OPINIÃO

Trump e Big Techs: a nova força global que desafia Moraes

Por Miguel Francisco | Especial para o GCN
| Tempo de leitura: 4 min
Ilustração

A posse de Donald Trump como 47º presidente dos Estados Unidos, no último dia 20, trouxe à tona uma surpreendente aliança entre o novo governo e os gigantes da tecnologia. Figuras proeminentes como Mark Zuckerberg (Meta), Sundar Pichai (Google), Jeff Bezos (Amazon), Tim Cook (Apple) e Sam Altman (OpenAI) estiveram presentes na cerimônia, ocupando posições de destaque.

Entre eles, obviamente, estava Elon Musk, agora Secretário de Eficiência Governamental dos Estados Unidos (DOGE). Além de ser o dono da maior companhia de carros elétricos do mundo e o homem mais rico do planeta, Musk é também proprietário do X (antigo Twitter), o que torna sua presença especialmente relevante neste contexto.

Essa cena, sem dúvidas, reverberou pelos salões do Supremo e deve ter causado inquietação em Alexandre de Moraes. O embate entre Musk e o ministro, ocorrido em 2024, serve como um precedente fundamental para compreender o cenário atual e os desafios que o Brasil pode enfrentar diante da nova aliança entre as Big Techs e o governo de Trump. O episódio do bloqueio do X no Brasil expôs, de forma incontestável, o conflito entre a liberdade de expressão e o ativismo judicial exercido pelo STF. A decisão de Moraes de suspender a plataforma no país demonstrou o poder que o Supremo buscava exercer sobre as redes sociais, especialmente aquelas que não se alinhavam com sua agenda de controle da informação.

Musk, que desde então se consolidou como uma das figuras mais influentes da política americana e um dos aliados mais próximos do presidente, não apenas resistiu às ordens do STF, mas transformou esse embate em um símbolo da luta contra a censura.

A suspensão do X no Brasil foi vista internacionalmente como um ataque direto à liberdade digital, com Musk denunciando a decisão como um abuso de autoridade.

Agora, com Trump no comando dos Estados Unidos e Musk exercendo um papel estratégico no novo governo, a situação muda drasticamente. Se o STF ou o governo Lula tentarem novamente impor restrições às redes sociais que agora têm respaldo direto da Casa Branca, enfrentarão não apenas resistência empresarial, mas também política e diplomática. O Brasil poderá se ver em uma posição delicada, com possíveis retaliações econômicas ou pressões internacionais vindas dos Estados Unidos, caso persista na tentativa de cercear a liberdade digital no país.

Para tornar a situação ainda mais desconfortável para os togados, um dos acontecimentos mais significativos dos últimos dias acabou passando despercebido: uma declaração de Mark Zuckerberg, cofundador e CEO da Meta. Em um vídeo recente, Zuckerberg revelou que cortes latino-americanas pressionaram sua empresa para censurar e manipular conteúdos — uma referência clara ao STF. Diante desse cenário, ele anunciou uma reorientação na Meta, encerrando parcerias com empresas de checagem de fatos desacreditadas e implementando um sistema de notas da comunidade, similar ao adotado por Musk no X. Essa mudança representa um golpe significativo contra aqueles que, por anos, utilizaram verificadores de fatos como ferramenta de censura e coerção política.

Apenas quinze dias após a posse de Trump, as repercussões de seu novo governo já são sentidas no Brasil. Como resposta, agências brasileiras e representantes do governo Lula convocaram audiências públicas sobre o tema neste último dia 22, oferecendo cadeiras para as principais empresas do setor. No entanto, para grande humilhação do governo, as corporações simplesmente ignoraram o convite e se abstiveram de comparecer.

Diante desse novo cenário, o governo começou a ventilar a possibilidade de ressuscitar o Projeto de Lei das Fake News, também conhecido como PL da Censura. Em 2023, estive em Brasília juntamente com dezenas de colegas do Movimento Brasil Livre (MBL) para protestar contra esse projeto. Percorremos o Anexo 4 da Câmara dos Deputados e a ala de comissões, dialogando com líderes partidários e articulando com a oposição. Nossa mobilização resultou na retirada do projeto de pauta, onde permanece até hoje, impedindo que o governo Lula transforme as redes sociais em instrumentos de controle estatal.

