OPINIÃO

Álcool e drogas destruindo sua família? A Justiça pode te ajudar

Por Tiago Faggioni Bachur | Especial para o GCN/Sampi Franca
| Tempo de leitura: 4 min

Você tem um irmão, pai, mãe, tio ou qualquer outro parente que luta contra o vício do álcool ou drogas? Você já sentiu a angústia de vê-lo se afundar, sem saber o que fazer?

Se sim, saiba que você não está sozinho. Muitas famílias enfrentam essa dor diariamente, mas o que poucos sabem é que existem direitos dentro das leis que podem ajudar.

Sim! O dependente químico e seus familiares podem contar com medidas jurídicas para proteção patrimonial, acesso a tratamentos médicos e até mesmo benefícios financeiros.

Se você tem um ente querido nessa situação, continue lendo. O que você descobrir aqui pode ser o primeiro passo para mudar essa realidade.

1. Dependência química é uma doença

Antes de tudo, é essencial entender que o vício em álcool e drogas não é uma questão de fraqueza ou falta de caráter, mas sim uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A dependência química pode gerar:

  • Desejo compulsivo de consumir a substância;
  • Falta de controle sobre si mesmo e suas ações;
  • Problemas financeiros graves;
  • Dificuldades no emprego (ou até demissão);
  • Problemas de relacionamento com familiares e amigos;
  • Sérios riscos à própria vida e à vida de terceiros.

Muitas dessas pessoas não conseguem sair dessa situação sozinhas. Elas precisam de apoio médico, psicológico e, muitas vezes, intervenções jurídicas para garantir sua proteção e a da família.

E é aqui que a lei pode ser uma aliada.

2. Você pode interditar um familiar dependente químico?

Infelizmente, há casos em que a dependência química leva o indivíduo a perder totalmente o controle sobre sua vida, tornando-se incapaz de administrar dinheiro, bens e até de tomar decisões sobre sua própria saúde.

Nessas situações, a interdição judicial pode ser a melhor saída.

O que é a interdição?

A interdição é um processo judicial que declara uma pessoa incapaz de gerir sua vida e seus bens, nomeando um representante legal para tomar decisões em seu lugar.

Com a interdição, o dependente químico:

  • Não pode vender ou comprar bens sozinho;
  • Não pode contrair dívidas (evitando prejuízos para a família);
  • Não pode realizar contratos sem autorização do responsável legal;
  • Passa a ter um representante que garante seus direitos e proteção jurídica.

Isso traz mais segurança para a família e para o próprio dependente, evitando que ele seja explorado financeiramente ou que comprometa ainda mais seu futuro.

Esse representante legal poderá tomar até outras atitudes para ajudá-lo, como obrigar ao tratamento, mesmo contra a vontade do dependente químico.

Se seu familiar está gastando tudo com drogas ou álcool e colocando em risco o sustento da família, a interdição pode ser uma solução viável.

3. Benefícios do INSS: quem tem direito?

Além da interdição, muitas famílias desconhecem que o dependente químico pode ter direito a benefícios do INSS.

  • Se ele é segurado do INSS (ou seja, já contribuiu para a Previdência), pode solicitar auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, caso seja comprovada sua incapacidade de trabalhar.
  • Se ele nunca contribuiu para o INSS ou não tem mais qualidade de segurado, pode receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS), desde que comprove que sua renda familiar é baixa.

Esses benefícios podem ser um grande suporte financeiro para auxiliar nos custos com tratamentos, internações e medicamentos.

Se o seu familiar está impossibilitado de trabalhar por causa do vício, não hesite em buscar um especialista para analisar o direito e solicitar os benefícios do INSS. Caso a Previdência Social negue esse direito, você poderá ingressar com ação na Justiça.

4. Internação pode ser feita pelo sus ou pelo plano de saúde?

Sim! O direito à saúde é garantido pela Constituição e, por isso, o dependente químico pode buscar tratamento:

  • Pelo SUS – O Sistema Único de Saúde oferece tratamentos ambulatoriais e até internações em alguns casos. É possível buscar atendimento em Caps (Centros de Atenção Psicossocial) ou em hospitais psiquiátricos conveniados.
  • Pelo Plano de Saúde – Se a pessoa possui plano de saúde, a operadora é obrigada a cobrir tratamentos psiquiátricos, incluindo internações, conforme determinação da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

Caso a operadora negue o tratamento necessário, a Justiça pode ser acionada para garantir esse direito.

A saúde é um direito fundamental, e ninguém pode ser privado do acesso a um tratamento adequado.

5. O que você pode fazer agora?

Agora que você já sabe que a lei oferece recursos para proteger seu familiar, o que você pode fazer a partir de hoje?

  • Se ele está descontrolado financeiramente e comprometendo o patrimônio da família, a interdição pode ser uma saída.
  • Se ele não consegue mais trabalhar, pode ter direito a benefícios do INSS.
  • Se precisa de tratamento, pode exigir cobertura do plano de saúde ou buscar internação pelo SUS.

Mas atenção! Todos esses direitos precisam ser requeridos corretamente, com a documentação necessária e, muitas vezes, com um advogado especializado para garantir que a Justiça realmente funcione.

6. Não espere o pior acontecer!

A dependência química não pode ser ignorada, pois as consequências podem ser devastadoras para a pessoa e para toda a família.

Se você está enfrentando essa situação, não precisa carregar esse peso sozinho.

Existem caminhos legais e médicos que podem salvar a vida do seu familiar e devolver a paz para sua casa.

Se tiver dúvidas sobre como agir, procure um advogado especialista de sua confiança e tome as medidas necessárias o quanto antes.

Proteja quem você ama antes que seja tarde!

Tiago Faggioni Bachur é advogado, especialista e professor de direito previdenciário e autor de obras jurídicas.

 

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