“Na paz do Senhor descanse, Jaiminho, para dar luz e glória à vida de seus pais.” Após morrer no dia do seu aniversário, com apenas quatro anos, em 1959, Jaime Corona Filho fez muito mais do que está descrito em seu epitáfio. Jaiminho, como é chamado, é uma das “almas milagrosas” que estão sepultadas no cemitério da Saudade, e que seriam responsáveis por diversas graças à população de Franca. Os pedidos atendidos são representados geralmente por uma pequena placa pregada nos túmulos dos “milagrosos” com os dizeres “Por uma graça alcançada”. Hoje, no Dia de Finados, a sepultura do menino e de “almas” como a de Maria Conceição de Barros devem ser uma das mais visitadas.
A pioneira
De acordo com o historiador, a tradição de rezar e pedir graças para os mortos começou com Maria Conceição Leite de Barros, que fazia parte de uma família nobre de São Paulo. Quanto tinha entre 18 e 19 anos, ela engravidou de um jovem francano. “Ela era profundamente apaixonada por ele e, quando estava grávida de cinco meses, morreu. Não houve uma investigação policial, mas a crença popular é que foi assassinada na zona rural de Franca”, diz o historiador Beto Monteiro.
O historiador afirma que, embora em sua lápide uma placa informar que sua morte aconteceu em 1928, Maria morreu no dia 21 de janeiro de 1929. “O primeiro pedido por uma graça aconteceu em 1932. Depois, a prática começou a se propagar. As mulheres que estão com algum problema amoroso recorrem a ela”, explica Beto.
O misterioso
De uma a duas décadas após a morte de Maria Conceição, a Igreja Católica construiu um túmulo sem corpos no cemitério, de acordo com Monteiro. Em sua extensão, apenas uma inscrição misteriosa: “Homenagem às 13 Almas Milagrosas”. “Essas 13 almas se referem às 13 pessoas que realizam milagres e que estão espalhadas no cemitério da Saudade”, diz Monteiro. Na manhã de ontem, o motorista Valentino Faleiros, 74, era um dos que estavam rezando junto ao monumento. “Venho todo dia ao cemitério para agradecer as graças recebidas”, afirmou.
O mais procurado
Jaime Corona Filho nasceu em 26 de setembro de 1954 e morreu exatamente quatro anos depois, em 26 de setembro de 1959. A manicure Elisa Corona Dutra, 33, é uma prima distante do menino, mas conhece a sua história. “Ele estava brincando no fundo do seu quintal quando foi picado por um escorpião e morreu. Por ele ser uma criança inocente, um anjinho, muitas pessoas pedem graças para ele. Os pais dele ainda são vivos, moram em Ribeirão Preto, e fazem questão de visitá-lo até hoje”, explica. Até ontem, havia 55 placas de graças alcançadas no seu túmulo.
Monteiro explica que o túmulo do menino é procurado por pais quando seus filhos estão doentes. A própria Elisa já recorreu ao primo para pedir saúde aos seus filhos. Há 13 anos, um pedido atendido seu também fez com que ela colocasse uma placa no túmulo de Jaiminho (que, por não ter sido chumbada, acabou sendo furtada): ela era apaixonada por um rapaz chamado Messias e, um ano após rezar para Jaiminho, ela se casou com ele.

Na entrada do cemitério, existe um túmulo (sem corpos) em homenagem às 13 almas milagrosas


Maria Conceição de Barros 'ajuda' em casos amorosos: a primeira 'milagrosa'
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