Contudo, aliados do governo, incluindo ministros e interlocutores, passaram a defender a regulação das redes sociais não mais pelo meio democrático, mas através do Supremo Tribunal Federal. Para quem observa atentamente, a rota de colisão torna-se evidente.

Qualquer tentativa de imposição pela força por parte do STF, como a ocorrida contra o X de Elon Musk, pode desencadear crises diplomáticas sérias, envolvendo não apenas os CEOs das grandes empresas de tecnologia, mas o próprio chefe do Executivo da maior potência mundial.

Trump agora é a ponta de lança do soft power americano e já demonstrou interesse em consolidar o poder dos Estados Unidos em regiões estratégicas como a Groenlândia, o Panamá e a Faixa de Gaza. Em um momento como este, um país latino-americano governado por um líder visto no exterior como comunista, corrupto e autoritário é tudo que o laranjão precisa para reforçar a influência ianque no início de seu mandato e conseguir uma vitória fácil.

Para o bem do Brasil — e assim rezo — é essencial que todos ajam com prudência.

Miguel Francisco é mecatrônico, coordenador estadual do Movimento Brasil Livre, estudante de Direito na UNESP de Franca e Colunista no portal GCN.

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Comentários

7 Comentários

  • Maria Erum 19/02/2025
    Finalmente um equilíbrio de forças. O STF tava mandando e desmandando sem resistência nenhuma, agora com Trump e as Big Techs se reposicionando, isso pode mudar. liberdade de expressão tem que ser garantida de verdade, sem essa desculpa de \'combate a fake news\' pra censurar quem pensa diferente. Vamos ver como Moraes vai reagir agora.
  • José Roberto 19/02/2025
    Bolson4azi seu legado e contradições: - Em 1986 foi preso por 15 dias por \"ter ferido a ética, gerando clima de inquietação na organização militar. Não ficou mais tempo preso devido ao corporativismo da justiça militar. Bolsonaro e outro oficial estariam elaborando um plano para explodir bombas-relógios em unidades militares do Rio de Janeiro. Ele foi acusado de cinco irregularidades e teve que responder a um Conselho de Justificação, uma espécie de inquérito, formado por três coronéis. Para não ficar feio junto ao Exército brasileiro se candidatou a vereador pela cidade do Rio de Janeiro, onde começou sua carreira política, sendo que na maioria das vezes que ganhou cargos eletivos boa parte deles foi por URNA ELETRÔNICA e toda vez que ganhou NUNCA reclamou de fraude. Só reclama quando perde? - \"Esse Congresso está mais do que podre\", gritou o então deputado federal Jair Bolsonaro no dia 20 de agosto de 1993. \"Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações. Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos, e só serão computados 3.000\". Disse, Bolsonaro, então filiado ao PPR (Partido Progressista Reformador) de Paulo Maluf. Na Eleição de 2018 o Bolsonaro disse: “Eu ganhei no primeiro turno. Eu falo isso não dá boca para fora, tenho como provar\", afirmou o chefe do Executivo a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. Até hoje não provou. Lembrando que foi por urna eletrônica que ele ganhou a eleição, sendo que em 1993 ele perdia urna eletrônica por que havia fraude. Ou seja, ele não sabe perder. É um menino birrento que adora fazer cortina de fumaça. - “Deus, pátria e família” era o slogan do movimento fascista Ação Integralista Brasileira (AIB) que apoiava o Hitl3r (ditador do nazism0) e também apoiava o Mussolin1 (ditador italiano). - “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, é uma inspiração no slogan nazist4 “Deutschland über alles” que está em alemão e significa “Alemanha acima de tudo”. - Em 2021, Bolsonaz1 recebeu e elogiou Beatrix von Storch neta de um ministro do Hitl3r e vice-presidente do partido neon4zista Alternativa para a Alemanda (AfD). - Em 2021, um apoiador de bolsonaz1 citou Hitl3r como exemplo para educação infantil. Ele não reprimiu o