Galinhada, uma tradição


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Peguei aquele fiozinho ensaboado de memória para tentar me lembrar de qualquer coisa relacionada. Eu já tinha ouvido falar, talvez minha mãe fizera algum comentário, mas de concreto nada - estava lá, por detrás das primeiras névoas da infância, mas não conseguia recordar a tradição paulista de se roubar galinha na Sexta-Feira Santa para fazer galinhada. Saí perguntando aos familiares; meu marido disse que uma vez, na faculdade, ele e os amigos se utilizaram de tal expediente, o que não conta, porque universitário faz coleção de motivos para andar “fora da lei”. 
 
Mas o fato é que, como quase todas as graças caipiras da vida, essa é mais uma de nossas tradições que simplesmente caiu em desuso, não que larápios estejam em falta, mas as galinhas é que estão. Isso eu me lembro perfeitamente: não havia quintal sem galinha, couve e cebolinha. Logo, praticar o delito era só questão de fé. 
 
Aliás, a fé no Cristo vivo é que justifica o roubo, pois na sexta-feira, com o Cristo morto, sem ainda ressuscitar, o delito de furto não seria visto, logo, não haveria pecado a ser purgado. Vejam, só pode ser: a época da Inocência. Não posso alcançar a magnitude dos delitos que seriam praticados, caso essa história fosse hoje! 
 
Mas esse roubo, ainda que irritante para quem cria, raramente acaba na polícia, em boletim de ocorrência, porque normalmente a galinha era roubada - ou ainda o é -, de amigos ou vizinhos. E afinal o roubo da galinha, se é para manter a tradição, é só para fazer galinhada de madrugada no fogão à lenha para acompanhar uma boa bebedeira do Sábado de Aleluia. Diz-se que a tradição é paulista, do interior, embora tenha se alastrado também para Minas e Goiás, sei até de Manaus.
 
A colunista Neide Rigo também tem dúvidas, mas podemos dizer que a legítima galinhada é feita na banha de porco e leva colorau, cheiro verde, alho e cebola como temperos. E é imprescindível que o arroz cozinhe no caldo do frango. Acho que isso é inegociável para nós do interior de São Paulo: se alguém nos convida a comer uma galinhada, certamente o frango estará misturado ao arroz, há bastante caldo e ele é a-ma-re-lo. 
 
Outra dica é do Ocílio, proprietário do mais autêntico restaurante de comida tropeira e com fama do melhor frango caipira da região. Ele diz que, para a cor, o melhor são açúcar e urucum. Para a limpeza e maciez da carne, deve- se esfoliar a ave com fubá antes de refogar.
 
Galinhada chique quem servia era o Atala, no restaurante Dalva e Dito, mas lá os pedaços de frango vinham separados do arroz, deve ser para as pessoas escolherem os pedaços sem fuçar no arroz. Também não era coisa, digamos assim, “entre amigos”: o buffet de galinhada, em clima de balada, custava R$ 60 por pessoa. 
 
 
DICA DA SEMANA
 
Chocolate quente
 
Mal esfriou e já deu vontade de falar de algo assim, mais quentinho. Coisa bem simples de se fazer é um chocolate quente, no entanto a maioria das receitas acaba engordando demais a bebida, além de deixar com um doce terrivelmente doce.
 
É só ter um pouquinho de paciência para fazer um chocolate quase igual aos europeus, usando leite e cacau e pouco açúcar.
 
Você vai precisar de chocolate em pó 50% de cacau - pode ser aquele do padre, só que na versão 50%! A proporção é a seguinte: ½ litro de leite, 100 gr. de açúcar e 100 gr. de chocolate em pó.
 
O segredo é ferver o leite primeiro com o açúcar e só depois colocar o cacau e aí fogo bem baixo, mexendo sempre. Ele vai engrossar muito, o ponto é você que decide. E para finalizar pode-se colocar chantilly ao final.

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