Conhecimento é poder

Samuel Vidilli
| Tempo de leitura: 3 min

Quando sentimos dor, buscamos o auxílio de um médico. Quando temos dúvida quanto a uma lei ou inventário, consulta-se um advogado. Para saber o melhor antigripal, o farmacêutico pode dar aquela mão.

Mas com a ciência política é diferente. Todas as pessoas têm a solução do país, da cidade. E nem é questão de opinião, mas de tratarem tudo como fato.

E há uma diferença abissal entre uma coisa e outra.

Vou contar um "causo" para demonstrar como que as coisas estão complicadas para os profissionais da área de análise política: dia desses, coordenando um trabalho numa cidade do interior, de pesquisa de intenção de voto, tive de ouvir de uma pessoa que estava sendo entrevistada que ela não acreditava em nenhuma pesquisa. Isso me deixou muito desapontado. Tentei lhe explicar que não era bem assim, que ele mesmo estava participando de um estudo e que estava tudo certo. Mesmo assim, não se fez de rogado. Teimosamente não deu o braço a torcer. Mesmo eu lhe explicando como funcionam as pesquisas e a ciência por trás.

Por isso que hoje quero tratar do conhecimento como ferramenta essencial para termos o poder amplo de escolha dos melhores candidatos e também compreender as melhores soluções.

Conhecimento é poder. Saber, em meio a uma conversa, o que é falso e mentiroso, por exemplo, desde o momento que sai da boca do interlocutor determinada opinião é fundamental. Essencial.

Vivemos numa estranha época de "pós-verdade". A minha impressão é que hoje detentores do poder perderam o pudor de vociferar opiniões com convicção extrema e convencer seus seguidores. Quanto mais efeito, mais "lacração", melhor. Conteúdo que é bom, nada. Desafortunadamente, isso só faz aumentar a demagogia, diminui o poder de bons debates de ideias e de construção de opiniões plurais.

Parece que as pessoas, atualmente, não querem de forma alguma dar o braço a torcer. Ninguém mais fala "nossa, que bom ouvir seu lado dessa história, não havia pensado nisso". Não é tudo olho por olho, dente por dente.

Eu gosto muito de Max Weber. Para esse sociólogo alemão, a ação social do indivíduo era influenciada por uma série de valores, crenças e ideias. Ou seja, um emaranhado de ações sociais que se relacionam, precedem e são a causa de novas ações sociais que recebem o nome de pluricausalismo. Ou seja, nunca há um motivo principal para algo, mas sim uma série de fatores que devem ser levados em questão.

Isso é ter sensibilidade para lidar com o conhecimento e saber usá-lo para o bem.

Sim, sei que parece algo muito teórico. Entendo também que tratar esses temas em poucas linhas pode parecer pretensioso demais. Mas que todos nós possamos, a partir daqui, tomar gosto pelo amplo conhecimento, pela capacidade de ouvir vários lados e saber compreender aquilo que é verdadeiro do que é falso.

Vendo o debate entre presidenciáveis percebi que falta faz a boa retórica e o conhecimento na ponta da língua. Hoje, infelizmente, quem grita mais e é mais grosseiro se sobressai. Não podemos continuar assim, em sã consciência.

Samuel Vidilli é cientista social e pesquisador, colunista do JJ a cada 15 dias

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