A onda de furtos atinge também estátuas, monumentos e outros símbolos históricos de Franca. Essas figuras não podem fazer nada, mas o Poder Público tem a responsabilidade da manutenção e conservação desses patrimônios culturais da cidade, que neste ano vai completar seu bicentenário.
Franca conta com pelo menos 15 monumentos públicos importantes que, de alguma forma, colaboram para formar a vasta e rica história da cidade, mas a maioria sofre com o descaso e muitos não possuem mais a placa de identificação. Isso sem dizer dos vários prédios históricos - entre eles, a antiga Unesp e o Colégio Champagnat -, que estão abandonados na cidade.
O Relógio do Sol, um dos principais cartões postais da cidade, que fica na praça central da cidade, Nossa Senhora da Conceição, é o retrato do desleixo. A pessoa que busca informações sobre a obra construída por Frei Germano de Annecy, matemático e astrônomo, natural de Saboia, na França, que residiu em Franca em 1887, fica sem resposta.
Quem passa pela avenida Orlando Dompieri, se depara com uma estátua de corpo inteiro de um homem, mas poucos sabem de quem é a réplica que nomeia uma das vias mais movimentadas da cidade. No monumento, há as marcas da placa que um dia fora colocada ali, e explicava que Dompieri foi um artista de teatro, radioator e novelista de Franca.
Mauro Ferreira, doutor em arquitetura e urbanismo, professor do mestrado em Políticas Públicas da Unesp - Franca, autor do livro "Vila Franca d´el Rey - 200 anos de arquitetura e urbanismo", que conta a história da cidade através do tempo pelas suas construções, lamenta o descaso com os monumentos e edifícios de caráter histórico da cidade, em especial aqueles tombados como patrimônio histórico pelo Condephat municipal.
“Infelizmente, esse cuidado pelas administrações municipais tem sido ineficaz. Basta ver a precária situação dos prédios do museu histórico, dos antigos colégios Champagnat e Lourdes, dentre outros. O descaso não é só do poder público, é dos particulares também, como comprova a absurda queda da cobertura do ginásio do Clube dos Bagres, que poderia ter provocado uma tragédia sem precedentes”, disse.
O professor e escritor lamenta não haver um processo de educação patrimonial permanente, que envolva a comunidade na preservação do rico patrimônio, que conta a história da cidade através dos tempos. “As placas dos monumentos desaparecem por furto e não são repostas, mas também não há ações educacionais por parte do Poder Público. Nunca houve uma estruturação de um setor de conservação do patrimônio no governo local, restrito a ações pontuais de tombamento que não são acompanhadas por conservação e manutenção dos bens tombados de forma permanente”.
Ferreira diz que é preciso urgentemente estruturar um sistema de preservação desses patrimônios, principalmente neste ano em que a cidade vai comemorar uma data tão importante. “Nestes 200 anos que Franca comemora, sua história tem sido destruída pela ação do tempo e pelo descaso, sem que haja um olhar específico da sociedade e do poder público sobre isso”.
Em 2021, a Prefeitura disse que estava elaborando um planejamento de manutenção e conservação para que o público pudesse visitar e obter todas as informações dos monumentos, mas até hoje não saiu do papel.
O prsidnete da Feac (Fundação, Esporte, Arte e Cultura), Matheus Caetano, que responde pela área de arte e cultura do município de Franca, disse nesta semana que a Prefeitura está com licitação aberta para aquisição de placas para recolocar nos monumentos, mas não esclareceu nada sobre o planejamento de manutenção e conservação dos símbolos históricos da Franca do Imperador.
“As placas que não foram localizadas devido aos furtos, serão substituídas por placas de acrílico, contendo QR Code, contando a história de cada monumento. Foi aberta a licitação para a aquisição do material, seguindo os trâmites administrativos”.
