VIOLÊNCIA

Em 5 meses, duas moradoras de Franca são mortas carbonizadas pelos maridos

Por Hevertom Talles | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução
Sara Cristina Candeias Carvalho, de 24 anos, e Vanessa Eduarda Souza Bertolina, de 33 anos
Sara Cristina Candeias Carvalho, de 24 anos, e Vanessa Eduarda Souza Bertolina, de 33 anos

Duas mulheres que residiam em bairros distantes um do outro, em Franca - uma na região Norte e outra na região Sul -, que não se conheciam e tiveram um fim trágico, vítimas dos próprios maridos e com crueldade, ao serem carbonizadas por seus agressores.

27 de setembro de 2023
Ainda no ano passado, em uma quarta-feira, no dia 27 de setembro, Max Rogério Ambrósio de Oliveira, de 32 anos, ateou fogo contra a sua mulher, Vanessa Eduarda Souza Bertolina, de 33 anos, na casa onde eles moravam, no Leporace, na região Norte de Franca. No local, funcionava uma banca de pesponto que mantinha produtos químicos, o que foi funcionou como “arma” para o feminicídio.

Vanessa foi atacada nos fundos do imóvel, sem chances de defesa. A vítima morreu carbonizada, antes mesmo de o socorro chegar, com viaturas do Corpo de Bombeiros e do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Após o crime, Max, que também sofreu queimaduras, foi preso em flagrante, a poucos quarteirões do local do crime.

Vizinhos, na época, afirmaram que o casal havia brigado havia poucos dias antes da morte de Vanessa.

21 de fevereiro de 2024
Cinco meses depois, na outra ponta da cidade, no Jardim Aeroporto II, zona Sul de Franca, Sara Cristina Candeias Carvalho, de 24 anos, foi morta carbonizada pelo próprio marido, dentro de casa.

Kaio Ignácio da Rocha, de 27 anos, matou Sara enforcada e, depois, ateou fogo no seu corpo. Um bebê de 7 meses, filho da mulher, estava no local durante o crime e foi deixado pelo assassino na casa de uma outra pessoa, logo depois do feminicídio.

O casal tinha um relacionamento conturbado, segundo os relatos. Ainda neste ano, no mês de janeiro, Sara já havia sido agredida por Kaio e chegou a ficar internada em estado grave. Mas depois de recuperada, reatou o relacionamento e foi morar junto com quem tiraria a sua vida.

O assassino, que estava em liberdade condicional havia cerca de quatro meses, se entregou dois dias depois na sede da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Franca, na manhã da última sexta-feira, 23, e permaneceu preso já que a Justiça determinou a prisão preventiva por conta do feminicídio. Contra ele, já existem um processo por roubo e outro por ameaça.

Medida Protetiva na prática 
Isabel Tessedor, advogada criminal, que atua inclusive auxiliando mulheres que estão sofrendo ameaças dos companheiros e buscam na Justiça um respaldado, afirma que em alguns casos, a vítima denuncia o companheiro, começa o processo, mas voltam atrás, até mesmo pedindo para retirar a denúncia.

“Já tiveram casos de a gente pedir lá para o delegado, ou mesmo eu pedir, e a mulher queria na hora, queria a todo custo que a justiça fosse feita e logo depois, passados alguns dias, já me procurava para pedir a retirada dessas medidas protetivas", conta a advogada, completando que o Ministério Público precisa ouvir a vítima para saber o motivo daquilo e concordar com a retirada das medidas.

Isabela acredita que, em casos onde o companheiro está determinado a tirar a vida da vítima, a medida protetiva concedida através da Lei Maria da Penha, que determina uma distância entre as partes, perde força.

“Para aquele agressor que está determinado em ceifar a vida da vítima, que já demonstrou por outras atitudes o desejo de ceifar a vida daquela mulher, não é nem um pouco eficaz, porque não passa de um papel", afirma.

Para ela, "a pessoa que agride uma mulher não está nem aí para lei". "Ele não está preocupado com medidas protetivas, ele não está preocupado em ser preso. Então, para ele, não vai fazer diferença alguma, independente de medida protetiva ou não", continua a advogada.

Ainda segundo Isabela, Franca conta com um espaço para acolher mulheres que são vítimas de violência doméstica, o que serve como uma alternativa para sair desse círculo. “Tem um lar aqui em Franca para essas mulheres vítimas de violência doméstica. Elas, quando querem, são encaminhadas. Até hoje em dia, quando você vai fazer queixa de violência doméstica, você preenche na delegacia um questionário perguntando se você tem interesse em ser acolhida nessas casas assistenciais a mulheres vítimas de violência".

Para ela, um maior investimento em políticas públicas para tratar a dependência emocional que muitas dessas mulheres sofrem, ou mesmo, algum subsídio, por conta da dependência financeira, também seria uma arma contra a violência doméstica.

Como pedir ajuda
Em casos de violência doméstica, a vítima pode denunciar o agressor e chamar socorro pela 190 da Polícia Militar, Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher ou se dirigir até delegacia de plantão mais próxima.

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