Diagnosticada há três anos, mas convivendo com sintomas há cinco, a francana Ana Laura Vital, de 30 anos, enfrenta uma das condições médicas mais dolorosas conhecidas: a neuralgia do trigêmeo. A doença atinge o nervo responsável pela sensibilidade do rosto e é descrita por especialistas como a “pior dor do mundo”. No caso dela, a doença atinge seu rosto do lado esquerdo.
As crises costumam surgir de repente, como choques elétricos, e podem ser desencadeadas por estímulos simples: um toque, mastigar, falar ou até mesmo um sopro de vento. “É uma dor que não dá para explicar. É insuportável. Parece que está me matando todos os dias”, desabafa Ana Laura.
Na última semana, ela passou por sua terceira cirurgia de descompressão microvascular no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde já vem sendo acompanhada. Nesse procedimento, os médicos afastam os vasos que comprimem o nervo trigêmeo e realizam uma limpeza na região afetada por intervenções anteriores. O objetivo não é a cura, mas a redução da intensidade das crises. “O médico me disse que agora é esperar sete dias para ver se vai amenizar. Não existe promessa de cura, mas pode me dar uma vida mais próxima do normal”, explica.
O pós-operatório foi um dos momentos mais difíceis que ela já viveu. “Eu saí da mesa de cirurgia com muita dor. A morfina não resolvia, nada resolvia. Eles tiveram que me sedar. Acordei ainda com dor, mas não podia ser sedada de novo. Foi desesperador”, lembra.
Apesar de tudo, Ana Laura faz questão de se agarrar à esperança. Diferente da influenciadora digital Carolina Arruda, também diagnosticada com a doença e que cogitou a eutanásia, ela rejeita essa possibilidade. “Eu não tenho na mente fazer a eutanásia. Eu quero viver. Eu quero realizar meus sonhos, quero que eu melhore e que todos que têm essa doença melhorem. Eu choro todos os dias, mas ainda acredito que vou ter uma vida”.
A batalha de Ana Laura não é só contra a dor, mas também contra os efeitos dos medicamentos. Ela faz uso de opioides como metadona e, em situações extremas, morfina. “O médico me falou para evitar ao máximo, porque a morfina começa a fazer o contrário depois de um tempo. Em casa, eu tenho, mas evito tomar. Só uso quando estou no hospital”, conta.
Morando com a mãe, a irmã mais nova e um sobrinho, Ana Laura encontra na família sua principal rede de apoio. “Minha mãe corre sempre que tenho crises, minha irmã me ajuda muito também. Eu não estaria aqui sem elas”, reconhece.
Com pesar, ela fala sobre os últimos anos, em que a vida ficou praticamente suspensa. “Eu parei tudo. Parei minhas terapias, minhas atividades, até de sair com amigos. Minha vida parou. Mas eu sigo com fé. Quero que essa cirurgia seja uma solução de novo na minha vida”.
A neuralgia do trigêmeo é uma condição rara, mas devastadora. Para muitos pacientes, as crises constantes minam não apenas a saúde física, mas também a saúde emocional. Ana Laura admite o esgotamento: “Eu choro todos os dias, todas as noites. Eu choro de dor, de tristeza, de cansaço. É muito difícil aguentar”.
Mesmo assim, ela insiste que sua luta é também por dignidade e pela chance de voltar a viver o cotidiano mais simples — algo que a doença lhe tirou. E é justamente desse contraste entre dor e resistência que nasce a força da francana. Mesmo diante de noites insones e crises incapacitantes, ela prefere olhar para o futuro. “Se deu certo para um, pode dar certo para outro. Eu tenho muita fé de que vai dar certo para mim também”, afirma.
Por isso, deixa uma mensagem que carrega o peso da sua própria experiência, mas também um convite à esperança. “Não desistam. Eu sei que é muito difícil e que às vezes tudo que temos é vontade de chorar, mas não desistam. A vida é linda, amem viver. Eu amo viver”.
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