Cartazes, cópias de boletins de ocorrência, depoimentos, gritos e vídeos. Nada disso foi suficiente para que os vereadores ouvissem os apelos dos alunos da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Franca. Mesmo diante das denúncias, a Câmara Municipal aprovou duas moções de apoio ao professor Gabriel Cepaluni, acusado de assédio pelos estudantes. A votação aconteceu na sessão ordinária desta terça-feira, 14, e foi marcada por manifestações e duas interrupções.
O vereador Leandro O Patriota (PL) apresentou duas moções: uma em apoio ao professor Gabriel Cepaluni e outra de repúdio às agressões que ele teria sofrido. Cepaluni é acusado de assédio e está envolvido em um episódio, atualmente investigado pela universidade, ocorrido em 2 de setembro. Na ocasião, ele teria sido impedido de entrar em sala de aula e agredido por estudantes. Os alunos, por outro lado, afirmam que foi o professor quem agrediu quatro alunas. Elas fizeram exames de corpo de delito e registraram boletins de ocorrência. O docente nega todas as acusações.
Apesar dos esforços de cerca de 100 estudantes que protestaram durante a sessão, as duas moções foram aprovadas pelo Legislativo francano.
"Esse vereador passa pano para assediador"
Os estudantes chegaram ao Plenário carregando cartazes com frases como: “Unesp sem assédio”, “Solidariedade às vítimas de assédio” e “Não queremos assediador na nossa universidade”. Também levaram cópias de boletins de ocorrência contra o professor acusado. A maioria do público era composta por mulheres, mas homens também participaram do protesto. Muitos usavam roupas vermelhas e camisetas de movimentos sociais ou partidos políticos.
Marcada para as 14h, a sessão só começou às 14h25. Após um pedido de inversão de pauta, foi lida a moção de apoio ao professor universitário Gabriel Cepaluni. O vereador Leandro O Patriota (PL) foi o primeiro a se pronunciar. Em seu discurso, defendeu o professor e afirmou que nada justifica as agressões que ele teria sofrido.
“Então por que estamos fazendo esta moção de apoio? Porque hoje aconteceu com um professor por ele ser de direita; amanhã pode acontecer com professores de esquerda. Nada justifica as agressões e as violências que ocorrem. É inaceitável que alguns alunos aqui presentes tentem justificar as agressões que cometeram: nada justifica agressão. Se ele está sendo investigado e vier a ser responsabilizado, que responda na justiça — não venham aqui querer fazer justiça com as próprias mãos. Não é assim que funciona”, disse ele.
Os estudantes entoaram gritos como: "Esse vereador passa pano para assediador" e "Essa moção não vai passar, somos estudantes, a gente quer falar". Apesar de o presidente da Câmara, Daniel Bassi (PSD), restituir o tempo de fala, o barulho provocado pela manifestação fez com que a sessão fosse adiada por 30 minutos.
Patriota se levantou, percorreu rapidamente o plenário e dirigiu-se ao meio dos estudantes, onde conversou com alguns, enquanto as manifestações continuavam. Não houve nenhuma ocorrência.
Pedido de adiamento por 5 sessões
O primeiro a se pronunciar no retorno da sessão foi o vereador Walker Bombeiro das Libras (PL), que esclareceu seu posicionamento contrário à moção. Em sua fala, ele destacou que, apesar de ter proximidade política com Patriota, não poderia apoiar alguém sob investigação por denúncias dessa gravidade.
“Eu sou declaradamente de direita — principalmente o Leandro sabe disso melhor que ninguém. A gente já viajou juntos, nossas ideias costumam coincidir bastante. Mas, antes de qualquer coisa, eu sou pai de uma menina. E, inclusive, há dois anos existem denúncias sobre assédio, o que é muito grave. Eu não sei o que faria se houvesse uma denúncia desse tipo na escola onde a minha filha estuda”, afirmou.
A vereadora Marília Martins (PSOL) criticou Leandro O Patriota, autor das moções. “Vereador, a sua intenção ao apresentar essa moção — agora, inclusive, o senhor diz: ‘Ah, acabei de receber a notícia’ — tem se mostrado, na verdade, um modus operandi: o senhor costuma apresentar projetos sem realmente entender ou verificar o que aconteceu”, disse Marília.
Durante sua fala, a vereadora pediu que fossem exibidas no telão imagens do episódio ocorrido no campus da Unesp. O vídeo, segundo ela, mostrava que Cepaluni havia entrado duas vezes na sala de aula no dia dos fatos, diferente do que havia alegado. “Ele disse que foi impedido de entrar na sala de aula. Mas, nas imagens, vemos a chegada dele: ele entra na sala — vazia —, pega o celular e vai até os estudantes para provocá-los. [...] Ao invés de procurar a administração ou simplesmente ir para a sala onde deveria dar aula, ele preferiu provocar”, afirmou.
Marília também lembrou que o professor responde a, pelo menos, 11 processos de assédio dentro da universidade, além de já ter sido afastado anteriormente. Para ela, uma moção de apoio apresentada sem apuração adequada é uma tentativa de “fazer politicagem com uma situação extremamente séria”.