apoiador e concordou com a ideia. - O ex-secretário de Cultura de Bolsonaro, Roberto Alvim, reproduziu trechos de um discurso do ministro de propaganda da Alemanha Nazist4, Joseph Goebbels, além disso, imitou o cenário que utilizou Goebbels. - O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República e amigo de bolsonaz1, o Sr. Filipe Martins, fez um gesto nazist4 durante uma sessão do senado o WP com os dedos que significa White Power, traduzindo seria como supremacia branca ou força dos brancos. - Em 2015, Carlos Bolsonaro, convidou o professor Marco Antônio Santos para discursar na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O professor se vestiu com roupas semelhantes a Hitler e, então, tirou uma foto com Jair Bolsonaz1. - Em 2013 Jair Bolsonaz1 enviou uma carta a um neonazist4 preso em Minas Gerais. - Em 2011, nazist4s paulistas convocaram uma manifestação em defesa das declarações racistas e homofóbicas do então deputado, Jair Bolsonaz1, que ganhou a eleição para deputado por meio das urnas eletrônicas e não reclamou. - Em 2004, Bolsonaz1 enviou uma carta neofascist4s brasileiros, em que dizia: “vocês são a razão da existência do meu mandato” como deputado federal cuja eleição foi por urnas eletrônicas. Também não houve reclamação ou fraude, pois ele ganhou a eleição. - Em 1995, Jair Bolsonaz1, defendeu estudantes do Colégio Militar de Porto Alegre que haviam escolhido, Adolf Hitl3r, líder nazist4, como o personagem histórico mais admirado. – E os atos patéticos como o bater continência do bolson4azi diante da bandeira dos Estados Unidos!? Que patriotismo vira lata é esse?! - O Trump agora tem a taxa como sua principal política de governo. Ele chegou a dizer que tariff é a quarta palavra mais bonita do dicionário, depois de God, love e religion. Se o Brasil faz isso é absurdo. Mas, os EUA podem fazer?! Que patriotismo é esse?! Lembrando que o EUA NÃO TEM SAÚDE PÚBLICA! Se você não tiver dinheiro você simplesmente não é atendido ou morre. Basta ver o documentário Sicko S.O.S Saúde para entender como funciona lá antes de ficar babando para os EUA. - As tarifas, portanto, são PROTEÇÕES do mercado interno PARA VOCÊ BRASILEIRO QUE É EMPRESÁRIO GRANDE OU PEQUENO. Exatamente como no caso de Haddad pretendia. Proteger você. Para você conseguir competir com a China ou outro país estrangeiro. Alguém viu Luciano Hang (Véio da Havan) criticando Haddad por tarifar blusinhas??!?!?!?! Onde estão os memes e as críticas dos economistas defensores do mercado aberto aqui no Brasil? - Onde estão os adeptos do liberalismo econômico, por exemplo, o próprio ex-ministro Paulo Guedes, para criticar o neonacionalismo desenvolvimentista de Trump?! Nossos liberais, por exemplo, os representantes do Partido Novo, aparentemente não estão achando nada de errado com as medidas de Trump. Por que será?!?! Lá pode, aqui não?!?! - A extrema-direita no mundo utiliza os mesmos MÉTODOS para questionar a democracia. Basta ler o livro Como as democracias morrem dos autores Daniel Ziblatt e Steven Levitsky. Também pode ler Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições do autor Giuliano Da Empoli. Também é recomendado a leitura de: Uma breve história das mentiras fascistas do autor Federico Finchelstein, entre outros. - Quais são esses MÉTODOS??? Questionar resultado eleitoral com vitória ou derrota, desacreditar a justiça, criar um inimigo muitas vezes imaginário, usar o “grito” como forma de comunicação para não ir nas causas dos problemas reais, criar cortina de fumaça para a população se desviar dos verdadeiros problemas etc.
  • Daniel 18/02/2025
