Dentro de uma semana entro no período que minha amiga que adora ler sorte, ver o futuro através das cartas e acredita em horóscopos chama de Inferno Astral. Segundo ela, inferno astral é o mês que antecede a data de aniversário das pessoas. Ela vaticina que neste período minhas energias estarão derrubadas porque o Sol — que me acompanha desde o dia do meu aniversário no ano anterior até um dia antes do meu aniversário do ano seguinte, período correspondente ao meu ano astral — começa a caminhar através da última casa do meu mapa astral, lugar muito difícil de definir até para astrólogos, tarólogos, cabalistas e estudiosos de ciências ocultas. Tremi nas bases. Na travessia deste nefando período, todos ficamos fragilizados, confusos, e essa energia negativa que não conseguimos também definir, atrai e filtra situações, pessoas, acontecimentos que esbarram nesta mesma energia ruim. Resultado disso, ficamos doentes, sofremos perdas significativas. Pior, o baixo astral se instalará, tomará conta do nosso humor e os acontecimentos nefastos se amontoarão. Melhor nem sair de casa. Ou sair da cama. 

 

No meu caso sofro duplamente durante esse tal de Inferno Astral. Como faço aniversário em março, portanto em alguma data próxima ao carnaval que recém passou, quase sempre tal negro período do meu inferno astral coincide com a quaresma que, algum tempo atrás no meu caso, também coincidia com baita ressaca, daquelas de deixar qualquer folião do avesso. 

 

Essa amiga, quando percebeu meus temores, tranquilizou-me ao contar que, no contrafluxo do Inferno Astral existe, segundo seus estudos, o Paraíso Astral. Seria o momento do ano em que nossas energias estão altas, ficamos sob leve nuvem de felicidade, sucedem-se acontecimentos positivos. É preciso saber esperar: tudo fica cor-de-rosa no início do sexto mês após a data do nosso aniversário. O Universo conspira a nosso favor, estamos conectados às suas melhores energias, nossos campos, astral e energético, estão abertos e preparadíssimos para receber e captar tais bons eflúvios! Folguei em sabê-lo. Sofro em fevereiro e março, serei feliz e tranquila lá por volta de setembro. 

 

Sob o entusiasmo dessas informações abri a internet para acompanhar o noticiário e dei com vídeo do ex-presidente Lula. Notei seu ar preocupado e abatido. Ele não estava em camarote da Sapucaí. Provavelmente do seu escritório falava do aniversário do partido político que fundou há 36 anos e se dirigia aos queridos companheiros e queridas companheiras. Senti-me à vontade para escutar, afinal ajudei a elegê-lo em 2002. Ele reconhece que o partido, ‘o mais importante da política brasileira’, cometeu erros. Não disse que erros seriam, todavia afirmou que ‘quem erra, paga pelos erros que cometeu’. Exaltou o PT: foi o partido que ‘mais inovou’ na política brasileira como ao criar, nos anos 80, o revolucionário orçamento participativo; foi o partido que mais ‘fez política social na história’ deste país e que, por esse motivo, ‘vive enfrentando os adversários conservadores que não aceitam o jeito petista de governar’. Estava deveras sob intenso sofrimento. Pensei que estivesse a um mês do aniversário, também, mas não: ele nasceu em outubro. 

 

De repente, tudo clareou. O Inferno Astral, no caso, era o do PT, cujo aniversário foi no dia 10 de fevereiro. O tal período se aplica até a partidos políticos, como não acreditar nisso? Fez sentido o desenrolar dos dramas petistas, que se estendem até bem antes que o período de previsíveis desgraças, através de fatos como mensalão, operações Lava-Jato e Zelotes. 

 

O problema é que demorará chegar a época do seu Paraíso Astral por causa de dejetos como os do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia, que não são exatamente do partido, mas que certamente respingarão pelos quatro cantos de suas sedes, em especial na de Brasília.