Sob pressão dos manifestantes, Patriota tentou dialogar com os colegas de plenário sobre seu posicionamento, afirmando que fez a moção de apoio por todos os professores. Patriota reiterou que “nada justifica a agressão". Em seguida, falou de uma das manifestantes da plateia. "Tinha uma moça com a camisa do PCdoB, Partido Comunista Brasileiro. O comunismo matou milhões de pessoas no nosso Brasil. Nós não podemos tolerar isso”.
Votações
Walker sugeriu adiar por cinco sessões a votação da moção de apoio ao professor. Marília se posicionou contra, e após sua fala, o pedido foi votado: sete vereadores rejeitaram o adiamento e seis foram a favor.
A moção foi aprovada por dez votos a três. Apenas os vereadores Gilson Pelizaro, Marília Martins e Walker Bombeiro da Libras votaram contra.
Já a segunda moção, em repúdio às agressões que o professor teria sofrido, foi aprovada por 11 a 1. Apenas Marília Martins foi contrária. Gilson Pelizaro não votou e Lindsay Cardoso não estava presente na sessão por motivos de saúde.
A porta-voz do Cari (Centro Acadêmico de Relações Internacionais), Gabrielle Nascimento, abordou a indignação dos alunos com os vereadores após o resultado das votações. "A gente está o tempo inteiro dizendo que o caso que aconteceu com o professor e que eles estão movendo uma moção de solidariedade, que não tem nenhuma prova material daquilo com o que eles estão se solidarizando. Prova de agressão, nada disso existe. Por outro lado, a gente tem provas do assédio que está sendo apurado agora na Unesp, e eles estão colocando a solidariedade para um processo que ainda não teve nem a sua apuração concluída."
Para Gabrielle, a aprovação da moção “é um recado claro de que nada disso importa para eles. Não estão preocupados em legislar para Franca, em buscar medidas de segurança para mulheres, educação, transporte. Nada disso importa para os vereadores da Câmara aqui”, finalizou.
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Comentários
9 Comentários
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Pacato Cidadão 16/10/2025Sem motivo para protestos, unespianos chapados reivindicam assedio a professor... Tem defesa? -
Valeska 15/10/2025Calma garotas ,esses vereadores não nem o que estão fazendo naquele espaço,foram colocados lá pela parcela mais ignorante da população, que saiu dos esgotos com a chegada do bolsonarismo ao poder apoiados por igrejas caça níqueis,tudo emme nome de Deus,Patria e Família -
Darsio 15/10/2025A iniciativa desse tal Patriota se justifica por ser uma homenagem a todos os professores? Tá de brincadeira? Professor de verdade e que como sabemos luta para exercer dignamente a sua profissão em meio a descasos por parte da sociedade e de políticos, se sentirá representado por um sujeito que responde por assédio a estudantes? É digno que os verdadeiros professores sejam representados por uma pessoa que responde por vários crimes? Quando é que esse tal Patriota vai fazer jus a fortuna que recebe de salários e propor alguma coisa que realmente possa ir ao encontro das demandas da cidade? Será que ele está a par da calamidade que a saúde está enfrentando? DEIXE DE MAMAR NAS TETAS DO ERÁRIO PÚBLICO E TRABALHE DE VERDADE!!!! -
Darsio 15/10/2025Esse tal Patriota deve ser um acéfalo. Primeiro por que o sujeito, em troca dos seus maravilhosos salários e privilégios custeados pelos nossos bolsos, nos retorna com projetos idiotas, como por exemplo a criação da calçada da fama. Em segundo momento, por que afirma que o comunismo matou milhões de pessoas no Brasil. Oras! De onde ele tirou isso? Seria de sua privada? Quando foi que tivemos um governo ou regime comunista? Estaria ele falando da resistência contra os malditos militares que, tomaram o poder e, que torturavam e matavam os que a eles se opunham? Aliás, será que esse tal Patriota se quer concluiu o ensino médio? Saberia ele dizer o que é comunismo nos seus preceitos básicos e nos dizeres de seus principais pensadores? SUGIRO UMA ENXADA, COM UM BELO CABO DE GUATAMBU, E TROCENTOS TERRENOS PARA CAPINA, PARA QUE ESSE PATRIOTA SAIBA O QUE É REALMENTE TRABALHAR NA VIDA!!!! -
Adilson 15/10/2025Essa camara é fraca, frouxo, manipulada, deve ter muito rabo preso... -
Gabiroba 15/10/2025Desculpa a ignorância... Texto bem longo, mas não ficou claro que tipo de assédio ele está sendo acusado? Teriam informações mais precisas sobre o ocorrido? 11 casos? É isso mesmo?.... É sabido que a turma da Unesp é bem estridente e dodói, não aceitam nenhuma opinião diferente da doutrinação deles, mas é evidente que se o professor for condenado por assédio que ele seja punido e não homenageado por nossa câmara. Aliás, nossos vereadores não tem mais oque fazer não? Se envolver em briga de grêmio de escola é muito pouco diante de tanta necessidade em nossa cidade. -
A 15/10/2025Universidades sao antros de psicopatas e militantes perigosos. -
ALEXANDRE CESAR LIMA DINIZ 14/10/2025Político PL apoiando assediador não é surpresa alguma, P edofilia L iberada. -
Claudia 14/10/2025Por isso tem que saber bem em quem vota.