Funerária Nova Franca construirá velório de R$ 2 mi


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Imagine passar quatro décadas lidando diariamente com a morte. Essa é a rotina do empresário José Roberto Alves Silveira, 68. No dia 28 de abril, ele completou 40 anos de atuação ininterrupta no segmento. O início na atividade se deu por acaso, quase que como uma aventura. O setor em que atuava era completamente diferente.
 
Em 1974, José Roberto fundou a Guarda Noturna de Franca. Ele permaneceu como diretor da corporação por quatro anos. Durante uma conversa com familiares, ouviu que o segmento funerário era um negócio interessante e que havia demanda pelo serviço na cidade. Embora nunca tivesse pisado em uma funerária antes, resolveu apostar no negócio.
 
No dia 28 de abril de 1978 abriu a Funerária Francana em sociedade com um primo. Vinte anos depois, no dia 28 de janeiro de 1998, deixou a parceria e inaugurou a Funerária Nova Franca. Hoje, a empresa comandada por ele e pelo filho Rafael tem 34 funcionários e 7,5 mil clientes cadastrados. São cerca de 60 mil pessoas cobertas pelos planos.
 
Destaca-se pela inovação e lançamento de serviços inusitados, como o velório virtual. Planeja construir um cemitério para animais e lançará no segundo semestre as obras de um velório particular de alto padrão que demandará investimento de R$ 2 milhões.
 
Como foi deixar a Guarda Noturna para investir em um negócio completamente diferente onde o senhor tinha zero de experiência?
Foi muito difícil. Logo no dia que assumimos, o primeiro atendimento que fizemos foi de uma criancinha. Sempre que envolve a perda de criança, é normal a gente ficar mais comovido. Jamais irei esquecer aquele dia.
 
Hoje, o senhor é o diretor da empresa e tem uma equipe que cuida de tudo. No começo, chegou a colocar a mão na massa?
Sim, e muito. Eu atendia, preparava o corpo para o velório e fazia o enterro. Quantas e quantas vezes, às duas, três horas da madrugada, a gente estava no Cemitério Santo Agostinho, onde funcionava o IML, ajudando a fazer as necropsias para liberar o corpo para as famílias o mais rápido possível.
As histórias envolvendo mortos que sempre ouvimos são lendas ou existem? O senhor se lembra de algum caso curioso?
Realmente, acontece sim. Uma vez, estávamos velando um corpo em uma residência. Durante a madrugada, um familiar ligou na funerária e disse que o falecido estava mexendo as mãos. Nosso funcionário foi até lá para averiguar e constatou que a mão, de fato, mexia. Foi uma correria de gente saindo e trombando na porta. O funcionário olhou com atenção e notou que havia um besouro grande debaixo da mão. Certamente, ele deve ter ido no meio das flores e forçava para sair, dando a impressão de que a mão mexia. 
 
Já aconteceu de algum funcionário ficar com medo de lidar com o defunto e pedir para sair no meio do expediente?
Sim. Um vez, contratamos um agente funerário e, nos dois primeiros dias, ele não foi acionado. Quando apareceu o primeiro trabalho, ele ajudou meio ressabiado. Quando voltou para a empresa, ele falou: “Isso aqui não serve para mim” e foi embora.
 
O senhor poderia dar exemplos de casos de sepultamento que foram mais difíceis?
Há situações muito complicadas de se trabalhar. Quando caiu um avião próximo ao aeroporto de Franca, que fazia transporte de valores, marcou bastante. A morte por carbonização é muito chocante. O caso mais difícil foi quando o ônibus com estudantes da Unifran caiu na “Curva da Morte” em Rifaina. Estávamos na remoção e tivemos que chamar as outras funerárias para nos ajudar. A dificuldade maior foi subir a ribanceira com os corpos. Foram 20 vítimas fatais. Tivemos que trazer para o IML de Franca e, depois, levar para as cidades de origem.
 
Há discriminação na sociedade por lidar com este ramo de atuação?
É comum algum amigo brincar e chamar a gente de “Zé do Caixão” ou “Papa Defunto”, mas encaramos isto como uma brincadeira. No começo era mais difícil, mas conquistamos o respeito pela atuação séria e profissional quando vamos atender os clientes. Temos uma equipe muito qualificada para dar todo suporte para as famílias na hora tão difícil que é a perda de um ente querido. Estamos sempre procurado inovar e aperfeiçoar para oferecer o melhor serviço possível. Felizmente, os clientes reconhecem este diferencial.
 
