
Franca, a capital do calçado e do basquete, é também uma cidade que pulsa com histórias, talentos e possibilidades culturais ainda à espera de um palco maior. A pergunta que se impõe é: até quando seremos conhecidos apenas pelo que produzimos e não pelo que inspiramos?
Imagine uma Franca onde a cultura deixe de ser coadjuvante e assuma o papel de protagonista. Onde nossas praças, hoje tomadas pelo mato e sujeira, tornam-se palcos vibrantes de música, teatro e arte. Onde os bairros periféricos, muitas vezes esquecidos, transformam-se em pólos vibrantes de inclusão. Onde nossas tradições e talentos não só geram orgulho, mas também atraem visitantes de longe, movidos pelo desejo de vivenciar a criatividade local.
A cultura é muito mais do que lazer; é uma poderosa alavanca econômica. Em Franca ouvimos há anos falas sobre a baixa produção de riqueza, já que a indústria calçadista vive os impactos da concorrência internacional e das crises internas, o que impacta em um orçamento público também muito menor que de cidades do mesmo porte - e, claro, menores recursos para investimentos públicos. Mas são muitos os lugares que se reinventaram e encontraram na cultura uma fonte de recursos inestimável.
Exemplos de cidades que geram riqueza e se tornam referência usando a cultura como base não faltam: Gramado se tornou referência internacional com seu festival de cinema; Ribeirão Preto atrai milhares com sua Feira do Livro; no Rio de Janeiro, festivais de música atraem multidões do país todo. Fora do Brasil, um exemplo muito emblemático são os parques da Disney. Na década de 50, um empresário decidiu investir em uma área pantanosa e criar um dos maiores parques temáticos do mundo. Uma região inteira se tornou um motor econômico, sonho que vale uma viagem, longa e cara, para milhares e milhares de turistas do planeta.
A economia criativa faz parte de um grupo de cinco “economias emergentes”, que apresentam o maior potencial de crescimento nos próximos anos (a economia verde, a economia do cuidado, a economia prateada, a economia criativa e a economia digital). O setor cultural no Brasil experimentou uma expansão de 4% na oferta de empregos em 2023, comparado aos 2% observados na economia geral, com 7,8 milhões de novos postos de trabalho no ano. De acordo com o painel de dados do Observatório da Fundação Itaú, de abril a dezembro de 2023, foram gerados 577 mil novas vagas, um salto significativo em relação aos 287 mil registrados no ano anterior.
Franca, com sua rica história, artistas talentosos e paixão por inovação, tem tudo para trilhar um caminho próprio nesse cenário. Em 2024, artistas de todos os 645 municípios do Estado de SP puderam concorrer a bolsas de incentivo no PROAC (Programa de Ação Cultural de SP). De 20 selecionados na área de música, 3 são de Franca. A cidade também teve grupos do teatro, folia de reis e hip hop aprovados, além de outros grupos contemplados em editais dentro e fora do Brasil. Isso significa que apenas alguns grupos talentosos da cidade vão injetar quase 2 milhões na economia da cidade em 2025.
Imagine se Franca tivesse uma central de projetos para ensinar demais grupos e artistas a se inscreverem também, ou que a prefeitura investisse pelo menos 1% do seu orçamento, no setor.
Investir na cultura é investir nas pessoas. É dar voz aos jovens, oportunidades aos artistas, vida aos espaços públicos. É gerar empregos, fortalecer o turismo e criar um legado que será lembrado pelas próximas gerações.
Mas é preciso investir com consistência, planejamento e transparência.
A cultura é a chave para movimentar nossa economia e, ao mesmo tempo, encher de orgulho os corações francanos.
O que Franca precisa agora é de visão, coragem e ação. Porque, no fundo, não é apenas sobre atrair visitantes ou criar empregos; é sobre construir uma cidade que vale a viagem – e onde vale a pena viver.
Marília Martins é professora, produtora cultural, foi membro do Conselho de Políticas Culturais, do Conselho da Condição Feminina e atualmente é vereadora pelo Psol.
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Comentários
5 Comentários
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Samara 18/01/2025Qual o email para falar com a vereadora?
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Everson 17/01/2025Eu era do sul e morei em gramado e digo nem de longe e essa cidade maravilhosa tem vários problemas ,meu irmão ainda vive em canela que e uma cidade proxima a gramado,e uma cidade que hoje passa por dificuldade de se manter por falta de turistas principalmente apos a pandemia,muitos lugares simplesmente faliram e muitos moradores foram embora,muitos turistas mesmo do RS muitas vezes evitam gramado pelos preços elevados.
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Darsio 17/01/2025Grande parte de nossa população, a exemplo do que ocorre em outros lugares do Brasil, carece de uma boa formação educacional que esteja focada no verdadeiro exercício de cidadania e, por conta disso cegando muitas pessoas quanto a relevância da cultura, não somente para a própria identidade local, mas também para a economia. A Coréia do Sul, tida como Tigre Asiático, foi um dos países que mais investiram em educação nas últimas décadas e, como consequência se tornou uma das mais importantes forças econômicas e tecnológicas do mundo e, a produção e exportação de produtos audiovisuais tem lhe rendido a entrada de bilhões de dólares nesses últimos anos. Afinal, como esquecer o filme “Parasita” que, atraiu milhões de pessoas nos cinemas e lhe rendeu premiações no Oscar? Um povo de cultura é um povo sábio e, vejam que isso foi imensamente importante para impedir que seu presidente Yoon Suuk, avançasse no seu golpe de Estado e, agora enfrenta a prisão. No Brasil temos um ex-presidente que cometeu os mais absurdos tipos de crimes e, mesmo com tantas provas inquestionáveis, continua solto e adorado por lunáticos que o reverencia como se fosse a reencarnação de Cristo. Manter um povo embriagado de ignorância é na verdade um projeto proposital para perpetuar um Brasil para poucos, um país em que suas elites se enriquecem as custas do suor e do sangue do povo trabalhador.
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Cecilia Fuentes 16/01/2025Parabéns Marilia, acredito em todas suas palavras. Precisamos de Franca mais humana e culturalmente valorizada.
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José Roberto 16/01/2025Marília, você tem que capitanear uma reforma nos cargos da prefeitura de franca. Todo mundo é escriturário de nível médio salário baixíssimo. Não há cargos de nível superior em nível de gestão/administração como, por exemplo, Analista de políticas públicas e gestão governamental, analista de recursos humanos, analista de direito/jurídico, Jornalista, analista de redes sociais, recepcionista, controlador interno, auxiliar de recursos humanos etc. Privilegiar pessoas formadas em nível superior bacharelado. É possível que haja muito desvio de função em decorrência de todo mundo ser escriturário de nível médio. Um auxiliar em administrativo em Guaíra - SP recebe mais de R$ 5.000,00 por mês (nível médio) + benefícios, aqui em Franca um escriturário recebe menos de 2 salários mínimos!!!! Faça uma reforma dos cargos, salários e carreiras da prefeitura a lei é muito antiga. Está defasada!!!!! Valorize o empregado público. O empregado público bem remunerado consome na cidade criando um circulo virtuoso! A remuneração atual é muito desestimulante!!!!! Crie uma política pública para favorecer os empregados públicos que façam pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) tempo de casa. Estimule as funções de nível fundamental também para concluir ensino médio. As pessoas respondem a incentivos. Valorizem o empregado público!!!!