
Em 1922, o jornal O Commercio da Franca anunciava uma nova troca de diretoria. Mais uma vez, o comunicado foi feito no dia do aniversário do jornal,30 de junho. Na capa da edição número 359, sob o título Nosso jornal comemorava-se o oitavo ano de publicação ininterrupta da gazeta, ressaltando suas dificuldades e vitórias, e anunciava que os novos proprietários do periódico eram Alberto Rodrigues Alves e Ricardo Pucci.
Os dois sócios adquiriram o negócio de Vicente Paiva - tanto a tipografia quanto a Casa Paiva, agora batizada de Livraria do Comércio. Alves ficou na sociedade por menos de dois anos e a dissolução foi anunciada no dia 31 de maio de 1924. Pucci seguiu como proprietário e diretor do jornal.
Ricardo Pucci nasceu em Franca no dia 11 de outubro de 1897 e era empresário. Tinha seis irmãos, entre eles Paulino Pucci, fundador de uma das maiores e mais tradicionais indústrias francanas, o Amazonas. Casado com Cacilda Archetti Pucci, tinha três filhos: Alba, Clóvis e Élvio. A família vivia no andar de cima do sobrado onde funcionavam seus negócios, na Rua Major Claudiano.
O diretor que mais tempo ficou à frente do jornal, Ricardo Pucci implementou grandes mudanças e consolidou o Comércio da Franca na história da cidade, conduzindo-o e adequando-o de modo a enfrentar as significativas mudanças que aconteciam conforme as décadas passavam. Ele realizou a primeira grande reforma editorial, fruto de significativos investimentos financeiros e de tempo, além de revelar talentos jornalísticos cujos nomes serão para sempre lembrados, como Alfredo Palermo e Antonio Constantino.
Em entrevista de 2007, Alba Pucci de Lima rememorou o período em que seu pai comandou o jornal. “Lembro da dificuldade que era a impressão do jornal, com todos aqueles tipos (fontes de letras) que precisavam ser montados de modo a formar as palavras, como carimbos.” Nessa época, o Comércio ainda privilegiava crônicas, opiniões e lirismos, e textos vindos dos jornais de São Paulo eram muito frequentes em suas páginas. A circulação era pequena e consistia em cerca de 500 exemplares de quatro páginas por edição.
Sob a batuta de Pucci, um homem dinâmico e ativo, mudanças importantes foram gradualmente implementadas e algumas até hoje caracterizam o jornal. Um exemplo é a Gazetilha, seção mais antiga do Comércio. Hoje assinada por Corrêa Neves Júnior, foi lançada em 1930, sem assinatura, mas provavelmente escrita por Antonio Constantino. Durante quase 50 anos, teve o professor Alfredo Palermo como seu titular.
Em 1927, um grande investimento: o jornal dobra de tamanho e passa a circular com oito páginas produzidas por sua equipe apaixonada de 20 jornalistas e gráficos, que incluía Vicente de Paula Lima, Otavio Cilurzo e Alfredo Palermo, que se juntou à equipe definitivamente em 1944.
A primeira grande reforma editorial foi apresentada em junho de 1930, e o artigo “O” foi retirado do título; o “m” duplo foi mantido (e perduraria até os anos 40) e o jornal passa a se chamar Commércio da Franca. A diagramação é feita com mais cuidado, o formato passa a ser maior, fotos são publicadas com maior frequência e os problemas locais passariam a receber mais atenção e consequente destaque. Outra mudança significativa vem em 1939, quando o jornal passa a ter circulação bissemanal, às quintas e domingos e volta a circular com quatro páginas.
A novidade de 1949 é anunciada em preto e vermelho na capa: são publicadas as primeiras páginas coloridas do jornal no aniversário de 34 anos do Comércio. Em 1960, o azul característico daria o tom ao nome do periódico, e anúncios passariam a ser impressos com pelo menos uma cor.
Dentre tantos destaques, a abordagem da Revolução de 1932 é um dos marcos do período de Ricardo Pucci à frente do jornal. Através de Constantino, o Comércio exerce papel histórico na mobilização popular em favor da causa. “O Comércio era marcado por ser um jornal combativo que esteve fortemente presente em movimentos importantes, como a Revolução Constitucionalista de 1932, da qual meu pai e meu sogro Luiz de Lima participaram com empenho,” relatou Alba.
Ricardo Pucci vendeu o jornal em 1955, 33 anos depois de assumir, moldar e atualizar o periódico, consolidando-o definitivamente no dia-a-dia do leitor francano. Ele montou uma fábrica de calçados e continuou a ser um empresário atuante e preocupado com a sociedade. Cidadão politizado, pertenceu ao diretório do antigo Partido Republicano Paulista até a Revolução dos anos 30, e depois tornou-se membro do União Democrática Nacional. Elegeu-se vereador em duas ocasiões e chegou a presidir a Câmara Municipal de Franca.
Sua atuação na sociedade era intensa, deixando transparecer seu amor por Franca e sua preocupação com o próximo: fundou a Liga de Assistência Social e Educação Popular (Lasep, que existe até hoje), da qual foi diretor até sua morte, e a Assistência aos Necessitados de Franca. Também foi provedor da Santa Casa, diretor da ACIF e da Associação dos Empregados no Comércio, fundou a Associação Francana de Imprensa e Rádio, foi fundador e dirigiu a Associação Francana de Ensino e foi diretor, conselheiro e membro da comissão de obras da Associação Atlética Francana. Seu dinamismo, pró-atividade e filantropia ficaram na memória de sua filha. “Papai sempre foi muito alegre. Exercia várias atividades ao mesmo tempo. Foi um dos fundadores da Lasep, sempre ajudou a Francana. Ele organizava todos os anos a corrida de São Silvestre na Praça Nossa Senhora da Conceição e era ele quem dava o tiro de largada.”
Pucci morreu aos 68 anos no dia 2 de setembro de 1965, na cidade de Ribeirão Preto, onde estava internado. Na época de sua morte, era proprietário da Livraria do Comércio, da Cartográfica Pucci, da Caixotaria Brasil e da Calçados Rical, negócios esses assumidos por seus filhos Clóvis e Élvio. A manchete principal do Comércio da Franca do dia 3 de setembro destacava sua morte, que também era tema da Objetiva. Ele foi lembrado como um homem idealista e dedicado, apaixonado por seu jornal. “Foi o Comércio a menina de seus olhos, a sua particular afeição, pois que nele corporificava a trincheira dos ideais mais nobres na nacionalidade e a defesa intransigente dos interesses de nossa comunidade” diz a homenagem.
Nesta mesma edição, várias entidades manifestam seu pesar pelo falecimento de “um dos mais prestantes cidadãos da Franca”, como a Lasep, a Santa Casa e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Franca. Seu corpo foi velado no recinto da Câmara Municipal e seguiu em grande cortejo para ser enterrado no Cemitério da saudade.
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