Exemplos

A imitação da mãe, ou os exemplos fortes que elas nos dão, mesmo que a princípio recusados

21/12/2019 | Tempo de leitura: 2 min

A imitação da mãe, ou os exemplos fortes que elas nos dão, mesmo que a princípio recusados, negados e rechaçados, num dado momento acabam por naturalmente fazer parte das atitudes do cotidiano, principalmente das filhas. Não nego que, até algum tempo atrás, ser comparada com minha mãe, não me era fácil, ou mesmo prazeroso. Creio eu, negava suas qualidades – e defeitos – porque me julgava inferior a ela. Mamãe era forte, determinada, obstinada, corajosa e eu me acreditava mais... mais fraca, perrengue; indisciplinada, desregrada; inconstante, instável; covarde, medrosa e receosa... Muito difícil ser comparada à deusa que abdicou de sonhos para cuidar dos filhos, trabalhar e ganhar dinheiro para manutenção do lar enquanto o marido estudava, reparando futuro melhor para a família.

Herdei muita coisa de mamãe, inegavelmente. Só não gosto muito do apelido de Sinhazinha Junqueira porque a histórica figura, que tinha parentesco conosco, tinha em seu perfil atributos peculiares. Era caprichosa com suas posses, valorizava as pessoas – por menos importantes fossem na escala social mas, dizem, era teimosa, mandona, não gostava de ser contestada e não sabia perdoar. Somei e dobrei tais virtudes ... ou idiossincrasias. Herdei traços de personalidade, herdei também alguns hábitos. Herdei sua agenda de lojas, muitas já nem existem mais e há anos compro do mesmo açougue que ela comprava, onde sou conhecida como “filha da dona Clara”.

Numa segunda-feira cedinho, saí para organizar a semana. Passaria pelo açougue, pela feira e supermercado. Faria pedidos, depois as atividades particulares seguiriam sua rotina. Ao chegar no estabelecimento do açougue, percebi as portas semi-abertas e me atrevi a olhar por baixo delas. Levei susto. Estavam patrões e funcionários em círculo, com seus jalecos brancos absolutamente limpos e imaculados, orando baixinho. Aguardei, terminaram, levantaram as portas, entrei. Atrevi-me a perguntar o motivo da reunião que recém acontecera. Marcelo e Manuel me explicaram que descobriram como ficavam mais leves e ganhavam em disposição para servir as pessoas depois que agradeciam, que pediam licença espiritual para comercializar seus produtos. Perceberam, um dia, que trabalhavam com vidas e lhes dava muito alívio agradecer pelo sacrifício de uns, para benefício de outros.

Dali em diante, também agradeço. Agradeço o novo dia, o novo tempo, o novo período onde poderei servir, ajudar, colaborar, ficar brava, conversar, temer, realizar, ir e voltar, comer coisas boas, pensar em outras muito melhores, lamentar o que deixei para trás e planejar o que farei nos próximos dias do futuro. Quase nada demoro, pois o “o pensamento parece uma coisa à toa, e a gente voa quando começa a pensar”... Vem aí novo dia. Vem aí o privilégio de desfrutar do Natal em família. Vem aí o Ano Novo, novinho em folha para a gente gastar. Que comecemos o dia, o Natal e o Ano Novo agradecendo privilégios, oportunidades. E companheiros de jornada, que nos premiam com seus exemplos.

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br 
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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