OPINIÃO

Vacinação

Por Lúcia Brigagão | especial para o GCN
| Tempo de leitura: 2 min

Falta muita gente ainda para se vacinar. Alguns renitentes alegam que não acreditam no efeito da medicação; há quem confesse ter preguiça de enfrentar multidões para recebê-la, mas há os renitentes que andam na linha, acreditam que estarão mais ou menos imunes após as doses disponíveis e indicadas. Tinha recebido já por duas vezes a vacinação, quando recebi o diagnóstico positivo e amedrontador. Tinha “convidado”. Não gostei da experiência. Sentia que um trator havia passado sobre mim. Tive febre, calafrios, enjoos, perda de apetite, esses sintomas clássicos. Quase dez dias fora da realidade, sono induzido, exercícios respiratórios e, como sequela, o arranhar constante de garganta. Não entendo como as pessoas podem se recusar a receber a medicação, diante do risco de caírem doentes. 

A única desculpa que eu aceitaria é a forma como aplicam o remédio. Fui medicada, por três vezes, perto de minha casa, caminho da roça de onde podia ver, ainda ao volante do carro, o tamanho da fila dos pretendentes às gotinhas mágicas. Dez, vinte pessoas aguardando, entrava no final da fila, conversava um pouco, confirmava para quem me perguntava se eu não tinha medo e confirmava que sim, achava que não ia virar jacaré. Dava todas as informações que me pediam no balcão, tomava a vacina e vazava.

Hoje foi diferente. Viagem marcada, pediram-me a comprovação das quatro doses. Faltava uma. Já foi difícil escolher entre um dos locais apontados. Decidi: um daqueles que eu achava que não haveria muita gente. Ledo engano. A fila virava e revirava feito quadrilha junina. Dada a urgência, enfilerei-me, recebi minha senha, achei dois conhecidos e me dispus a esperar. Tinha velho, moço, mães com criança, pessoas com dificuldade para andar, pessoas com bengalas, grávidas. Sem qualquer vantagem para nenhum deles. Fila mais democrática impossível. E aí começou a demorar. Uma hora. Uma hora e meia. Uma hora e quarenta e cinco. Duas horas após minha chegada, a moça me chamou. Eu já estava querendo comprar a senha de alguém, porque sei, todo mundo tem seus afazeres, mas desconfio que havia uma moçada que toparia fazer uma troca. Sem ser melhor que quem quer que seja, minha lista de afazeres urgentes queimava na minha bolsa. Mas esperei, civilizadamente...

Aí a moça me chamou. Fui. Perguntas de praxe, deu-me as gotinhas, saí de lá sem fome, com muita sede, com vontade de ir ao banheiro. Eu e a torcida do Internacional. Ao sair, o pessoal nas imediações que fazia exame para habilitação de trânsito já tinha ido embora; as oficinas mecânicas estavam vazias, mas a fila de pretendentes à vacinação continuava serpenteando no quintal. E o calor só aumentando. Felizmente, não chovia...

Será que não há possibilidade de que a vacinação em massa seja algo mais leve e, quem sabe, melhor planejada e melhor distribuída pela cidade do que tem sido feita?

Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora.

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