O senhor tem quantos clientes?
Temos cerca de 7,5 mil clientes cadastrados. Em média, são cerca de oito pessoas por cada plano. Ou seja, em torno de 55 mil a 60 mil pessoas são cobertas pelos nossos planos funerários. Realizamos uma média de 50 sepultamentos por mês.
 
A empresa do senhor lançou o velório virtual, uma iniciativa pioneira que teve grande repercussão. Como foi a aceitação do serviço pelos clientes?
O velório virtual foi lançado há cerca de 12 anos e permanece como um serviço exclusivo em Franca. O retorno é muito positivo. Já tivemos vários agradecimentos de pessoas que estavam morando nos Estados Unidos, Japão e na Europa e que perderam familiares aqui em Franca. Por meio da transmissão feita pela internet, eles conseguiram velar o corpo em tempo real mesmo estando distantes. Importante ressaltar que o sinal não é aberto. A senha que permite o acesso só é fornecida para a família que solicita o serviço.
O senhor pretendia construir um cemitério particular em Franca com uma área específica destinada a sepultamento de pets. Como está o projeto?
É um investimento que pretendemos fazer. Chegamos a adquirir uma área, mas parte estava na bacia do Rio Canoas, o que não é permitido. A autorização para se construir um cemitério é complexa, dependemos de muitas autorizações ambientais. Não desistimos do projeto, não. Estamos em busca de uma área que possa receber o empreendimento. 
 
A empresa também prevê a construção de um velório próprio. O que pode nos falar a respeito?
Este projeto está bem adiantado. Em breve, a população ficará sabendo da novidade. Pretendemos fazer uma coisa bem moderna para oferecer toda tranquilidade para nossos associados e para a população de uma maneira em geral. A ideia é construir salas de velório, espaço especial para as pessoas fazerem celebrações para se despedirem dos entes queridos, estacionamento próprio e dormitórios na parte de cima. Esperamos lançar as obras no segundo semestre. Fora o terreno, deveremos investir cerca de R$ 2 milhões nas instalações.
Franca comporta um crematório?
Não há demanda suficiente. O serviço é disponibilizado em Ribeirão Preto, Jaboticabal, Bauru, São José do Rio Preto e Campinas. A região já é bem coberta. Temos uma parceria com Ribeirão e fazemos apenas dois ou três por mês. O francano é muito conservador. Há dois anos, fizemos uma pesquisa para ver a possibilidade de construir um cemitério vertical. A maioria foi contra.
 
Ainda é comum fazer velórios em casa?
Não. É muito raro. Hoje, se a gente levar um corpo para casa no ano é muito. Esta mudança de hábito foi uma evolução da sociedade. A coisa mais difícil era quando a família retornava para casa após o sepultamento e se lembrava que o ente querido havia ficado ali. Ficava uma imagem muito marcante. Além desta questão, também há o risco de transmissão de doença. O serviço de tanatopraxia que fazemos elimina todos os problemas.
 
Por que fazer um plano funerário?
O plano é importante, pois na hora da perda de um ente querido, a família não precisa desembolsar nenhum dinheiro. Muitas vezes, as pessoas são pegas de surpresa, já gastaram com hospital, farmácia e locomoção e não têm dinheiro para fazer a despedida. Com o plano, a única preocupação que a pessoa vai ter é trazer a documentação e a roupa. O resto, é por nossa conta. Hoje, o preço de um funeral vai de R$ 800 a R$ 20 mil. 
 
O que o setor funerário representa na sua vida?
Consegui chegar onde cheguei, fazendo este trabalho com honestidade, carinho e atenção aos familiares. A funerária representa tudo na minha vida. O segmento funerário é uma atividade tão importante quanto a do médico, do engenheiro, arquiteto, enfim, como qualquer outro segmento. É uma profissão muito gratificante para nós. Agora, estou me aposentando e passando o comando para o meu filho Rafael, que se formou em administração de empresas e está aqui comigo há cinco anos. Ele que dará sequência ao trabalho. 

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