A história de Marina Luzardo, de 34 anos, é feita de sonhos grandes, superação e muita bola no pé. Natural do Rio Grande do Sul, a atleta hoje representa com orgulho a cidade de Franca tanto no futebol de campo quanto no futsal feminino. Em entrevista ao GCN/Sampi, Marina abre o coração e relembra com emoção os passos de sua trajetória - desde as primeiras peladas da infância até vestir a camisa da Seleção Brasileira na Copa do Mundo Sub-20, em 2010, na Alemanha.
Desde muito pequena, Marina já deixava claro que seu lugar era dentro de campo. Jogava em quadras de escola, torneios de bairro, onde fosse possível - com garra, visão de jogo e uma paixão evidente pelo futebol.
“Eu queria demais, assim como qualquer atleta. Chega a dar aquele calor no coração só de imaginar. E quando aconteceu, parece que me faltou o ar. Caramba, eles me viram, chegou a minha vez!”, lembra, ao contar sobre a primeira convocação para vestir a camisa do Brasil.
O primeiro chamado nacional
Aos 15 anos, Marina foi convidada para integrar o time de campo do Sport Club Pelotas. A equipe se sagrou campeã gaúcha, e seu talento chamou a atenção dos olheiros. Aos 17 anos, veio a convocação para a Seleção Brasileira Sub-17.
“Na Sub-17, eu meio que esperava, porque foi indicação do meu técnico. Eu treinava dois períodos por dia e estudava no terceiro. Fui convocada como zagueira, pelo porte físico, mas jogava mesmo era de volante”, conta.
A ponte para a Seleção Sub-20
Foi também aos 17 que a carreira deu um novo salto. Um convite chegou do Sport Club Marília, time tradicional do interior paulista. Marina aceitou o desafio e veio para o estado de São Paulo. Jogando por Marília, disputou Jogos Regionais, Campeonatos Paulistas, e passou a se destacar ainda mais.
“A partir daí, minha carreira deslanchou. Conciliava tudo com a faculdade. Era puxado, mas eu sabia onde queria chegar.”
A atleta já chegou a jogar contra suas ídolas, como Cristiane e Formiga. "Foi cada emoção que eu vivi, que não sei mensurar tudo o que o futebol me trouxe."
Então, em 2010, veio o que Marina jamais imaginaria: a convocação para a Seleção Sub-20, seguida da notícia mais emocionante de sua vida - estava convocada para a Copa do Mundo Feminina Sub-20, na Alemanha.
O dia em que tudo mudou: a ligação da mãe, a notícia e as lágrimas
“Lembro como se fosse hoje. Eu ainda jogava pelo Marília e estava em um supermercado. Naquela época não tinha WhatsApp, nada disso. Meu celular tocou, era minha mãe. Quando atendi, ela já foi dizendo, emocionada: ‘Filha, você está convocada para a Copa do Mundo Feminina, você vai jogar na Alemanha!’.”
Com os olhos marejados, Marina relembra não apenas o momento da convocação, mas toda a luta por trás. “Meus pais sempre se dedicaram ao máximo para realizar meus sonhos. Ver o esforço deles, o quanto abriram mão, é algo que me emociona até hoje.”
Na Copa, Marina compartilhou campo com ídolas do futebol feminino, como Mônica, Rafaela, e lembra até de jogadoras icônicas como Leah, conhecida pelas laterais com cambalhota. “Era surreal. Jogar ao lado de quem eu via na TV foi incrível.”
Após o Mundial, vieram passagens por clubes como Botucatu e Foz do Iguaçu, até que Marina chegou a Franca. “Me apaixonei pela cidade. Me doei cem por cento ao time, e fomos crescendo juntos.”
Foram muitos campeonatos disputados, títulos conquistados e um sentimento de pertencimento cada vez mais forte. Até que, em meio ao auge, veio a primeira grande lesão: a ruptura do ligamento cruzado do joelho.
“Ficar longe dos gramados foi muito difícil. A recuperação levou quase um ano. Mas eu acompanhava cada jogo das meninas, estava sempre ali, torcendo, sentindo saudade de estar dentro de campo.”
O amor, a maternidade e o retorno com força total
Foi em Franca também que Marina conheceu sua companheira, Cristiane Bernardes. “Foi uma conexão linda. Construímos uma vida juntas, e em um momento decidimos ter nossa filha. Eu engravidaria, mas sem abandonar o esporte.”
Durante o tratamento para fertilização, ela seguiu firme nos treinos e jogos. Logo veio a notícia: estava grávida da Liz. Marina se afastou temporariamente, dedicou-se à gestação e à amamentação, mas voltou ao campo logo após esse período.
Pouco depois, outra lesão - agora no menisco do joelho - a tirou de campo por um curto período. Mas, como sempre, a vontade de voltar foi maior.
Hoje, mesmo com convites de outros clubes, Marina não pensa em sair de Franca. “Construí muita coisa linda aqui: minha família, meu time, que também é minha família. Continuarei representando Franca com orgulho, fazendo uma das coisas que mais amo: jogar futebol.”
Nos Jogos Regionais, Marina e o time francano ganharam medalha de bronze pelo futsal e uma de ouro pelo futebol. "Uma semana de maratona de jogos e muito trabalho que valeram a pena. Foram seis jogos em oito dias, com recompensa, bronze e ouro para Franca. Nada mal para uma mãe aposentada de 34 anos", brinca a atleta.
Além dos campos e quadras, Marina também realiza outro sonho: abriu um banho e tosa chamado Petchê, homenagem às suas origens e ao carinho pelos animais. “É meu outro xodó, mas o campo ainda é meu lugar.”
A jornada de Marina é inspiradora. Uma menina do Sul que sonhava alto e chegou ao topo do futebol mundial. Uma mulher que superou lesões, obstáculos e ainda decidiu viver o sonho da maternidade sem abrir mão da carreira esportiva.
Hoje, ela segue brilhando - seja nos campos de Franca, nas quadras de futsal, ou nos olhos da filha Liz, que cresce vendo a mãe ser exemplo de força, talento e amor pelo esporte.
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