Cenário antes marcado pelas belas paisagens e destino certo de famílias e amigos que buscavam sossego e bons momentos na natureza, agora os ranchos das regiões de Ibiraci, Cássia, Delfinópolis e Itambé (MG) são sinônimo do abandono provocado pelo rebaixamento do lago da Usina Mascarenhas de Moraes, administrado por Furnas, situação que vem se agravando ao longo dos últimos anos.
Sem água, grande parte dos ranchos - já que a maioria não possui piscinas - perderam seus principais atrativos de lazer e com isso encontram-se abandonados pelos proprietários que não veem sentido em manter os investimentos já que o uso tornou-se cada dia mais esporádico. Hoje, onde antes a água tomava conta, o mato alto é predominante.
“Com o recuo do rio não tem mais como pescar ou mesmo passear de lancha, atividades comuns nos ranchos. Com isso a maioria simplesmente parou de vir até os ranchos. Mesmo aqueles ranchos que não ficaram totalmente sem água, perderam bastante volume. Onde era água, hoje o mato toma conta”, disse o zelador José Antônio Freitas, 57, que mora e cuida de ranchos há 22 anos no Condomínio Praia do Lajeado, na região de Cássia.
“Nunca vi aqui tão vazio. Acabou. O que via há alguns anos, especialmente nesta época do ano, eram casas lotadas, muita festa. Agora está abandonado, pessoal que cuidava dos ranchos também perdeu renda, pois muitos donos preferem deixar sem cuidar, já que não usam”, disse a artesã Viviane Amorim, 47, que mora em Belo Horizonte (MG), mas visita com frequência os pais que moram na região.
Segundo os moradores e caseiros da região, com o recuo do rio as propriedades também desvalorizaram bastante. Um rancho que antes era vendido por R$ 800 mil hoje chega a ser comercializado por até R$ 300 mil, menos da metade do valor. Mesmo assim, as vendas são difíceis.
“Muitos ranchos estão à venda, mas ninguém quer comprar sem água, nem com o valor bem menor que antes. Os donos param de visitar, já que nem faz sentido e também deixam de cuidar”, completou José Antônio Freitas.
“A água teve a principal baixa no final de 2013 e desde então não voltou a ser o que era. Um tempo atrás ela chegou a subir, cerca de 55%, e voltou a diminuir e mantém este nível baixo até hoje. É muito triste ver a situação de hoje, pra quem estava acostumado a chegar e ver água, hoje só encontra mato e terra”, disse Nivaldo Antonio de Castro, proprietário de um rancho em Cássia há mais de 30 anos.
Em Itambé, região com centenas de ranchos, a situação também é preocupante.
Embora em alguns pontos ainda tenha água, o recuo do rio ultrapassa os 100 metros e segue a mesma linha dos imóveis das regiões de Cássia, Delfinópolis e Ibiraci. Menos visitantes, menos cuidado e, em muitos, o abandono parcial - ou total.
“Os proprietários estão desanimados, afinal são apenas gastos. Hoje não dá pra pescar, a água recuou mais de 100 metros, não é possível andar de lancha. É triste, sou desta região e vejo como a visitação caiu, é difícil enxergar uma melhora”, disse Renato Oliveira, 48, zelador.
Frente Parlamentar
Prefeitos e vereadores de várias cidades da região buscam através da Frente Parlamentar ‘Presidente Itamar Franco’ a defesa da cota mínima para o lago de Furnas priorizando que sem a água o turismo e outros setores do desenvolvimento ficam prejudicados, destruindo as riquezas dos municípios do lago.
“O problema do lago de Furnas vem acontecendo há bastante tempo e no ano passado foi criada uma frente parlamentar com o objetivo fundamental de estabelecer a cota mínima do lago de Furnas entendendo a importância turística dele para a nossa região”, disse o prefeito de Cássia, Marco Leandro Almeida Arantes, o Kito Arantes.
A Usina de Furnas informou que o reservatório de uma usina hidrelétrica tem como objetivo prioritário a geração de energia elétrica para o SIN (Sistema Interligado Nacional). “Além de propiciar usos múltiplos como regularização de vazão, controle de cheias, abastecimento de água, irrigação, pesca, lazer e turismo”, informou.
ONS é responsável por nível dos reservatórios
Por meio de nota enviada ao Comércio, a assessoria de imprensa de Furnas disse que os níveis dos reservatórios são programados pelo ONS (Operador Nacional do Sistema), responsável por operar o conjunto de reservatórios brasileiros de forma integrada, com o objetivo de garantir a segurança energética.
Segundo a empresa o reservatório da Usina de Furnas encontra-se atualmente na elevação 753,95 metros, o que representa um volume útil de 14,03%. Já a Mascarenhas possui nos dias atuais elevação de 659,02 metros, representando volume útil de 39,44%.
O menor volume útil do reservatório Usina de Furnas foi de 3,23% em 23 de outubro de 1969, enquanto a Usina Mascarenhas de Moraes registrou o menor volume útil de 13,23% em 27 de novembro de 2014. Nos dois casos as usinas operaram normalmente.
A empresa não informou, porém, se existe alguma expectativa de que o nível da represa da Usina de Mascarenhas de Moraes volte ao seu patamar anterior ao período de estiagem e, assim, se há possibilidade da água retornar aos ranchos.
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