Nascido em Ribeirão Preto, Eduardo Martins Ribeiro tem 36 anos. Filho de um Segundo-Tenente da Polícia Militar, decidiu, aos 19 anos, seguir o exemplo do pai. E já está há quase 17 anos na instituição.
Sua trajetória na Polícia Militar começou em 2000, quando se formou na Academia de Barro Branco. Ao sair, trabalhou por três anos em São Paulo e, depois, veio para o interior do Estado. Atuou como tenente nas cidades de Patrocínio Paulista, Pontal, Pitangueiras, Sertãozinho e Ribeirão Preto. Envolveu-se em confrontos com criminosos e combateu explosões de caixas eletrônicos, roubos, tráfico de drogas e capturou centenas de bandidos.
No final do ano de 2015, tornou-se capitão. Há três meses, Martins Ribeiro comanda 105 homens em uma das maiores companhias do Estado de São Paulo, a 1ª Cia. da Polícia Militar, que abrange as zonas leste e sul de Franca. Desde que chegou, tem realizado audiências públicas com a população e implantou o projeto Vizinhança Solidária, em que a interação entre vizinhos e a polícia contribui para a redução no número de roubos e furtos.
Em entrevista concedida ao Comércio, contou um pouco de sua experiência, os projetos que já desenvolveu, os desafios que tem pela frente no combate à criminalidade e afirma “a redução da maioridade penal não resolve nada”.
Por que decidiu se tornar policial militar?
Meu pai foi PM durante toda a vida. Aposentou-se na polícia e sempre tive vontade de seguir seus passos. Não me imaginava trabalhando em outra função. Em 2000, me formei na academia e comecei minha trajetória. O que me chamou atenção foi a possibilidade de poder ajudar as pessoas e contribuir com a sociedade, evitando que o mal se espalhe.
Ao se formar, quais eram suas pretensões e por que também se graduou em Direito?
Fiquei um ano como aspirante e, após me formar, trabalhei por três anos nas ruas de São Paulo. Sempre gostei de trabalhar no policiamento. Quando saí de lá e vim para o interior, continuei nessa área. Apenas quando me tornei capitão deixei de ficar todos os dias nas ruas. A faculdade de Direito foi por também gostar desta parte. Fiz pós-graduação em criminologia e cursos voltados para segurança pública.
Ao sair de São Paulo, o senhor ficou passou por Patrocínio Paulista e Pontal, onde ficou por quatro anos. Lá, fez mudanças e reformou a base. Como foi esse trabalho?
Na época, éramos em 35 policiais. Além de conseguirmos a reforma de toda a base da PM de Sertãozinho, foi possível, com nosso trabalho, diminuir os índices de criminalidade. O trânsito, que era um problema, foi reestruturado com os projetos da polícia. As ruas não tinham placas, faixas ou sinalização e, através de um convênio, conseguimos diminuir também os índices de acidentes.
Depois, o senhor foi para Pitangueiras, Sertãozinho e Ribeirão. Nessas duas últimas cidades, trabalhou como tenente na Força Tática. Como foi a experiência e como eram os treinamentos? Houve alguma ocorrência marcante?
Foi uma boa experiência. Como a Força Tática trabalha com tráfico de drogas, roubos a residências e de veículos, e outros casos, nossos treinamentos têm como foco a prevenção de crimes desse tipo, que são mais violentos, para diminuir os índices criminais através do patrulhamento ostensivo. Treinamos para evitar a perda de vidas, tanto dos policiais quanto de quem está do outro lado. Não escolhemos o confronto. Dos três anos em que trabalhei em Ribeirão, me recordo de um crime ocorrido em junho de 2014. Um bando decidiu explodir um caixa eletrônico. Conseguimos interceptá-los e houve troca de tiros. Em uma situação como essa, com o nível de adrenalina elevado, você não se preocupa em ser alvejado. Preocupa-se com o companheiro policial e em prender o criminoso. O saldo dessa ocorrência foi de cinco bandidos mortos e três presos.
