Governo avalia que decisão de Moraes unificou direita
Apesar das manifestações públicas de apoio ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, integrantes do governo Lula (PT) admitem, sob reserva, que a decretação da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) abriu oportunidade de reunificação da direita no momento em que os bolsonaristas eram responsabilizados pelo tarifaço americano aos produtos brasileiros. O respaldo a Moraes, no entanto, é mantido dentro do governo.
Até então cobrados pelo tarifaço do governo Donald Trump, aliados de Bolsonaro adotaram a estratégia de vitimização do ex-presidente e decidiram obstruir a pauta do Congresso Nacional.
Com a tática, atraíram a solidariedade de políticos do centro, como foi o caso do presidente do PSD, Gilberto Kassab. A declaração do político conhecido pelo pragmatismo foi recebida por aliados de Lula como prova de realinhamento à direita.
Moraes determinou na segunda-feira (4) a prisão domiciliar de Bolsonaro por ter violado medidas cautelares.
O ex-presidente discursou, remotamente, para seus apoiadores durante manifestação no Rio de Janeiro, no domingo (3). A gravação da fala de Bolsonaro foi publicada nas redes sociais de seu filho Flávio e replicada por diversos perfis.
A ação midiática foi entendida pelo ministro do STF como um descumprimento da medida cautelar que o proibia de usar redes sociais de terceiros e de fazer discursos "pré-fabricados" para incitar apoiadores e governos estrangeiros contra o Supremo.
Embora repitam que Moraes se viu obrigado a adotar medidas diante do desrespeito à determinação judicial, o entorno do presidente Lula reconhece que a prisão pode reanimar o eleitorado bolsonarista.
Um interlocutor do presidente afirma que será necessária uma comunicação eficiente para mostrar que Bolsonaro descumpriu determinação judicial com intuito de provocar sua prisão e gerar comoção a seu favor.
Outro integrante do governo lamenta que Moraes tenha desperdiçado a chance de lançar mão da prisão domiciliar após a condenação de Bolsonaro pela trama golpista -o que poderia ser entendido até como um gesto magnânimo do ministro.
Integrantes do governo Lula afirmam que continua irrestrito o apoio ao ministro, além da defesa da soberania do Judiciário. O próprio presidente da República repete que não permitirá que exigências políticas contaminem as negociações comerciais com os EUA.
No Palácio do Planalto, há também a avaliação de que Moraes não teria alternativa senão decretar a prisão, após ter uma determinação desrespeitada pelo ex-presidente. Na opinião de auxiliares de Lula, Bolsonaro descumpriu a medida com o objetivo de provocar a própria prisão e deixar o magistrado sem saída.
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