Caviar de caipira


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Era assim que Monteiro Lobato chamava a iguaria dos vale-paraibanos que se deliciavam com içá torrado qual amendoim ou feito farofa. Até hoje os que visitam a Serra da Bocaina ainda podem encontrar esse alimento como uma das atrações da região.

Não é novidade, portanto, a notícia de que a necessidade de produção de proteína sem excessivo dispêndio de recursos naturais e de ocupação de espaço tenha levado algumas pessoas a recomendarem o consumo de insetos.

A Livin Farms, cuja fundadora é a austríaca Katharina Unger, se serve de sobras de alimentos da cozinha para desenvolver larvas da farinha. Elas têm alto teor de proteínas, são fáceis de criar e muito gostosas.

As colmeias dispõem de um sistema automatizado de controle de temperatura e umidade. Quem se dispuser a criar larvas só precisa alimentá-las com vegetais, como cenouras e maçãs, e o ecossistema continuará a funcionar.

As lagartas se desenvolvem dentro de três meses, convertem-se em pequenos besouros chamados tenébrios e estes, ao depositarem seus ovos, mantêm a continuidade do ciclo.

Aquilo que os bichos produzem de dejetos é utilizado como fertilizante. Cada 100 gramas de larva contêm até 22 gramas de proteína, além de vitaminas B12, B5 e B2.

Praticamente não existe impacto ambiental. Compare-se com a geração de 67,8 kg de gás carbônico para obter um quilo de proteína de carne vermelha e 2,7 kg para a mesma quantidade de larva.

Depois de muitos testes, garantiu-se a segurança do consumo dos insetos e seu gosto é muito próximo ao de castanhas. Normalmente, são comidos fritos ou assados.

A empresa fornece um kit básico para quem queira cultivar sua própria alimentação. Ele custa US$ 149, cerca de 560 reais. Já o pacote de larvas para iniciar a colmeia sai por US$ 35, ou 132 reais.

Esse o futuro para quem extermina a mata e não recupera as áreas abandonadas e desertificadas. Resta comer formiga e todos os outros insetos que, reconhecidamente, são valiosas fontes nutritivas, à falta de alimentos tradicionais. A menos que os insetos também sejam extintos, vítimas da inundação de agrotóxicos de que o Brasil se muniu, para liberar os estoques dos países de origem, onde foram proibidos.

Por sinal, os agrotóxicos já causaram a morte de milhões de abelhas no Rio Grande do Sul. Os apicultores perderam inúmeras colmeias em julho de 2019 e os pesquisadores encontraram ao menos cinco tipos de pesticidas nas operárias mortas.

Isso já aconteceu em outras partes do mundo, mas no Brasil onde tudo vale, onde tudo é possível, mostra a opção pela insensatez que acometeu a nacionalidade nos últimos tempos. 


José Renato Nalini
Reitor Unirestral, docente, conferencista e autor de Ética Ambiental
 

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