“Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo da verdade ter oportunidade de se vestir”
Winston Churchill, político e escritor britânico

Uma brincadeira de péssimo gosto, seguida por confusões e precipitações, acabou por criar um clima de pânico que resultou em policiais civis, militares e até o GOE (Grupo de Operações Especiais) posicionados em frente a instituições de ensino instaladas na cidade. Em duas delas, a Faculdade de Direito de Franca e o Uni-Facef, as aulas foram suspensas, prejudicando milhares de alunos, professores, pessoal administrativo. De quebra, ainda reverberou em escolas municipais e creches, com gente imaginando que um atentado, nos moldes do massacre de Suzano, estava prestes a se repetir por aqui.

Tudo por conta de uma fake news, uma “notícia” tão verdadeira quanto nota de três reais, que deixou evidente como muita gente se deixa levar por “informações” sem a mínima procedência, sem qualquer conexão com a realidade, especialmente quando compartilhadas em redes sociais ou grupos de Whatsapp. Se a notícia era falsa, o mesmo não pode ser dito de seus desdobramentos. As consequências e prejuízos foram bastante reais.

A sandice toda começou no início da semana, a 460 quilômetros de Franca, na cidade goiana de Morrinhos, perto de Caldas Novas. Algum imbecil sem nada para fazer publicou um post no Facebook, com mais erros de ortografia do que palavras, ameaçando um ataque no “Brejão”, nome pelo qual a escola estadual “Sílvio Gomes de Melo Filho” é conhecida por lá. Na quinta-feira, um garoto de Guará, a 66 quilômetros de Franca, conectado a alguém de Morrinhos sabe-se lá por quais caminhos virtuais, viu a tal postagem. Com impetuosidade inversamente proporcional ao discernimento, deduziu que podia se tratar do “Brejão” de Franca – ou seja, a Faculdade Municipal de Direito. Encaminhou então o post para um amigo de Guará que estuda no Uni-Facef. O guaraense da Facef, igualmente sem ter a menor disposição para verificar a autenticidade do que lia, repassou o material para os colegas.

Aí, a coisa ficou descontrolada. Impossível dimensionar quantos compartilhamentos foram feitos, mas na noite de quinta-feira a diretoria da Faculdade de Direito já estava informada da “ameaça”. Sem tempo para percorrer o caminho que levaria à verdade, optou, prudentemente, por suspender as aulas na manhã de sexta. Foi seguida pela reitoria do Uni-Facef.

A cidade amanheceu em polvorosa, com as faculdades fechadas. Na Unifran, as aulas foram mantidas, mas com policiamento ostensivo. Pais chegaram a ser chamados em creches para buscar seus filhos, tamanho o desespero de alguns funcionários. Para alívio geral, a equipe comandada pelo delegado Márcio Murari, da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), conseguiu elucidar o caso por volta de 12h30. Rápido mas, ainda assim, os transtornos foram inevitáveis.

Na vida real, é difícil imaginar que alguém, em sã consciência, seja capaz de entrar numa faculdade na hora do intervalo e gritar que vai haver um massacre porque um amigo de uma cidade qualquer disse que leu alguma coisa no Facebook não se sabe de quem. Mas nas redes sociais, ninguém se constrange em fazer o mesmo. Diante de uma notícia estranha, sem fonte conhecida, que se avisem as autoridades ou os responsáveis pelo alvo da boataria. O que não vale é repassar o que “ouviu dizer” só porque “acha que pode ser”. Quem faz isso flerta com a irresponsabilidade. Ou abraça a inconsequência. Para ser elegante – e dizer o mínimo.