ciro ou Tebet. O fato é que teremos Lula e Bolsonaro. Na verdade, é o que sempre tivemos para essas eleições. A dúvida é apenas uma: vai ser resolvido no 1º ou no 2º turno. Por tudo isso que falei, acredito que será a segunda opção.

Conhecimento é conquista.

FELIPE SCHADT é jornalista, professor e cientista da comunicação pela USP

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