“Eu não sabia do problema que era. Ele é um medicamento que vende 'igual água' na farmácia, sem restrição médica”, conta Mariana Bertoni, mãe de Sophia, de 5 anos, que foi internada pelo uso indevido de descongestionante nasal. A menina foi atendida no Hospital Regional de Franca.
Mariana conta que a filha havia acabado de chegar de um período na fazenda com os avós. Depois de um fim de semana brincando, Sophia chegou em casa e dormiu. Nada fora do normal. Na segunda-feira, 11, Mariana recebe uma ligação da escola de Sophia, a professora diz que a menina vem se queixando de muita dor de cabeça e cansaço. A mãe, então, busca a criança na escola e elas vão para casa.
Em casa, Mariana estranha o comportamento da filha, que dorme o dia inteiro. “A Sofia é muito hiperativa, é muito difícil isso acontecer. Liguei para minha mãe e falou assim ‘Ela brincou todo o final de semana, com certeza é cansaço. Deixa ela dormir.’”. Ela narra que, a noite, a menina se alimentou e não queixou de mais nada além da dor de cabeça e ela não apresentava febre.
Na terça-feira, 12 de setembro, a professora de Sophia volta a ligar para a mãe da menina, afirmando que havia algo de errado. “Ela estava com os mesmos sintomas, só que agora ela estava com um suor excessivo, muito gelada e muito pálida, dormindo em pé, dormindo na carteira da escola. Eu apavorei, e na hora que eu a busquei já levei para o plantão”.
Após uma série de exames, os médicos descartaram a possibilidade de diabetes, covid e meningite. Mas, como a criança não apresentava melhora no quadro, foi solicitado um exame de eletrocardiograma, para avaliar o funcionamento do coração de Sophia. O exame alertou a família e médicos ao indicar que seus batimentos estavam em 51 bpm - o valor normal para uma criança de 5 anos varia de 120 a 140 bpm.
“Ela já estava entrando em choque anafilático. Ela poderia ter uma parada cardíaca, porque os batimentos estavam muito fracos. Ela estava suando tanto, suava frio... Foi assustador. Os batimentos cardíacos da Sofia chegaram a 36. Ela ficou um dia internada no hospital”, contou a mãe.
A fim de entender o que poderia estar causando esses sintomas em Sophia, a médica faz uma série de perguntas à Mariana, e uma delas foi sobre os medicamentos usados pelos pais da criança. “Não tomo nenhum. 'O remédio que eu tomo, que é constante, além do da pressão - que fica guardado fora do alcance da Sophia - é o Neosoro', eu falei. A médica na hora já me disse ‘Mariana, não precisa falar mais nada, o problema está aí’”.
Mariana conta que usa o descongestionante nasal diariamente, e tem diversas unidades espalhadas pela casa. “A gente usa 'igual água' e não tem essa consciência nem essa informação sobre o mal que causa para criança”.
Com ajuda da equipe médica e psicóloga, Sophia foi questionada sobre o uso do medicamento, e contou que usou sim alguns dias antes, e, embora a equipe não tenha certeza da quantidade ingerida por Sophia, os sintomas foram atrelados ao Neosoro.
"Não existe dose segura para a faixa pediátrica e os pais devem observar a presença de descongestionantes, tais como a nafazolina, pois ela é contraindicada para as crianças", revela Cristina Nascimento Lassie, coordenadora médica da UTI pediátrica do Hospital Regional de Franca, integrante da Hapvida NotreDame Intermédica.
Ela explica que um componente do descongestionante nasal, Nafazolina, é proibido há mais de 10 anos pela Anvisa em medicamentos para crianças, mas que ela está presente nos medicamentos de uso adulto, e seus efeitos em crianças podem ser perigosos.
"Os sintomas mais leves vão desde uma sonolência a uma alteração de pressão e da frequência cardíaca, mas essa sonolência pode variar até o coma, nos casos mais graves. […] Por isso, é necessário o cuidado redobrado no momento da compra. Não pode deixar em local de fácil acesso, pois muitas crianças acham que é só um sorinho”, adverte a médica.
Mariana conta a história de Sophia para alertar outras mães que, assim como ela, não sabiam do mal que pode ser causado pelo descongestionante. “Foi um trauma. Eu como mãe não tive problema em colocar nas redes sociais, porque eu não sabia do problema que era. Ele é um medicamento que vende 'igual água' na farmácia, sem restrição médica. […] Eu agradeci a Deus. Falei 'obrigada, Senhor, porque ela não colocou todo o conteúdo do frasco no nariz', porque às vezes eu não teria tempo suficiente de socorrer ela”.
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Comentários
2 Comentários
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Evaldo Moreno 29/09/2023Na minha humilde opinião é que houve aí uma negligência por não ter um conhecimento adequado e não cabe culpa em ninguém mas que sirva de alerta a todos. -
Martha 29/09/2023Não esqueça tbm de agradecer a professora viu mãe,afinal foi ela que percebeu que sua filha não estava bem.