NOSSAS LETRAS

Inexorável!

Por Zerroberto de Souza | Especial para o GCN/Sampi Franca
| Tempo de leitura: 2 min

Um dia, sei lá quantos anos atrás, escrevi um pequeno texto, por volta de 23h59min, em que eu dizia que estava passando por um momento em que era muito tarde para ser hoje, e muito cedo para ter amanhã.

No átimo da passagem de um dia para o outro, a coisa se indefine. O minuto que encerra o dia encontra uma situação inusitada: tanto pode ser vinte e quatro horas, quanto pode ser zero hora. No segundo específico 24:00’00”, também é 00:00’00”. Muito tarde para hoje. Ainda cedo para amanhã.

Coisa de pós adolescente, cheio de reflexões pseudofilosóficas.

O problema é que a pós-adolescência não dura para sempre. Nem as pseudofilosofias.

A vida cobra!

Venho de um velório. Esposa de um amigo.

Sempre detestei velórios.

Desde quando era arrastado para os velórios, ora de um amigo ou amiga do meu avô. Ora avô ou avó de algum amigo.

Até que vieram os velórios de meus avós. Ninguém me arrastando. Obrigação simplesmente.

Tempo implacável passando rapidamente e sem pressa.

Mais velórios e missas de sétimos dias. Ora de um amigo de meu pai. De uma conhecida da minha mãe. Ora pai ou mãe de algum amigo.

E a tristeza absurda dos velórios de meus pais.

Aí me chegam os cinquenta e poucos anos. A volta daquela situação do início: muito cedo para ter-me velho. Muito tarde para me ver jovem.

Nada a ver com os cabelos que faltam e que nenhuma falta fazem. Nem com os dentes que faltam e que muita falta fazem.

A questão é que vai longe o tempo em que a vida era um caminho longo a ser percorrido. A um sonho não realizado, o consolo de que tinha “uma vida pela frente” para que a utopia se dissipasse.

E hoje, velórios de amigos, de esposas de amigos, de irmãos de amigos.

Se tudo na vida acontece em ciclos, está no meu círculo a bola da vez.

Hora de me preocupar mais em manter em dia meu carnê do plano funerário!

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