O calo que se formou no antebraço se tornou uma lembrança carinhosa dos tempos em que o sustento da família era conquistado à beira do fogão, onde a massa de seus salgados chegava ao ponto certo pela força braçal. “Nunca mandei tirar (o calo). Ele fica exatamente onde apoiava a colher de pau no tempo em que eu mesma cozinhava e não tinha máquinas”, conta a empresária Dalva Helena Barbosa Ribeiro, idealizadora da marca Dalva Salgados. Em 30 anos de atuação, a receita herdada da sogra passou de uma produção mensal de 4 mil salgadinhos para cerca de 400 mil. Dalva produz mais de 20 variedades de salgados, entre coxinhas, espetinhos de frango, risoles, bolinhas de queijo, croquetes, esfirras e afins. “O segredo do sucesso está na persistência e em gostar daquilo que se está fazendo”, afirma.
A história de Dalva começa na cozinha de Dorci Ribeiro, sogra que a acolheu como filha ainda na sua adolescência. “Me casei aos 17 anos e ela nos levou para morar com ela”, lembra. Dorci era salgadeira e foi ensinando a Dalva suas receitas. “Com o passar dos anos ela adoeceu e, quando fiz 25 anos, ela morreu.” A partir do adeus, Dalva assumiu o posto de matriarca e seguiu cuidando dos filhos, marido e cunhados na antiga casa por mais três anos. “Aos 28 anos decidi que precisávamos ter nossa própria casa. Nos mudamos com um jogo de quarto, cama das crianças e um fogão.” A guinada veio de forma inesperada. Ouvinte e fã dos programas do radialista Valdes Rodrigues, Dalva alugou um telefone e decidiu participar das brincadeiras do programa. Conversava ao vivo assiduamente com Valdes e, numa das vezes, contou que era salgadeira. De cortesia, oferecia salgados como brindes nos programas e passou a ficar conhecida. “Me chamavam de ‘a Dalva do Valdes’. Começou a chover encomenda.”
Com o aumento inesperado da demanda e a falta de estrutura, Dalva recorreu à ajuda de amigos que até hoje seguem a seu lado. “Não tinha condições de ter um freezer na época então pedia ao dono de um açougue vizinho para guardar minha produção. Além disso, ele me vendia carne fiado”, lembrou, aos risos. “Hoje ele é meu fornecedor. Mesmo tendo vendido o açougue, só compro carne onde ele trabalha. Não abandono meus amigos.”
Evolução
O passar do tempo e a luta diária foram dispensando a ajuda dos amigos e o que era uma produção manual passou a contar com máquinas e funcionários. “Houve uma época em que montei um bufê, tocava um restaurante e lanchonete além da fábrica de salgados. O bufê fez muito sucesso ganhando até mesmo a festa Top of Mind de 2008 (hoje Top Franca, realizada pelo GCN), mas vi que tudo o que é demais cansa e o meu corpo cansou. Optei então por tocar adiante nosso carro chefe e focamos nos salgados.”
Mesmo com 15 funcionários e a direção dos negócios conduzida por seus filhos, Dalva não consegue se desligar da rotina mantida há décadas. Para ela, manter-se ativa é vital. “Tenho clientes que fizeram salgados comigo no próprio casamento e hoje me contratam para o aniversário dos netos. Isso é tão parte da minha vida que não vivo sem isso aqui”, disse Dalva, que abastece 70% dos bufês em Franca e região.
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