Como tem sido o desafio de comandar uma das maiores companhias do interior do Estado de São Paulo?
É uma experiência totalmente nova e muito recompensadora. Tem sido possível implantar nossa política e técnicas de policiamento na cidade. O apoio e toda a ajuda que a população proporciona tem contribuído - e muito - com nosso êxito.
Crimes como furtos e roubos cresceram 23%, dando um salto de 4.138 em 2015 para 5.092 de janeiro a julho de 2016. A que o senhor atribui o alto número de ocorrências em Franca?
Tenho notado que esse aumento não aconteceu apenas em Franca, mas em outras cidades do Estado. Acho que a legislação é fraca e a defasagem de efetivo, que nos impossibilita de cobrir todos os pontos necessários no município, contribui para esse cenário. Mas, com a nova filosofia do comando e o trabalho de todos os policiais, com a ajuda da população, estamos driblando essas adversidades. A tendência é diminuir essas estatísticas dos roubos. Os casos de furtos de veículos são mais complicados e têm realmente aumentado pela dificuldade em saber onde o marginal vai atuar, pois é em qualquer área. O bandido é oportunista. Ele vê o vidro aberto, ou a porta, e comete o crime.
O senhor é o responsável por trazer para Franca o projeto Vizinhança Solidária. Por que decidiu implantá-lo aqui?
O Vizinhança Solidária tem o objetivo de aproximar os vizinhos e incentivar a comunicação entre eles e a polícia, para que furtos e roubos diminuam. Como não somos onipresentes, precisamos que a população seja nossos olhos e nos avise quando há algum problema em sua região. Com isso, tem sido possível diminuir o número de crimes em bairros como o Jardim Samel Park, Nova Franca e Parque Dom Pedro, onde o projeto já está funcionando em Franca.
Há outros projetos envolvendo a população que o senhor já pôs em prática ou pretende colocar?
Quero fazer operações em desmanches e também combater o número de roubos e furtos de celulares em Franca, com foco em lojas que fazem a venda de aparelhos que podem ou não terem procedência duvidosa. Além disso, temos estabelecido contato com comerciantes que foram vítimas de criminosos para incentivá-los a comunicar a Polícia Militar. As audiências públicas, feitas na Câmara, têm sido um importante canal para sabermos e detectarmos como agir em determinadas situações.
Diariamente, vemos vários adolescentes no mundo do crime. Há desde os iniciantes até os reincidentes. Quais medidas o senhor pensa que são adequadas para tentar diminuir o envolvimento desses menores com as drogas, furtos e crimes mais graves, como roubos, latrocínios e homicídios?
O menor se envolve no mundo da criminalidade por conta de um problema que aconteceu lá atrás. Muitas vezes, a família é desestruturada e o garoto entra nessa vida por não estudar, por conviver com bandidos. Isso cria a personalidade criminosa no adolescente. Sua apreensão não surte tanto efeito como a sociedade e nós gostaríamos porque, quando tiramos o marginal das ruas e colocamos na Fundação Casa, ele pode sair pior. É preciso investir em ensino integral nas escolas e a família receber mais apoio. Não adiantam soluções imediatas como redução da maioridade penal. Em longo prazo, não mudaria nada, porque o menor entra no mundo do crime cada vez mais jovem. Com 10, 11, 12 anos. Então, se diminuirmos para 14, por exemplo, o que vai mudar?
Como é ser responsável por comandar equipes e policiais que, diariamente, trabalham para proteger e salvar a sociedade de criminosos?
É gratificante quando você volta para casa e, ao colocar a cabeça no travesseiro para dormir, ter a percepção que cumpriu sua missão e que, por seu trabalho, as pessoas estão mais seguras e a salvo. Trazer segurança para todos é a satisfação pessoal que tenho por ser um policial militar.
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