    Em primeiro lugar toda e qualquer ação que esse governo Trump fizer visa o lucro e o poder, nao são levadas em consideração real agendas como liberdade de expressão que nos dias atuais se confundem com difamação e espalhamento de mentiras com o intuito principal de enfraquecer regimes democráticos que contam com mecanismos de proteção com instituições como o STF, PF e a constituição. O que vemos é o nascimento de um novo tipo de regime corporativista controlado por uma classe de empresários que vão desde os grande players globais a pequenos atores regionais que tiveram contato com a ideologia que promete uma utopia através do capitalismo, copiaram o comunismo nesse quesito mas nao assumem. Nao pregam o capitalismo como uma parte natural das sociedades humanas que evoluiu para uma forma de capitalismo civilizado, regrado que segue as bases e valores da democracia, do diálogo, diplomacia e cooperação, adotam uma agenda agressiva que visa a qualquer custo promover a nação mais poderosa com os empresários mais ricos mesmo que isso custe o bem estar do povo, a soberania de um pais e que resulte em quebradeira por parte de radicais que se sentem iluminados e tocados pela luz que somente eles os escolhidos veem, e que lhes concede o direito de quebrar o congresso e cantar hino para pneus (chorando ainda).
  • Darsio 15/02/2025
    Concordo com o Jaques e entendo que o articulista deveria ampliar sua análise para outros países que, buscam estabelecer instrumentos no campo da legislação, para demonstrar que seus territórios não são terras de ninguém. As bigs Techs faturam bilhões explorando serviços no país e é justo que não paguem impostos, como fazem todas as demais empresas? Propagar mentiras que produzem violência, mortes e que adoecem pessoas é democracia? Permitir a existência de espaço para pornografia infantil ou para alimentar o ódio através de movimentos neonazistas, como bem fez Musk é democracia, isto é, liberdade de expressão? Sinceramente! Se os EUA tivessem um Alexandre da vida, o cenourão não teria se tornado presidente e feito todas as insanidades que estamos acompanhando, ou seja, perseguindo migrantes como bem faziam os imperadores romanos em relação aos cristãos, tratando-os como bandidos da pior espécie, negando as ciências e retroagindo a todas as discussões ambientais. Até mesmo o retorno do canudinho de plástico, o cenourão fez questão de aprovar. Sinceramente, vejo que o Xandão deveria ser indicado ao Nobel. Quanto ao Musk tudo indica que ele realmente dever ser o terceiro anticristo que muitos já apontam e, sua ascensão ao poder dos EUA é o prenúncio de muitos conflitos, guerras e fome. É só aguardar pra ver.
  • DANIELSOM 14/02/2025
    Até que enfim um jornalista decente, e enviesado e o comentario do jaques esquerdida kkkk
  • jaques campos 13/02/2025
    A visão dos fatos por esse articulista eh totalmente enviesada; no evento com o StF a rede X teve de se submeter a legislação brasileira, nomeando um responsavel pela empresa no Brasil e pagando uma multa pelos crimes cometidos, para poder operar no Brasil. O StF deixou claro que no territorio nacional não são aceitos a pratica de crimes como difamação, injuria, mentiras e correlatos. Quanto ao nazista americano e sua troup de pucha sacos podem fazer suas arbitrariedades em territorio americano, em se afetando as relações internacionais sofrerão retaliação. Alias varios paises, principalmente na Europa, estão tomando providencias em relação a regulamentação dessa redes sociais.
  • Mauro 12/02/2025
    Muito interessante ler num artigo num importante jornal de nossa região mencionar esse conflito entre a liberdade de expressão e o ativismo judicial exercido pelo STF. De fato, as decisões do ministro AleiXandre, alinhado numa espécie de um consórcio com o governo Lula e a grande mídia, tem demonstrado suas verdadeiras intenções de exercer um controle sobre as redes sociais, configurando, claramente, o controle da informação e da liberdade individual de expressão, para que não seja divulgado o descontrole total desse governo incompentente. Que bom que a situação está mudando drasticamente. A pressão popular tem um peso enorme. A sociedade tem marcado cada vez mais sua força na política e no debate público.