Os principais monumentos de Franca
Relógio do Sol (localizado na praça central Nossa Senhora da Conceição); Fonte Luminosa Quatro Estações (praça Nossa Senhora da Conceição); Concha Acústica (praça Nossa Senhora da Conceição); Soldado Constitucionalista (Praça 9 de Julho); Cristo Redentor (avenida Presidente Vargas); José de Anchieta (praça João Mendes); Presidente Getúlio Dorneles Vargas (avenida Presidente Vargas); São Pedro (bairro Miramontes); Índio (praça Barão de Luca, Estação); Marcelino Champagnat (prédio do Champagnat); O Pensador de Rodin (praça Carlos Pacheco); Trabalhador (Praça 1º de Maio); Ao Sapateiro (rotatória da rua Alfredo Tossi com a rua dos Sapateiros); Liberdade (praça Sabino Loureiro, Estação); Atleta (Praça 1º de Maio); Dr. Ismael Alonso y Alonso (avenida Ismael Alonso y Alonso); Orlando Dompieri (avenida Orlando Dompieri); e Mãe Preta (praça Ana Belmonte).
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Comentários
5 Comentários
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JOIAS DAS ARABIAS 22/01/2024Se não bastassem os roubos frequentes, o patrimônio histórico também sofre em função da falta de cultura por parte da população, do descaso com a sua própria história. Afinal, as pessoas não veem a mínima importância em visitar um museu, em observar e analisar a arquitetura de uma construção ou o simbolismo de uma escultura, pois querem apenas concentrar seus dedos em um celular e dar atenção unicamente as redes sociais, joguinhos e WhatsApp. Até mesmo a afetividade entre pais e filhos foi substituída pelo celular. Ignora-se o fato de que a grandeza de uma cidade se explica pela sua história. E, nada é feito para reverter essa apatia cultural, pois nem mesmo nas escolas existem programas que possam incentivar e oferecer condições para que os professores possam levar os alunos a um museu ou mesmo a uma visita a construções historicamente importantes. Nossos alunos são prisioneiros de quatro paredes, que os isolam da realidade e que os impedem de respirar e vivenciar a história e a cultura de sua própria cidade. Todo esse descaso é fruto de uma sociedade, cujos governantes nunca deram qualquer prioridade a educação. -
JOIAS DAS ARABIAS 22/01/2024Um sujeito chega a um depósito de compra e venda de sucatas e, alegando ter encontrado no lixo, vende uma estátua de bronze ou ainda placas de monumentos feitas do mesmo material. Interessado no retorno financeiro que terá, o dono do estabelecimento compra o material, sabendo claramente que o mesmo não foi achado no lixo ou em terrenos baldios e, sim roubado. Oras! Isso não se chama interceptação de material roubado? Haveria tanto roubo de fiação elétrica e materiais de monumentos históricos se não houvesse interceptadores de materiais com essa procedência? Afinal, para quem os ladrões venderiam o material? Para as farmácias? Padarias? Torno a perguntar por qual motivo não existe uma legislação mais rígida para a abertura e funcionamento de depósitos de sucata? E, por qual motivo a fiscalização tanto falha? Seria seus donos avisados com antecedência de uma visita da polícia e assim ter tempo de esconder o material roubado? Existem infiltrados na polícia e na prefeitura, alinhados a donos de sucatas que agem na ilegalidade? E, notem que onde existem depósitos de sucatas, existem muitos moradores de ruas, pois muitos dos mesmos são os que roubam os metais e, os vendem para que assim possam comprar drogas. -
Tiago 20/01/2024Acho que estão faltando mais monumentos históricos novos e praças bonitas e bem cuidadas também. Parece que essas coisas só eram feitas há muito tempo atrás. -
Anônimo 20/01/2024Sinal de que franca está totalmente abandonada e jogada nas traças. -
Aparecida 20/01/2024Infelizmente Franca não só locais históricos como toda cidade está um abandono total, a administração tem feito \"reparozinhos\" somente em avenidas onde tem maior fluxo de eleitores... \"interesses próprios\"