Toda cidade, das mais pequenas às grandes capitais, tem história guardada em sua arquitetura. Em quase 195 anos, o município de Franca já passou por mudanças drásticas em todos os sentidos, mas algumas construções antigas ainda estão espalhadas pelos cantos da cidade, guardando curiosidades. Alguns dos prédios foram tombados por causa de sua importância histórica, mas o processo, que teoricamente conserva os patrimônios, tem um lado negativo quando se trata da manutenção desses locais.
O problema entrou em discussão recentemente, depois da polêmica pintura da Igreja Matriz. Os dirigentes da Catedral têm um histórico de se oporem ao tombamento da igreja porque as leis não permitiriam algumas mudanças estruturais. É que quando um patrimônio é tombado, os responsáveis devem seguir leis para manter o valor histórico e cultural do bem. Por exemplo, há 10 anos, quando a matriz foi reformada, o altar de ladrilho hidráulico, um marco da época e do estilo em que a igreja foi projetada, foi substituído por granito, algo que o Condephat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico) não permitiria, de acordo com as leis de tombamento. “Uns falam que é burocracia, outros falam que é intrometimento”, afirmou Pedro Geraldo Tozzi, presidente do Condephat. E é justamente por causa de algumas leis que a manutenção dos patrimônios tombados acaba sendo dificultada.
O prédio do antigo Colégio de Lourdes, por exemplo, entrou em reforma depois que partes do telhado caíram na calçada. As telhas precisavam ser originais ou pelo menos réplicas fiéis, para a construção francesa não perder a referência histórica. Além do edifício, que já foi sede da Unesp, o Colégio Champagnat também está com a estrutura visivelmente prejudicada, o Museu Municipal está com goteiras, a Estação Ferroviária parece abandonada e o antigo Clube dos Bagres, além de estar com a pintura descascada, tem janelas quebradas. O Relógio do Sol, cartão postal da cidade, aguarda licitação para ser restaurado, depois que uma tempestade derrubou e quebrou o monumento, em dezembro de 2017. São os proprietários dos prédios quem têm que se responsabilizar pela manutenção.
O Condephat é um órgão composto por voluntários que ajudam a preservar o valor cultural dos monumentos, que são tombados de forma voluntária. E quando é preciso uma reforma, o Condephat “dá assessoria técnica especializada para isso, para falar da história, das necessidades principais e quais profissionais contratar”, explicou Tozzi.
No caso dos prédios citados, a Prefeitura de Franca é quem tem domínio dos cuidados. A administração municipal foi procurada para saber se há planos de manutenção nos devidos locais, mas, até o fechamento desta reportagem, não enviaram resposta oficial.
Hallel e Comadef também são tombados
Na última lista divulgada pela Condephat, em setembro de 2016, há 77 patrimônios tombados em Franca (confira quais são na página ao lado). Além dos monumentos, algumas manifestações e festas também são consideradas patrimônio cultural de Franca.
O Hallel, a Comadef (Congresso da Mocidade da Assembleia de Deus de Franca), a Festa de Santa Achiropita e a celebração de Corpus Christi estão entre os eventos religiosos tombados municipalmente. Estão na lista também manifestações como as Cavalhadas, a Congada, Folia de Reis e a curiosa Recomenda das Almas, evento onde um grupo de pessoas se reunia durante a quaresma e passava uma madrugada cantando e rezando por almas que padecem no inferno ou vagam no espaço.
O passeio Franca- Restinga, que esse ano não vai acontecer, é um evento tombado, e o tradicional “Filé a JK” também é patrimônio histórico oficial da cidade, além de todo o Acervo do Arquivo Histórico Municipal.
Túmulo tombado tem estátua furtada dentro do cemitério
Na lista dos patrimônios, 21 sepulturas de personagens importantes na história de Franca também estão inclusas. Dentre eles, o Túmulo dos Batalhadores, os túmulos de Sabino Loureiro, do Barão de Franca, José Garcia Duarte e do Cavaleiro Antônio Caetano Petráglia, que inclusive teve uma estátua furtada.


Túmulo do Cavaleiro Caetano Petráglia teve imagem furtada
Fossas e postes na lista de patrimônios
Alguns monumentos da lista de patrimônios históricos tombados chamam a atenção por serem peculiares. Mas apesar de aleatórios, fazem parte da história da cidade. Por exemplo, as Fossas Sépticas, que ficam próximas ao posto Galo Branco. Instaladas em 1936 pelo então prefeito Antônio Barbosa Filho, as fossas ampliaram o tratamento de água e esgoto para os bairros periféricos e são parte fundamental da história da cidade, que hoje tem o melhor saneamento do Brasil. E dois postes metálicos aos fundos da Igreja Santo Antônio simbolizam a chegada da energia elétrica. São os únicos remanescentes do material utilizado em 1940. Dois bebedouros de animais que ficam na Avenida Major Nicácio e na Praça da Estação também são patrimônios tombados, além de outros pequenos símbolos francanos, como o Coreto da Praça “Sabino Loureiro”, 14 estruturas construídas no Parque de Exposições “Fernando Costa” e, inclusive, o bambuzal plantado no mesmo.

Fossas Sépticas instauradas em 1936 por Antônio Barbosa Filho
O patrimônio tombado de Franca
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